Delírio e insônia conectam esquizofrenia a Parkinson
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
da Folha de S.Paulo
Um grupo de neurocientistas liderados pelo brasileiro Miguel Nicolelis anuncia hoje a descoberta de um mecanismo cerebral de regulação do sono que pode ajudar a explicar a esquizofrenia e o mal de Parkinson.
Segundo os pesquisadores, essas duas doenças sem relação aparente são, na verdade, lados diferentes da mesma moeda. Ambas estão ligadas à distribuição cerebral de dopamina, uma das moléculas usadas para transmissão de informação entre as células do cérebro.
Em experimentos com camundongos geneticamente modificados, o grupo de Nicolelis na Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), mostrou que animais com excesso de dopamina numa estrutura cerebral chamada hipocampo sofrem alucinações como se estivessem "sonhando acordados".
Quando o neurotransmissor está em falta no cérebro, por outro lado, os roedores ficam incapazes de dormir direito e adquirem problemas motores.
Ao analisar a atividade cerebral dos animais no experimento, Nicolelis descobriu que esses dois estados se encaixavam de maneira cômoda nos modelos experimentais para estudar as alucinações dos esquizofrênicos e os problemas de sono enfrentados por pacientes de Parkinson.
"Ninguém tinha ainda apontado a dopamina como um neurotransmissor fundamental para gênese de sono", disse Nicolelis à Folha. "Isso explica por que pacientes de Parkinson, que perdem dopamina, têm distúrbios de sono tão importantes." Como os problemas para dormir aparecem nos parkinsonianos antes dos distúrbios motores --rigidez, tremor, etc.--, pode ser possível criar um diagnóstico precoce.
"Tentamos ver agora se é possível prever, por meio da qualidade de sono, se uma pessoa vai ter Parkinson alguns anos à frente", diz o pesquisador. Ele assina um estudo na edição de hoje da revista "Journal of Neuroscience" sobre a descoberta. Um outro estudo, que deve sair na semana que vem, propõe uma explicação sobre por que a falta de dopamina afeta a atividade cerebral da maneira observada.
Para saber se isso será mesmo possível, os pesquisadores já começaram usar eletrodos para investigar o mesmo mecanismo em humanos portadores de Parkinson. Isso só é possível porque pacientes terminais da doença têm mesmo de passar por cirurgias invasivas, e alguns permitem aos cientistas medir sua atividade elétrica cerebral durante a operação.
Se a explicação do problema de sono em pacientes de Parkinson já está praticamente provada, o mesmo não se pode dizer da ligação que o pesquisador procura estabelecer entre sonho e esquizofrenia.
Sonhando acordado
"Isso é a sugestão de uma teoria", diz. "O excesso de dopamina é considerado um dos melhores modelos de alucinação em psicose, mas a esquizofrenia tem mais do que isso envolvido." De acordo com a hipótese de Nicolelis, as alucinações ocorreriam nos esquizofrênicos porque a dopamina em excesso induz um estado de sono durante a vigília. "É mais ou menos como se eles estivessem mesmo sonhando acordados."
Como não é possível usar eletrodos para estudar o cérebro de humanos esquizofrênicos, Nicolelis pretende aprimorar o modelo animal de pesquisa. É uma tarefa difícil porque camundongos não podem, por exemplo, relatar ao pesquisador que estão ouvindo vozes, sintoma clássico do distúrbio.
Os pesquisadores, porém, desenvolveram lá seus meios de tentar contornar o problema. "Estamos estudando o córtex auditivo [parte do cérebro que processa sons] para ver se ele está sendo ativado antes de o animal ouvir algo", diz. Isso seria um sinal de alucinação auditiva, afirma Nicolelis.
Segundo os pesquisadores, essas duas doenças sem relação aparente são, na verdade, lados diferentes da mesma moeda. Ambas estão ligadas à distribuição cerebral de dopamina, uma das moléculas usadas para transmissão de informação entre as células do cérebro.
Em experimentos com camundongos geneticamente modificados, o grupo de Nicolelis na Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), mostrou que animais com excesso de dopamina numa estrutura cerebral chamada hipocampo sofrem alucinações como se estivessem "sonhando acordados".
Quando o neurotransmissor está em falta no cérebro, por outro lado, os roedores ficam incapazes de dormir direito e adquirem problemas motores.
Ao analisar a atividade cerebral dos animais no experimento, Nicolelis descobriu que esses dois estados se encaixavam de maneira cômoda nos modelos experimentais para estudar as alucinações dos esquizofrênicos e os problemas de sono enfrentados por pacientes de Parkinson.
"Ninguém tinha ainda apontado a dopamina como um neurotransmissor fundamental para gênese de sono", disse Nicolelis à Folha. "Isso explica por que pacientes de Parkinson, que perdem dopamina, têm distúrbios de sono tão importantes." Como os problemas para dormir aparecem nos parkinsonianos antes dos distúrbios motores --rigidez, tremor, etc.--, pode ser possível criar um diagnóstico precoce.
"Tentamos ver agora se é possível prever, por meio da qualidade de sono, se uma pessoa vai ter Parkinson alguns anos à frente", diz o pesquisador. Ele assina um estudo na edição de hoje da revista "Journal of Neuroscience" sobre a descoberta. Um outro estudo, que deve sair na semana que vem, propõe uma explicação sobre por que a falta de dopamina afeta a atividade cerebral da maneira observada.
Para saber se isso será mesmo possível, os pesquisadores já começaram usar eletrodos para investigar o mesmo mecanismo em humanos portadores de Parkinson. Isso só é possível porque pacientes terminais da doença têm mesmo de passar por cirurgias invasivas, e alguns permitem aos cientistas medir sua atividade elétrica cerebral durante a operação.
Se a explicação do problema de sono em pacientes de Parkinson já está praticamente provada, o mesmo não se pode dizer da ligação que o pesquisador procura estabelecer entre sonho e esquizofrenia.
Sonhando acordado
"Isso é a sugestão de uma teoria", diz. "O excesso de dopamina é considerado um dos melhores modelos de alucinação em psicose, mas a esquizofrenia tem mais do que isso envolvido." De acordo com a hipótese de Nicolelis, as alucinações ocorreriam nos esquizofrênicos porque a dopamina em excesso induz um estado de sono durante a vigília. "É mais ou menos como se eles estivessem mesmo sonhando acordados."
Como não é possível usar eletrodos para estudar o cérebro de humanos esquizofrênicos, Nicolelis pretende aprimorar o modelo animal de pesquisa. É uma tarefa difícil porque camundongos não podem, por exemplo, relatar ao pesquisador que estão ouvindo vozes, sintoma clássico do distúrbio.
Os pesquisadores, porém, desenvolveram lá seus meios de tentar contornar o problema. "Estamos estudando o córtex auditivo [parte do cérebro que processa sons] para ver se ele está sendo ativado antes de o animal ouvir algo", diz. Isso seria um sinal de alucinação auditiva, afirma Nicolelis.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15336.shtml
Foto: Google
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