HIPODERMÓCLISE OU VIA SUBCUTÂNEA
Maria O. D'Aquino1
Rogério Marques de Souza2
1. Enfermeira do Núcleo de Cuidados Paliativos do HUPE; Especialista em Enfermagem do Trabalho Fac. de Enf. Luiza de Marilac; Especialista em Enfermagem Intensivista - UERJ.
2. Enfermeiro Coordenador de Enfermagem Hupe/UERJ Professor da Universidade Veiga de Almeida Especialista em Admnistração dos Serviços de Saúde UERJ - 1999.
Maria O. D'Aquino
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Telefones:(21)3027-5194, (21)2215-6875
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Resumo
O presente trabalho tem como objetivo trazer informação técnico-científica sobre a via de escolha no Núcleo de Cuidados Paliativos no Ambulatório-HUPE/UERJ. Visa ainda sistematizar a assistência de enfermagem neste procedimento, busca trazer qualidade no cuidado ao paciente além de segurança técnica ao profissional. O paciente portador de Câncer em estágio avançado, apresenta acesso venoso prejudicado devido às condições clínicas (caquexia, desidratação) e a terapia com agentes esclerosantes. Hipodermóclise é a via alternativa em pacientes que necessitam de suporte clínico para reposição de fluidos, medicamentos e eletrólitos, tanto a nível hospitalar, ambulatorial, quanto no atendimento domiciliar pelo cuidador quando devidamente orientado.
Descritores: Cuidados Paliativos; Enfermagem; Hipodermóclise.
Abstract
This paper: Hipodermóclise / Subcutaneous Therapy aims to bring scientific and technical information about the route of choice in the Center for Palliative Care in Ambulatório-HUPE/UERJ.
Systematize nursing care in this procedure, seeks to bring quality in patient care and safety to the technical professional.
The patient with late-stage cancer, has impaired venous access due to clinical conditions (caquexia, dehydration) and therapy with sclerosing agents.
Hipodermóclise is the alternative pathway in patients who require clinical support to replenish fluids, electrolytes and drugs, both in hospital, outpatient, home care for the caregiver when properly oriented.
Keywords: Paliative Care; Nursing; Subcutaneous Infusion.
INTRODUÇÃO
Russel descreveu em 1979 um método subcutâneo na administração de morfina para pacientes com sintomas de câncer avançado. Após, vieram outros estudos corroborando a escolha da via subcutânea (s.c.) como segura e eficaz na alternativa da via oral para administração de opioides.1
Pacientes em cuidados paliativos usualmente necessitam do uso da via subcutânea por apresentarem dificuldade em receber medicamento por via oral, face à dispneia, disfagia, êmese, obstrução intestinal no câncer em estágio avançado.2
A Hipodermóclise permite o controle adequado dos sintomas clínicos e usá-la em casa pode oferecer melhor qualidade de vida ao paciente.2
Em paciente com dor crônica em estado de câncer avançado e quando não houver possibilidade de se usar a via oral ou a via periférica endovenosa, pode-se usar opioides em infusão contínua por bomba infusora em pequenos volumes e alta concentração. A maioria dos pacientes pode receber de 2 a 5ml/h do dripping de opioides por algumas horas podendo resgatar a dose anterior em bolos.3
O medicamento mais usado por esta via é a morfina devido à vida média ser curta e a concentração plasmática ser alcançada rapidamente. A administração de solução de opioides altamente concentrada no tecido celular subcutâneo por meio de bomba infusora facilita a infusão, mesmo na residência do paciente trazendo o alívio da dor.3
A metadona também é um medicamento de escolha para a via subcutânea quando usado com precaução, pode desenvolver eritema e endurecimento da região entre 12 a 48 horas depois de iniciada a infusão. Por este motivo, a infusão deve ser descontinuada.4*
FARMACOCINÉTICA:
É o que acontece com a medicação após ser administrada no organismo até o seu destino. A via subcutânea e a via intramuscular são semelhantes na farmacocinética, porém com concentrações séricas menores e tempo de ação prolongado, exercendo o efeito terapêutico esperado.5
MEDICAMENTOS COMUMENTE UTILIZADOS NA TERAPIA SUBCUTÂNEA OU HIPODERMÓCLISE
Os medicamentos de escolha têm pH próximo à neutralidade e são hidrossolúveis. São eles:
Sulfato de morfina; Brometazida; Ondansetrona; Metadona; Midazolan; Prometazina; Octreotide; Metoclopramida; Fenobarbital; Escopolamina; Dexametasona; Clorpromazina; Clonidina; Brometo de n-butil; Ranitidina; Garamicina; Tramadol.
Outros medicamentos têm sido estudados para verificar sua viabilidade no uso de subcutâneo, como demonstra a Figura 1.
Figura 1: Quadro de compatibilidade de medicamentos para administração por via subcutânea.
Fonte: INCA adaptado de Cuidados Paliativos Oncológicos - Controle de Dor - Centro de Suporte Terapêutico Oncológico - Instituto Nacional de Cancer - RJ. 2001; Compatibility of Subcutaneously Administered Drugs 2006.
MEDICAMENTOS INCOMPATÍVEIS COM A VIA SUBCUTÂNEA:
Diazepam; Diclofenaco; Eletrólitos não diluídos; Fenitoína.
INCOMPATIBILIDADE:
A incompatibilidade compromete a eficácia da medicação, então é importante a atenção para:
Soluto e solvente; Soluto e soluto; Solução e recipiente.
A incompatibilidade pode ser visível, no que diz respeito à precipitação ou alteração da cor.5
INDICAÇÃO DA HIPODERMÓCLISE
Hidratação - quando o paciente não recebe quantidade suficiente de líquido oralmente e tem o acesso venoso periférico prejudicado por substância necrosante (quimio/radioterapia); Dor -sintoma efetivamente presente em estágio avançado da doença.5,6 Vantagens:Baixo custo; Método simples, seguro e eficaz; Pode ser utilizado por pessoas que não sejam da área de saúde; Favorece a funcionalidade do paciente; Baixo índice de infecção; Pode ser usado em ambulatório, ideal para ser utilizado em casa sob supervisão; Reduza flutuação das concentração plasmática de opioides; Usada para hidratação a longo prazo.6
DESVANTAGENS
Não pode ser usado em pacientes que apresentam trombocitopenia ou problemas de coagulação; Não é a via de escolha para fazer grandes volumes; Usar somente 1ml/h até 3.000ml, sendo 1.500ml de cada lado do tórax; Possibilidade de reação local (sinais flogísticos).5,6
CONTRA INDICAÇÃO
Infusão rápida de grande volume; Desidratação severa; Distúrbio severo de eletrólitos.6
UTILIZAÇÃO DOS MEDICAMENTOS
Diluir a medicação na apresentação líquida em água para injeção. Exceção: octreotídeo, ketamina, ondansetrona, devem ser diluídos em solução salina a 0,9%.
Volume: diluir a medicação em 100%, ou seja, se a medicação tiver 1ml a diluição será para 2ml, 1ml da água para injeção e 1ml do medicamento igual ou total a 2ml.5
TÉCNICA
Pode-se utilizar o espaço intercostal e a área abaixo da região escapular e a região do abdome. Pacientes preferem estas regiões do que a área dos braços, pois podem ter os movimentos livres.O tempo de troca do sítio da inserção do cateter pode chegar até três dias, caso não haja sinais flogísticos.6
EXECUÇÃO DA TÉCNICA
Material utilizado:
Solução preparada para ser instalada (solução salina a 0,9%, medicação); Equipo de macrogotas; álcool a 70%; Luvas de procedimento; dispositivo subcutâneo 19, 23, 25 e 27; Esparadrapo para fixar e datar (se possível, usar esparadrapo ou filme transparente.
INSTALAÇÃO DA HIPODERMÓCLISE
Explicara o cliente sobre o procedimento; Lavar as mãos; Escolher o local da infusão; Fazer antissepsia e a dobra na pele; Introduzir o dispositivo subcutâneo num ângulo de 45º; Fixar o dispositivo subcutâneo; Assegurar-se de que nenhum vaso tenha sido atingido; Aplicar o medicamento ou conectar o dispositivo subcutâneo ao equipo da solução; Datar e identificar a fixação.
ESCOLHA DO SÍTIO DA PUNÇÃO
Regiões:
deltoidiana; anterior do tórax; escapular; abdominal; face lateral da coxa.1,5,6
CUIDADOS DURANTE A PERMANÊNCIA DO ACESSO
Proteger com plástico durante o banho com o objetivo de manter a área seca. Lavagem das mãos antes do manuseio do cateter (exemplo: conectar equipos com fluidos ou medicação) para prevenir infecção. Observar a área da inserção do dispositivo subcutâneo em relação a sinais flogísticos. Nos casos de sinais flogísticos usar calor (bolsa térmica para amenizar os sintomas).
EFEITOS ADVERSOS
Os riscos na hipodermóclise são mínimos quando administrados conforme a indicação. Figura 2.
Figura 2: Adaptado de Sasson, M; Shvarzman, P. Hypodermoclysis: An Alternative Infusion Techmique. Am Fam Phys, 2001 Nov;64(9);1575-8.
CONCLUSÃO:
Na prática, o uso da hipodermóclise no Núcleo de Cuidados Paliativos demonstra eficácia em diminuir sintomas de dor e desidratação. O interesse de expandir a informação sobre hipodermóclise é de que mais profissionais utilizem este acesso para assistir os pacientes em cuidados paliativos seja em hospital, ambulatório ou na residência do paciente.
REFERÊNCIAS
1. Russel P L. Analgesia in terminal malignant disease. Br Med J. 1979;(1-1561).
2. Bruera E. Alternate Routes for Home Opioid Therapy. Pain: Clin Upd. 1993 jul; V.I,n.2.
3. McCaffery, M.; Passero, C. How to choose the best. Nur. 2000 dez;30(12):34-38.
4. Trujillo Gómez CC, Montoya RM, Bruera E. Vías alternativas a la vía oral para administración sistémica de opioides en cuidados paliativos:Revisión de la literatura.Med Paliat. 2005;12(2):1-15.
5. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Terapia Subcutânea no Câncer Avançado, 2011; 29p.: il. color. (Série Cuidados Paliativos 7-29).
6. Sasson M; Shvarzman P. Hypodermoclysis: An Alternative Infusion Technique. Am Fam Phys.2001 Nov;64(9);1575-8..
Fonte: http://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=332
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