Portador de doença
autoimune com Covid-19 deve suspender medicação
Paradoxalmente, doenças desse tipo causam
maior atividade do sistema imune, mas poderiam aumentar gravidade em casos de
infecção, como a pelo novo coronavírus
Por Adriano Justino 23/03/2020 11:05
Artrite reumatoide, espondilite
anquilosante e lúpus eritematoso sistêmico são algumas das doenças chamadas
autoimunes, patologias que carregam, em si, um paradoxo: devido a alterações no
sistema imunológico (que defende o organismo de infecções), a imunidade fica
mais ativa e desregulada. Isso gera um processo inflamatório, que torna o corpo
mais frágil diante de infecções.
Em vez de gerar anticorpos para se
defender contra organismos estranhos (vírus e bactérias), as pessoas com essas
condições criam autoanticorpos, que agridem o próprio organismo. Some-se a isso
as medicações usadas nessas doenças, como imunossupressores e imunobiológicos,
que também causam alterações, e as dúvidas aparecem:
Esses pacientes estariam mais suscetíveis à infecção pelo novo
coronavírus e às complicações graves da doença?
Segundo o reumatologista Eduardo
Paiva, diretor científico da Sociedade Brasileira de Reumatologia, esta
resposta ainda não existe, porque mesmo em países com muitos casos da Covid-19
não parece haver um número diferente de portadores de doenças reumáticas
infectados. "Porém, como muitos deles usam medicações imunossupressoras,
por enquanto assumimos que sim, eles têm mais risco, mas isso não é
comprovado", diz, assinalando que esse risco depende ainda do grau de
imunossupressão individual, que vai de leve a intenso.
Potencialmente, os pacientes com
doenças reumáticas seriam mais suscetíveis a quadros mais graves,
principalmente pela desregulação do sistema imunológico, diz Carolina Müller,
diretora científica da Sociedade Paranaense de Reumatologia. "Como a
medicação usada para as doenças autoimunes reduz defesas frente a infecções
externas, então há essa suscetibilidade, embora até o momento seus portadores
não tenham sido relatados como grupo de risco. Será necessária uma melhor
avaliação dos casos para uma orientação mais precisa", explica.
Interrupção do remédio
Segundo Paiva, não há informação
suficiente para afirmar nem mesmo se o uso de medicamentos imunossupressores
favoreça a multiplicação viral no caso de já infectados pela Covid-19.
"Assim ocorre porque a lesão que esse vírus faz é composta da ação dele no
tecido e, muitas vezes, do excesso de inflamação gerada pelo corpo. Ocorre que
até alguns remédios imunossupressores estão sendo usados em casos graves, de
maneira ainda inicial, para reduzir esta inflamação exagerada do corpo e
diminuir a lesão pelo novo coronavírus", diz ele.
Entretanto, explica Carolina
Müller, um paciente com suspeita do novo coronavírus, ou que tenha a infecção
confirmada, tem a orientação de interromper o uso de medicação imunossupressora
e imunobiológica, mas isso deve ser acompanhado pelo médico. "Diante da
infecção ativa (incluindo Covid-19), a imunossupressão será sempre
retirada", diz Paiva.
Doenças que mais usam remédios
Entre as doenças reumáticas que
mais exigem o uso de imunossupressores estão:
Artrite reumatoide;
Espondiloartrites como a espondilite anquilosante e a artrite
psoriásica;
Lúpus eritematoso sistêmico;
Vasculites.
"A função das medicações
imunossupressoras é controlar a inflamação, preservar a função das articulações
e, em alguns casos, tratar a inflamação de órgãos internos, como os rins",
diz o reumatologista Eduardo Paiva.
Menos corticoides
Recentemente, a Sociedade
Brasileira de Reumatologia (SBR) recomendou também a pacientes que usem
corticosteroides em doses acima de 20 mg/dia, que reduzam a dose o máximo
possível, de maneira gradual e sob orientação médica. "Doses de
corticoides acima de 20mg/dia são consideradas imunossupressoras, por
diminuírem a atividade do sitema imunológico. Dessa forma, diminuem também a
resposta a processos infecciosos, e acabam tornando o indivíduo mais suscetível
a infecções", diz Carolina.
Segundo os especialistas, essa
indicação de redução gradativa pela SBR acontece porque os corticosteroides não
podem ser parados subitamente, pois pode haver reativação da doença e, em
alguns casos, disfunção da glândula adrenal.
"A recidiva da doença
autoimune pode levar a uma piora do quadro clínico geral, aumentando também o
risco de infecção", diz Paiva, que afirma que a substituição por outra
medicação depende de uma avaliação caso a caso.
Interromper não protege
Segundo Paiva, não há, até o
momento, evidência de que interromper o imunossupressor tenha qualquer efeito
protetor contra a Covid-19, mesmo em pacientes idosos, tabagistas ou com algum
tipo de comorbidade (doença intersticial pulmonar, diabete, hepatite B, DPOC,
doença renal crônica e neoplasias).
Pacientes em imunossupressão
também não devem ser sempre testados para o coronavírus. A testagem deve ser
feita nos casos suspeitos de infecção pelo vírus, de acordo com as
recomendações do Ministério da Saúde ou secretarias de saúde. "Na condição
em que estamos hoje, o teste é reservado a pacientes suspeitos de infecção e
que apresentam quadros clínicos graves. Então, pacientes em imunossupressão não
devem ser sempre testados para o vírus", diz Carolina.
Outras doenças
As medicações para osteoporose,
osteoartrite (artrose), gota e fibromialgia não aumentam o risco de contrair a
Covid-19 e portadores dessas doenças não estão incluídos no grupo de risco.
"No entanto, se esse paciente for idoso ou com outras doenças associadas
como problemas pulmonares, diabete ou hipertensão, poderá ser incluído no grupo
de risco", diz ela.
Caso contraia o vírus, ainda não
há a informação de que a doença autoimune possa piorar, pois não há muitos
relatos, até o momento, de pacientes com doença reumática que tenham adquirido
o novo coronavírus.
Fonte e Foto: https://www.semprefamilia.com.br/saude/portador-de-doenca-autoimune-com-covid-19-deve-suspender-medicacao/
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