Noradrenalina pode ser substituída por adrenalina em casos de choque, parada cardíaca e hipotensão aguda?
Resposta
O choque é uma síndrome clínica caracterizada por perfusão inadequada dos tecidos. Em geral, está associado à hipotensão, e, por fim, a uma falência dos sistemas orgânicos. O tratamento de pacientes em choque envolve medidas específicas para corrigir a causa subjacente (o choque pode ter origem hipovolêmica, cardiogênica ou vasodilatadora) e medidas inespecíficas visando à restauração de parâmetros hemodinâmicos anormais (Brunton LL, Lazo JS, Parker KL, 2006).
Noradrenalina e adrenalina apresentam ação simpaticomimética direta (FTN, 2010) e possuem farmacocinética idêntica (Fuchs & Wannmacher, 2010). Suas ações diferem principalmente na eficácia da estimulação dos receptores α e β2 (Brunton LL, Lazo JS, Parker KL, 2006).
São aproximadamente equipotentes na estimulação de receptores β1. A noradrenalina é potente agonista α e exerce relativamente pouca ação sobre receptores β2, no entanto, é ligeiramente menos potente que adrenalina sobre receptores α, na maioria dos órgãos (Brunton LL, Lazo JS, Parker KL, 2006).
A atividade alfa-agonista adrenérgica da noradrenalina induz vasoconstrição periférica, o que aumenta a pressão arterial sistólica e diastólica, acompanhada da diminuição reflexa da frequência cardíaca. Pode ser utilizada em situações de emergência de hipotensão, como o choque, bem como na parada cardíaca (FTN, 2010).
A adrenalina possui efeito do tipo dose-resposta e incluem: aumento da velocidade e força da contração cardíaca (baixas doses aumentam a pressão sistólica e reduzem a pressão diastólica e a resistência periférica, enquanto altas doses aumentam a pressão sistólica e diastólica e a resistência periférica); aumento da circulação sanguínea em músculos esqueléticos (que é reduzida em altas doses); redução da circulação sanguínea nos rins, mucosa e pele; relaxamento da musculatura lisa brônquica; hiperglicemia e maior consumo de oxigênio pelos seus efeitos metabólicos. É indispensável em pacientes com anafilaxia e choque anafilático (FTN, 2010).
Hipotensão
Devido às mudanças que adrenalina pode causar no metabolismo da glicose e lactato, não deve ser usada como primeira escolha no controle da hipotensão em neonatos propensos às disfunções metabólicas (Rename, 2010).
Em pacientes submetidos à anestesia espinhal, adrenalina aumenta a frequência cardíaca e a resistência vascular periférica; pode ocorrer taquifilaxia com injeções repetidas, exigindo o uso de um agente de ação direta (Brunton LL, Lazo JS, Parker KL, 2006).
Choque séptico
As anormalidades hemodinâmicas no choque séptico são complexas e ainda não foram completamente elucidadas. O tratamento primário consiste em antibióticos, dados com valor comparativo entre agentes adrenérgicos para essa terapia são limitados (Brunton LL, Lazo JS, Parker KL, 2006). Parecer da Rename 2010 recomenda noradrenalina como primeira escolha em pacientes neonatos com sepse e acidose metabólica (FTN, 2010).
Choque cardiogênico
Várias aminas simpaticomiméticas podem ser utilizadas para aumentar a força de contração do coração, sendo que alguns fármacos apresentam desvantagens. A noradrenalina intensifica a vasoconstrição periférica e a adrenalina aumenta a frequência, podendo predispor o coração a arritmias perigosas. A dopamina é um agente inotrópico efetivo (Brunton LL, Lazo JS, Parker KL, 2006).
Choque anafilático
Adrenalina é indicada no manejo de reações alérgicas agudas sendo indispensável em pacientes com anafilaxia e choque anafilático (FTN, 2010).
Parada Cardíaca
Adrenalina é um importante agente terapêutico em pacientes com parada cardíaca, este e outros agonistas α aumentam a pressão diastólica e melhoram o fluxo coronariano, além de ajudar a preservar o fluxo sanguíneo cerebral durante a reanimação. A dose ideal de adrenalina ainda não foi definida para estes pacientes, e, uma vez restaurado o ritmo cardíaco, pode ser necessário tratar arritmias, hipotensão ou choque (Brunton LL, Lazo JS, Parker KL, 2006).
É preciso levar em conta a causa subjacente ao estado de choque para que possa ser escolhido o fármaco mais eficaz, bem como também avaliar os parâmetros fisiológicos do paciente em estado de choque a fim de que possa ser utilizado o fármaco mais efetivo. Embora noradrenalina e adrenalina possuam ação simpaticomimética direta, há peculiaridades farmacodinâmicas diferentes entre um e outro fármaco. Em relação à solicitação de informação, a noradrenalina e adrenalina não são utilizadas de maneira indistinta para as condições clínicas elencadas no referido questionamento.
Bibliografia
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Formulário terapêutico nacional 2010: Rename 2010. 2a. edição. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos /pdf/FTN_2010.pdf.
2. Fuchs FD, Wannmacher L. Farmacologia Clínica: Fundamentos da Terapêutica Racional, 4ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
3. Brunton LL, Lazo JS, Parker, KL (Ed.).Goodman & Gilman: as bases farmacológicas da terapêutica. 11ª edição. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2007. Páginas: 224, 235 e 236.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais: Rename. 6. ed. rev. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009
Fonte: http://www.cff.org.br/pagina.php?id=570&titulo=Noradrenalina+e+adrenalina
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