Quais as medidas de precaução para cada tipo de transmissão possível do
coronavírus?
Com a ameaça da introdução do coronavírus no país, é importante estar atento para que
as adequadas medidas protetivas sejam tomadas. Além da identificação dos casos
suspeitos, a adesão às precauções respiratória e de contato são essenciais para
evitar o contágio.
Precauções
durante o surto de coronavírus
Precaução
por gotículas
A precaução respiratória por gotículas visa a
proteger contra agentes que possuem transmissão aérea por gotículas, geradas
com a fala, tosse, espirro ou procedimentos que manipulem vias aéreas. As
gotículas depositam-se em superfícies e não alcançam grandes distâncias.
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde e o
Ministério da Saúde recomendam que casos suspeitos e confirmados de infecção
pelo 2019-nCoV sejam colocados em precaução por gotículas. Outros exemplos de
doenças que exigem precaução de gotículas incluem meningite meningocócica (nas
primeiras 24h de antibioticoterapia), caxumba e rubéola.
Idealmente, pacientes em
precaução por gotículas devem ser colocados em quartos privativos. Em
cenários em que isso não é possível, o fato de as gotículas terem dispersão
limitada permite que os pacientes sejam colocados em enfermarias coletivas,
desde que haja uma distância de pelo menos 1 metro entre os leitos.
O elemento diferencial da
precaução por gotículas é o uso de máscara cirúrgica pelo
profissional de saúde que presta assistência ao paciente. Para correta
proteção, o profissional deve observar se a máscara está bem ajustada em seu
rosto. Além disso, fatores como umidade diminuem a eficácia da máscara como
barreira, o que faz com que sua troca seja frequentemente necessária. Lembrando
sempre que máscaras cirúrgicas são descartáveis e de uso único, devendo ser
jogadas no lixo após o atendimento do paciente.
Em caso de risco de contato com
respingos e secreções, deve-se usar também óculos de proteção ou protetor de face, capote –
impermeável se houver risco de contato com secreções em grande quantidade – e luvas de procedimento.
Precaução por aerossóis
Os aerossóis são partículas menores do que as
gotículas, capazes de permanecer em suspensão no ar por períodos prolongados.
Dessa forma, necessitam de medidas de proteção diferenciadas. Exemplos de
doenças com transmissão por aerossol são tuberculose, sarampo e varicela.
Pacientes em precaução por
aerossóis devem permanecer em leitos de isolamento respiratório com filtros HEPA,
que devem ficar ligados continuamente, e pressão negativa. Quando isso não é
possível, uma alternativa é a internação em quartos privativos com em que há
possibilidade de manter as janelas abertas. Em ambos os casos, o objetivo é que
a circulação de ar do quarto se dê para o exterior da unidade de saúde. As
portas devem permanecer fechadas e as portas da antessala e do quarto não devem
permanecer abertas ao mesmo tempo.
Um detalhe importante é que, após
a saída do paciente do quarto, o filtro deve ficar ligado e os profissionais
devem continuar usando máscara N95 para entrar no quarto por um
período de tempo que varia conforme a capacidade do filtro HEPA.
Outro
diferencial é o uso de máscara. Na precaução por aerossóis, o profissional deve
usar máscaras do tipo N95 (PFF2 pela nomenclatura da Anvisa) quando entrar no
quarto do paciente. O mesmo deve ser observado por outros trabalhadores do
hospital – como copeiros, técnicos de radiologia e laboratório ou profissionais
da limpeza – e acompanhantes. O paciente deve utilizar máscara cirúrgica nas
situações em que estiver indicada, não precisando permanecer de máscara dentro
do quarto.
Na maior parte das ocasiões, a máscara N95 é
reutilizável, mantendo sua eficácia por cerca de 3 meses se bem conservada.
Para que isso seja factível, não pode apresentar dobras e ficar bem acoplada ao
rosto de quem a usa.
Umidade, maquiagem e marcas na
trama da máscara (incluindo escrever o nome) diminuem a eficácia e a vida útil
da N95. Recomenda-se que sejam guardadas em sacos de papel. Para o 2019-nCov,
os guidelines que
abordam essa questão recomendam uso único mesmo da máscara N95.
Precaução por contato
Pacientes com doenças com transmissão por
contato, seja de forma direta com a superfície corporal do paciente, seja de
forma indireta por meio de contato com objetos e superfícies.
Para o 2019-nCoV, além das precauções
respiratórias, recomenda-se precaução de contato para todos os casos suspeitos
e confirmados. Também deve ser aplicada em pacientes com infecção ou
colonização por microrganismos multirresistentes – de acordo com as políticas
da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar local – ou em casos de escabiose
e pediculose.
Os equipamentos de proteção
individual (EPIs) mais importantes na precaução de contato são capote e luvas.
O capote não precisa ser necessariamente descartável, desde que seja colocado e
retirado de forma correta. Máscaras e óculos de proteção devem ser
utilizados conforme as recomendações de precaução padrão. Os equipamentos para
exame clínico, como esfigmomanômetro, estetoscópio ou termômetros, devem ser de
uso individual, não devendo ser usados em outros pacientes.
Além do uso de EPIs, um elemento
essencial para o sucesso da aplicação das medidas de precaução é a higienização das mãos.
O uso de preparações alcoólicas já se mostrou ao de água e sabão, exceto em
caso de presença de sujidade visível e de infecções por Clostridioides difficile (antigo Clostridium difficile).
Adornos como anéis, pulseiras e relógios e mangas longas de jaleco que cobrem
os punhos tornam mais difícil a adequada higienização das mãos e devem ser
evitados.
A higienização das mãos deve ser aplicada nos
5 momentos: antes do contato com o paciente, antes da realização de
procedimentos assépticos, após o risco de exposição a fluidos corporais, após o
contato com o paciente e após o contato com áreas próximas ao paciente.
Mensagens práticas
Em resumo:
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Precaução por gotículas: profissional usa máscara cirúrgica, que deve ser de uso
único. Cuidado com a umidade. Se necessário, pacientes podem ficar em
enfermarias coletivas, desde que com distância de 1 metro entre os leitos.
·
Precaução por aerossóis: profissional usa máscara N95. Internação em leito de
isolamento com filtro HEPA e pressão negativa. Atenção para o ajuste no rosto e
para a correta conservação das máscaras.
·
Evitar transportar pacientes em
precaução respiratória. Se o transporte for
necessário, tanto na precaução por gotículas quanto na por aerossóis, o
paciente deve utilizar máscara cirúrgica durante todo o tempo. Dentro do
quarto, o paciente não precisa ficar de máscara.
·
Quartos de isolamento: portas sempre fechadas. Se com filtro HEPA, as janelas
permanecem fechadas. Se sem filtro HEPA, as janelas permanecem abertas. Após a
saída do paciente, permanecer com o filtro ligado e respeitar o tempo em que
deve continuar usando N95.
·
Higienização das mãos: essencial em todos os tipos de precaução (e nos pacientes
que não estão em precaução). Preparações alcoólicas são mais eficazes na maior
parte das ocasiões. Respeitar os 5 momentos para higienização. Retirar adornos
e dobrar as mangas do jaleco.
Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ)
⦁ Graduação em
Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro
Referências bibliográficas:
·
Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS). Precauções para coronavírus. Cartaz A4. Disponível em <http://www.riocomsaude.com.br/Publico/MostrarArquivo.aspx?C=HV%2B7ovxpgIE%3D>
·
Anvisa. Cartaz Precauções Contato.
Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/precaucoes_contato.pdf>
·
Anvisa. Cartaz Precauções Aerossois.
Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/precaucoes_aerossois.pdf>
·
Anvisa. Cartaz Precauções Gotículas.
Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/precaucoes_goticulas.pdf>
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