quarta-feira, 13 de agosto de 2014

DESIDRATAÇÃO/BALANÇO HÍDRICO

DESIDRATAÇÃO/BALANÇO HÍDRICO


O que é a desidratação
A desidratação resulta da eliminação de água e sais minerais do organismo e acontece quando o balanço hídrico é negativo, quando as perdas de água não são repostas.. Pode dizer-se que existe uma tendência natural para a desidratação na medida em que os rins têm que, continuamente e mesmo numa pessoa desidratada, excretar uma quantidade mínima de urina (idealmente cerca de 100 ml /hora), de modo a haver eliminação das substâncias tóxicas do organismo1. Por outro lado, estamos continuamente a libertar água pela pele e pela respiração9.

Sintomas da desidratação
A desidratação pode ser reconhecida por sintomas como:
·         A Sede
·         Desidratação Celular
·         Cansaço mental e corporal;
·         Sensação de aumento de temperatura corporal;
·         Vertigens e tonturas; Dores de cabeça;
·         Náuseas ou vómitos;
·         Alterações visuais e auditivas.
As manifestações de sede têm sido caracterizadas como uma combinação de sensações que aumentam com a desidratação e diminuem com a rehidratação, em resultado de uma complexa interacção de sistemas fisiológicos de controlo e influências comportamentais.
A sede fisiológica resulta da desidratação, sendo estimulada por mecanismos de regulação homeostática, com o objectivo de manter, dentro de intervalos relativamente estreitos, a concentração de solutos no plasma sanguíneo, assim como o volume total de plasma.
Em adultos saudáveis, parece não existir evidência que demonstre que os mecanismos homeostáticos e não homeostáticos que regulam a ingestão de líquidos, não sejam capazes de manter um estado de hidratação adequado. Contudo, como é difícil definir o estado de hidratação ideal para cada indivíduo, podemos especular se esse estado ideal será ou não atingido pela acção dos mecanismos de regulação anteriormente descritos.
As crianças e os idosos estão entre os grupos populacionais mais susceptíveis de desidratação, por isso devem ser tomadas medidas preventivas de forma a antecipar a possibilidade desta ocorrência. Exercício físico e temperatura ambiente elevada são duas condições que merecem estratégias preventivas para uma hidratação adequada.
Perdas de água corporal
Estamos continuamente a perder a água do organismo, o que vem reforçar a necessidade de uma hidratação correcta.
Existem 4 formas pelas quais perdemos água:
·         Urina – é excretada pelos rins. O principal mecanismo pelo qual o corpo mantém um equilíbrio entre a ingestão e a excreção de água é precisamente a regulação renal. O rim tem de ajustar a excreção de água e electrólitos de forma a manter o equilíbrio electrolítico9.
·         Fezes – é também uma das formas de perder água, embora seja num volume muito reduzido. Esta perda torna-se grave em caso de diarreia intensa, que pode levar a uma desidratação grave e eventual morte, se não for tratada rapidamente1
·         Perdas insensíveis – não nos apercebemos delas, acontecem através da respiração, pela libertação de vapor de água, e através da pele, por difusão. Esta última acontece mesmo na ausência de glândulas sudoríparas e é minimizada pela camada de células cutâneas e pela própria gordura da pele. Por exemplo, em queimaduras extensas, quando a camada de células da pele é destruída, a perda de água pela pele pode ascender aos 3-5 litros/ dia1.
·         Sudorese – esta perda também é variável, porque depende muito do nível de actividade física e da temperatura ambiente. Quanto mais intensa for a actividade física e mais elevada for a temperatura do ar, maior é a necessidade de hidratação. É pela sudorese que conseguimos baixar a temperatura corporal em climas muito quentes. Para além de água, o suor contém electrólitos como o sódio e o cloro (ver Tabela 2.1A). Portanto, a reposição de água deverá acompanhar-se da reposição electrolítica.

Tabela 2.1A – Constituintes do suor
Constituintes do suor
Quantidades mmol/l
Sódio
20-80
Cálcio
0-1
Potássio
4-8
Magnésio
< 0,2
Cloro
20-60
Bicarbonato
0-35
Fosfato
0,1-0,2
Sulfato
0,1-2,0
Maughan (1994)

Regulação do balanço hídrico
O equilíbrio entre a ingestão e a perda de líquidos é fundamental para não colocar a saúde em risco. O nosso organismo dispõe de diversos mecanismos que facilitam esta regulação.
A regulação do balanço hídrico depende de mecanismos hipotalâmicos de controlo de sede, da hormona antidiurética, da capacidade em reter ou excretar água da função renal e das perdas por respiração e transpiração8. Embora a sensação de alívio da sede seja quase imediata, a absorção e distribuição da água pelo organismo demora cerca de 30 a 60 minutos, a partir do momento da ingestão1, 9.
Função renal – O rim consegue excretar urina mais ou menos concentrada. Quando há défice de água, a urina fica mais concentrada e, pelo contrário, quando há excesso de água, a urina fica mais diluída9. Isto é possível por acção da hormona antidiurética (ADH), que funciona por um mecanismo de feedback. Quando existe uma grande concentração de solutos nos líquidos corporais, a glândula hipofisária secreta ADH que aumenta a permeabilidade de certas áreas do rim que vão reabsorver e logo poupar água, saindo a urina mais concentrada. Se existir excesso de água no organismo, o efeito é contrário, e a água sairá em maior quantidade na urina9.
Sede – Outro mecanismo que regula a entrada de líquidos no organismo é a sensação de sede. A sede é o desejo consciente de ingerir água e responde a estímulos:
·         Concentração do líquido extracelular – Um dos principais estímulos da sede é o aumento de concentração deste líquido. Um aumento da concentração de sódio no líquido extracelular leva a água do meio intracelular a sair da célula. Isto vai estimular a sede, com o objectivo de equilibrar a concentração dos dois líquidos. Uma alteração de 2% no líquido extracelular é suficiente para desencadear a sensação de sede e a libertação de hormona antidiurética8.
·         Angiotensina II – uma vez que é estimulada por factores associados a hipovolémia e baixa pressão sanguínea, também ajuda a regular a sede com o objectivo de repor o volume e pressão normais.
·         Secura da boca e das membranas do esófago – estes são outros factores que podem dar sensação de sede e levar a um aumento da ingestão de líquidos.

Medição do estado de hidratação
Não há nenhum método laboratorial universalmente aceite para determinar o estado de hidratação11. No entanto, existem vários métodos que podem ser utilizados que variam no preço e no facto de serem mais ou menos invasivos18.
Estimativa da Água Corporal Total por métodos de diluição – consiste na introdução no organismo de um isótopo, normalmente óxido de deutério, em volume e concentração conhecidos, sendo depois analisada a sua concentração numa amostra de um fluido corporal (sangue ou saliva). É um método muito exacto e fiável, com um erro máximo de 1%, no entanto é caro e analiticamente complexo.
Osmolalidade plasmática – trata-se do primeiro sinal fisiológico de regulação do balanço hídrico e raramente varia além dos 2%. A osmolalidade é controlada de forma a permanecer em valores de, aproximadamente, 285 mOsm/kg (Painel DRI 2005). As perdas de água pela transpiração, se não forem repostas, diminuem o volume de líquidos corporais. A osmolalidade plasmática aumenta 5 mOsm/kg por cada 2% de perda de massa corporal pelo suor. Este método é exacto e fiável, mas analiticamente complexo, caro e invasivo, uma vez que envolve o exercício físico intenso para criar condições para análise.
Concentração urinária – o volume reduzido, a densidade alta, a osmolalidade alta e a cor escura são os marcadores urinários para a desidratação. Este método é fácil e rápido. A desvantagem é que é pouco fiável, uma vez que os resultados podem ser influenciados pela hora de colheita da urina, por factores nutricionais e mesmo pela ingestão de grande volume de bebidas.
Massa corporal – alterações agudas na hidratação são calculadas pela diferença de massa corporal diária (1g de massa corporal perdida equivale a 1ml de liquido perdido). É um método fácil e rápido, mas pouco fiável pois a alteração da massa corporal pode ser “confundida” por outras mudanças da composição corporal, diferentes da água.
Marcadores sanguíneos – para além da osmolalidade plasmática, também se recorrem a outros marcadores sanguíneos, como o volume sanguíneo que diminui proporcionalmente ao grau de desidratação e o sódio no qual se reflectem logo as alterações da osmolalidade. São analiticamente complexos, caros, invasivos e dependentes de variáveis.
Bioimpedância – o método usa uma corrente de baixa voltagem que passa entre dois eléctrodos colocados na pele e mede a resistência à passagem da corrente, a qual é inversamente proporcional à quantidade de líquidos presentes. É fácil e rápido, no entanto depende de muitas variáveis que podem influenciar os resultados.
A importância da Hidratação
A água é o principal constituinte do organismo e é essencial para a vida. Como diz um antigo provérbio «um Homem pode viver 3 semanas sem comer, 3 dias sem beber e apenas 3 minutos sem ar».
Num ser humano adulto o total de água corporal é de 52 a 66% do peso do corpo, dependendo de vários factores, como da idade, do sexo e da quantidade de gordura corporal. Por exemplo, um homem médio de 70 kg e 45 anos contém cerca de 42 litros (60%) de água no organismo1.
A água tem funções essenciais no organismo:
·         Meio onde se dão todas as reacções do organismo, como por exemplo a digestão;
·         Transporta os nutrientes e os produtos resultantes do metabolismo;
·         Regula a temperatura corporal;
·         Interfere no funcionamento de todos os sistemas e órgãos.
·         Uma desidratação continuada, ainda que leve, tem efeitos a longo prazo, nomeadamente a nível cardíaco, renal, respiratório e digestivo2-7.
Na nova Roda dos Alimentos a água também está representada. Está localizada ao centro uma vez que é essencial para a vida e faz parte de quase todos os alimentos.
Rodrigues SS, Franchini B, Graça P, de Almeida MD. A new food guide for the Portuguese population: development and technical considerations. J Nutr Educ Behav. 2006; 38(3):189-95.

Distribuição da água no corpo
A distribuição de água corporal depende de vários factores, dos quais se destacam a idade, o sexo e a quantidade de gordura corporal. Esta última associa-se inversamente à quantidade de água no organismo.
Tabela 1.1A – % de água corporal por idade e sexo
Idade e Sexo
% de Água Corporal Total
Até 6 meses
74 (64-84)
6 meses a 1 ano
60 (57-64)
1 a 12 anos
60 (49-75)


Homem (Idade em anos)

12 a 18
59 (52-66)
19 a 50
59 (43-73)
> 50
56 (47-67)


Mulher (Idade em anos)

12 a 18
56 (49-63)
19 a 50
50 (41-60)
> 50
47 (39-57)
Altman (1961)
A água corporal encontra-se distribuída por todo o organismo, em 2 tipos de compartimentos: o líquido intracelular (LIC) e o líquido extracelular (LEC) (ver tabela 1.1B).
O líquido intracelular é o líquido existente dentro das células e constitui aproximadamente 40% do peso corporal total1 e 65% da água corporal total8.
O líquido extracelular é todo o líquido que se encontra fora das células e constitui cerca de 20% do peso corporal total1. Consideram-se 3 tipos de líquido extracelular: o líquido intersticial (que se encontra nos espaços entre os tecidos), o plasma sanguíneo e o líquido transcelular (que inclui o líquido sinovial das articulações, o líquido cerebral, os líquidos intra-oculares e os da cavidade peritonial, pleural e glandular)9.
O sangue contém líquido intracelular e líquido extracelular: os glóbulos vermelhos constituem cerca de 40% do sangue, enquanto que o plasma constitui cerca de 60% do volume sanguíneo1.
A água passa dos compartimentos menos concentrados em solutos para os mais concentrados. Isto acontece sempre que há alterações nas concentrações dos líquidos com o objectivo de encontrar um equilíbrio homeostático, ou seja, a correcta distribuição de água pelo organismo, a manutenção do pH das células e o equilíbrio das concentrações de electrólitos, uma vez que os líquidos intra e extracelulares devem ter a mesma concentração total (resultante do somatório de todos os electrólitos)1.
Tabela 1.1B - Principais constituintes dos líquidos intra e extracelulares 
mmol/l
Líquido intracelular
Líquido extracelular
Na+
10
142
K+
140
4
Mg2+
30
1,5
Cl -
4
100
PO4-
60
2
HCO3-
10
27
Ca2+
0-1
2,5
Aminoácidos (g/dl)
40
5
Glicose (mg/dl)
0-20
90
Adaptado de Murray, Robert K., Granner, Daryl K., Mayes, Peter A. e Rodwell, Victor W., Harper´s Biochemistry (25th Edition), McGraw-Hill, USA 2000

Tabela 1.1C – Função e regulação dos principais constituintes do LIC e LEC
Na+
Regula o volume do LEC Ajuda a manter o volume sanguíneo Controla a distribuição de água entre o LIC e o LEC Funciona como base (no bicarbonato de sódio), portanto ajuda a regular a concentração do ião hidrogénio Participa no controlo da contractilidade do músculo, principalmente cardíaco Estimula a condução do impulso nervoso
É regulado pela aldosterona que aumenta a sua reabsorção nos rins
K+
Regula a concentração do LIC Participa na regulação ácido-base Ajuda a promover a transmissão de impulso nervoso, principalmente no coração
Através da bomba Na+ / K+ -ATPase, o Na+ sai da célula contra o K+ que entra, numa proporção de 3 para 2, respectivamente, a partir da hidrolisação do ATP por acção do Mg2+
Mg2+
Promove a regulação do cálcio sérico, fósforo e potássio Essencial para a integridade do sistema neuromuscular e funcionamento do coração
A hormona paratiroideia aumenta a sua absorção a partir do intestino
Cl -
Liga-se ao hidrogénio no estômago para formar HCl A sua difusão ajuda a regular a pressão osmótica entre os LEC e LIC
A aldosterona regula a reabsorção de Na+, e o Cl - passa por difusão passiva.
PO4-
Funciona como sistema tampão dentro das células e na urina

HCO3-
Funciona como tampão Ajuda a manter o pH do sangue
A sua concentração é regulada pelos rins
Ca2+
Fundamental para a formação de ossos e dentes Essencial para a coagulação do sangue Necessário para a contracção muscular
A hormona paratiroideia aumenta a concentração sérica por aumento da actividade dos osteoclastos A calcitonina diminui a concentração sérica por inibição da actividade dos osteoclastos A concentração do fosfato sérico afecta a concentração do cálcio sérico
Adaptado de Donna van Wynsberghe, Charles R. Noback, Robert Carola, Human Anatomy & Physiology, 3th Edition, Internacional Edition, MacGraw-Hill, 1995;

Funções da água no corpo
A capacidade da água de criar ligações com outras moléculas (pontes de hidrogénio) tem um papel vital na estrutura das biomoléculas, modificando a sua conformação espacial em solução e as suas propriedades8. O papel da água de solubilização e de modificação das biomoléculas é determinante para todas as reacções fisiológicas, uma vez que estas se processam em meio aquoso, assim como para o equilíbrio homeostático8.
As principais funções da água no organismo são:
·         Transporte – de nutrientes para as células e de substâncias tóxicas para fora do corpo9;
·         Excreção – de produtos resultantes do metabolismo. Através dos rins, são libertadas as substâncias estranhas que o corpo não necessita9;
·         Solvente – como meio onde se dão todas as reacções9;
·         Regulação da temperatura corporal – quando o corpo está excessivamente quente, aumenta substancialmente a sudorese a fim de libertar calor através da evaporação. Ao suarmos, a água que existe no suor evapora-se à superfície da pele, produzindo abaixamento da temperatura corporal. Não é a transpiração por si que faz arrefecer o indivíduo, mas sim a evaporação da água do suor produzido10.
·         Participação em reacções enzimáticas – facilita a digestão, por exemplo9.

Efeitos da desidratação na saúde
Uma desidratação continuada tem efeitos no organismo, a médio e a longo prazo, nomeadamente:
No sistema renal – Uma desidratação leve constante e o aumento consequente da concentração do líquido extracelular leva ao aumento da secreção de vasopressina, levando ao processo de concentração de urina. Este efeito vai induzir alterações morfológicas e funcionais no rim, nomeadamente na taxa de filtração glomerular, podendo funcionar como factor de risco para insuficiência renal crónica e nefropatia diabética2.
Infecções do tracto urinário – a possibilidade de infecção do tracto urinário não é dependente do estado de hidratação, embora, em caso de infecção, seja muito importante para melhorar os resultados da terapia anti microbiana, uma vez que a diurese diminui o volume bacteriano por eliminação3.
Urolitíase – um volume de urina baixo é um importante factor de risco para a formação de cálculos nos rins; o aumento do volume e consequente diluição da urina tem um efeito protector da cristalização de sais4.
No sistema digestivo:
Secreção salivar – a desidratação provoca uma diminuição da secreção salivar. Sabe-se que existe uma relação entre a desidratação e o fluxo salivar, muito importante para neutralizar os ácidos da placa bacteriana5. Não existe, no entanto, uma relação directa entre a desidratação e as doenças dos dentes, como cárie e erosão dentárias5.
Obstipação – a ingestão inadequada de líquidos é uma das causas importantes de obstipação, especialmente em crianças. Embora em pessoas hidratadas o aumento da ingestão de líquidos não altere o volume fecal, em pessoas desidratadas e obstipadas, esse aumento vai melhorar substancialmente a consistência das fezes6.
No sistema respiratório:
Doenças bronco-pulmonares – embora se aconselhe frequentemente uma ingestão elevada de líquidos em doentes com bronquite crónica e asma, são necessários mais estudos para se esclarecer o papel da desidratação nestas doenças7.
No sistema circulatório:
Doença coronária – alguns autores descrevem uma associação inversa entre o consumo de água e o risco de doença coronária2.
Na cognição:
Vários trabalhos que testaram sujeitos em estado de desidratação ligeira, observaram alterações de funções cognitivas como diminuição da capacidade de atenção, concentração e memória, comprometendo em alguns casos, a tomada de decisão e a eficácia da resolução de problemas de aritmética. As crianças e os adolescentes parecem estar particularmente sujeitos a risco de comprometimento da função cognitiva devido a insuficiente hidratação. Mais informação por favor 
Recomendações Hídricas
As necessidades de água variam ao longo do dia, em função de vários factores como a alimentação, a actividade física e a temperatura ambiente.
·         Quando aumenta a temperatura ambiente aumenta a transpiração, ou seja, há um aumento da perda de água pela pele.
·         A actividade física faz aumentar a temperatura corporal e consequentemente haverá aumento da evaporação de água do suor à superfície da pele, tal como aumento da perda de água pela respiração.
·         Quando a alimentação é rica em sal e substâncias tóxicas, há maior necessidade de água para que estas sejam eliminadas.

Factores que influenciam as necessidades hídricas
As necessidades hídricas dependem de vários factores:
Temperatura ambiente – Em consequência do aumento da temperatura ambiente, aumenta a perda de água por transpiração e diminui a perda de calor por contacto directo da pele com o ar. Quanto mais elevada for a humidade e a temperatura, maior será a quantidade de suor produzida10. Em climas quentes, húmidos e sem vento, o organismo perde mais água, favorecendo assim a desidratação10. De igual modo, com o aumento da temperatura corporal, em caso de febre, aumenta a sudorese, logo há também maior necessidade de ingestão de líquidos de forma a desfavorecer a desidratação9.
Alimentação – Quando é muito rica em sal, por exemplo, aumenta a concentração de sódio no líquido extracelular o que faz aumentar a necessidade de água6.
Idade – A percentagem de água corporal diminui com a idade, em parte porque ao envelhecimento se associa um aumento da percentagem de massa gorda total1, 9. As crianças têm necessidades de água maiores que as dos adultos (por kg de massa corporal), uma vez que têm maior % de água corporal9. Nas mulheres há uma tendência natural para um maior teor de gordura que nos homens, logo, a percentagem de água corporal total nas mulheres é menor, sendo a necessidade de água também menor que nos homens9.
Actividade física – Provoca perdas de água através de dois mecanismos:
·         Aumento da temperatura corporal e consequentemente haverá aumento da evaporação de água do suor à superfície da pele;
·         Aumento da perda de água pela respiração10.

Ingestão diária recomendada
1. Beba cerca de 1,5 a 2 l de líquidos por dia (consulte a tabela).
2. Beba pequenas quantidades de cada vez e frequentemente ao longo do dia, antecipando a sensação de sede.
3. Esteja atento a sinais associados a desidratação, aumentando a ingestão de líquidos nestas situações:
·         Sede.
·         Urina de cor intensa e com cheiro.
·         Cansaço, dor de cabeça, perda de capacidade de concentração, atenção e memória.
4. Aumente a ingestão de líquidos nas seguintes situações:
·         Actividade física que o faça transpirar.
·         Temperatura ambiental elevada (incluindo ambientes aquecidos durante o Inverno) e altitude elevada (incluindo viagens aéreas).
·         Situações de doença acompanhadas de febre, vómitos ou diarreia.
·         Gravidez e aleitamento: aumente a ingestão de bebidas em cerca de 0,2 e 0,5 L/dia, respectivamente.
5. Redobre o cuidado com a hidratação no caso de crianças e idosos, grupos em que a capacidade de detectar o estado de desidratação e/ou responder aos seus sinais pode estar diminuída.
6. Hidrate-se através da ingestão de água e de outras bebidas (como leite, sumos e néctares, chá, infusões, refrigerantes, …) e de alimentos ricos em água (sopas, saladas e fruta).
A escolha das fontes de hidratação deve ser feita no enquadramento de uma alimentação saudável e depende das preocupações de cada pessoa, sejam elas nutricionais, de impactes ambientais, de segurança alimentar ou outras.
Ingestão recomendada de água proveniente de bebidas (Litro / dia) *
Fase do ciclo de vida
Sexo feminino
Sexo masculino
Crianças (2 a 3 anos)
1,0
1,0
Crianças (4 a 8 anos)
1,2
1,2
Crianças (9 a 13 anos)
1,4
1,6
Adolescentes e Adultos
1,5
1,9
* Valores de referência aproximados recomendados para indivíduos saudáveis. Os valores mais adequados para cada pessoa dependem de vários factores (actividade física, temperatura ambiente, situações de doença, entre outros).

Necessidades hídricas de grupos especiais
Lactentes, crianças, adolescentes, grávidas, lactantes, idosos e desportistas apresentam necessidades hídricas especiais:
Lactentes – os lactentes alimentados apenas a leite materno não necessitam de água adicional. Isto aplica-se tanto em ambientes amenos como em ambientes quentes e húmidos. O leite materno contém aproximadamente 87 % de água que satisfaz as necessidades do lactente dos 0 aos 6 meses de idade. Para o lactente dos 7 aos 12 meses, aproximadamente 74% da quantidade total de água ingerida deve provir de água em natureza e de outras bebidas13.
Crianças e adolescentes – entre os 2 e os 9 anos existe uma diminuição percentual do conteúdo hídrico do organismo, aumentando a necessidade de ingestão de água apenas em 5 a 10% nesta faixa etária13.
Grávida – do aumento de peso que existe habitualmente, uma parte é água devido ao aumento do volume vascular e dos tecidos intersticiais. A necessidade de água das grávidas é pouco maior (apenas mais 3%) que a necessidade da mulher não grávida13.
Lactantes – as necessidades hídricas das lactantes são calculadas de acordo com a necessidade da mulher adulta, acrescida da quantidade de água presente no leite materno, para os primeiros 6 meses de lactação13.
Idosos – embora nos idosos as recomendações de água não sejam diferentes das dos adultos mais jovens, verifica-se normalmente nesta faixa etária, uma diminuição da sensação de sede, podendo também observar-se alterações da função renal, como a diminuição da capacidade de concentração de urina13. (saiba mais)
Desportistas – devem fazer uma correcta hidratação antes, durante e após o esforço físico. Esta hidratação dependerá da condição física do desportista, do tipo de exercício e das condições em que este se realiza. Estas recomendações devem ser específicas para cada indivíduo10. O tipo de hidratação a fazer, nomeadamente o recurso a bebidas enriquecidas em sais minerais e glucose, dependerá da intensidade do esforço, da duração do exercício, das condições climatéricas no qual ele é praticado e do estado de hidratação antes do início do exercício10.

Fontes de Hidratação
Apesar dos alimentos conterem água, a maior parte da água é ingerida na forma líquida (cerca de 75% da água é ingerida através de bebidas
A água é a fonte de hidratação de eleição, no entanto há mais bebidas, tais como água com sabor, sumos, néctares, refrigerantes, que poderão contribuir para o aprovisionamento de água uma vez que:
·         têm elevados teores de água (cerca de 90%, mas podendo ultrapassar os 99%);
·         muitas destas bebidas têm uma composição (em particular uma concentração de solutos) que as torna mais eficientes que a própria água no que se refere à hidratação do consumidor, o que é uma vantagem importante, em especial no caso de condições mais agressivas, como a prática de exercício físico ou sob temperaturas elevadas14;
·         existem circunstâncias em que são consumidos mais líquidos se estes tiverem sabor15.

Conteúdo hídrico de bebidas e alimentos
Nas seguintes tabelas podemos ver o conteúdo hídrico de algumas bebidas e alimentos.
Tabela 4.1A - Conteúdo hídrico de algumas bebidas (por 100g)
Bebida
Água (g)
Refrigerante de cola 
90,8 
Refrigerante de laranja 
89,4 
Refrigerante de cola light
99,8
Chá (sem açúcar adicionado)
99,7
Café (sem açúcar adicionado)
96,2
Néctar light
94 – 95
Néctar
85 – 89
Sumo de frutos 100%
87 – 89
Leite de vaca UHT meio gordo
89,1
Iogurte líquido meio gordo
83,6
Adaptado de Tabela da Composição de Alimentos - INSA Dr. Ricardo Jorge, Lisboa 2006
Hortofrutícolas





Maçã
85%
Morango
90%
Cenoura
88%
Alperce
85%
Melancia
93%
Agriões
90%
Banana
76%
Couve-flor
91%
Batata
85%
Uva
82%
Aipo
94%
Espinafres
92%
Laranja
86%
Milho
74%
Alface
96%
Pêssego
90%
Pepino
96%
Azeitona
80%
Pêra
82%
Brócolos
91%
Cebola
89%
Framboesa
81%
Couve
92%
Salsa
86%
Ananás
85%
Tomate
93%
Pimento verde
94%
Nutrition and Physical Fitness 9th Edition by L. Jean Bogert Ph.D., George M. Briggs, Ph.D. and Doris Howes Calloway, Ph.D., W.B. Saunders Company, Philadelphia PA ISBN 0-7216-1817-0, compiled from Table 2A, Nutritive Values of Foods in Average Servings or Common Measures.

Bebidas com sabor
O Estudo de Caracterização do Perfil de Hidratação dos Portugueses, conduzido pelo IHS em 2009, permitiu concluir que cerca de 20% da população não mostra concordância com a afirmação “gosto de beber água”. Estas pessoas podem beneficiar das bebidas com sabor, uma vez que o seu aporte hídrico é significativamente inferior ao da restante população. As bebidas com sabor também poderão ter um papel importante nos grupos em maior risco de desidratação, como por exemplo as crianças e os idosos.
Em vários estudos realizados com crianças submetidas a programas de exercício físico realizado sob temperatura ambiental elevada, observou-se uma desidratação voluntária nos participantes (Bar Or et al, 1980 e Rodriguez-Santana et al, 1995). Alguns autores descreveram que o consumo de bebidas com sabor pode diminuir o risco de desidratação em crianças que não ingiram água suficiente14, 15, 17 , podendo a ingestão ser até 91% superior. Meyer et al (1994), num estudo realizado com crianças em prática de exercício físico em ambiente quente, registou um maior aporte hídrico voluntário em crianças quando estavam disponíveis bebidas com sabor.
Existe à disposição no mercado português, uma variedade enorme de bebidas, que incluem nomeadamente bebidas de sumos de frutos, de polme, de extractos vegetais, aromatizadas, sumos 100%, néctares, chás e tisanas, bebidas isotónicas e bebidas lácteas.
Sopas
As sopas são uma excelente fonte de hidratação (apresentam valores de água entre 88 e 93%). São, simultaneamente unidades alimentares nutricionalmente muito interessantes. Para além do baixo valor energético, as sopas de hortícolas são pobres em gordura, ricas em vitaminas, minerais fibras, recomendando-se que façam parte da nossa alimentação diária16.
Características das bebidas e hidratação | 

Cafeína
As bebidas com cafeína também hidratam?
Existe uma série de bebidas que contêm cafeína na sua constituição natural, nomeadamente o café e o chá. A cafeína é um dos ingredientes mais vezes estudados em trabalhos científicos e conhecidos das diversas associações governamentais e não governamentais, sendo adicionada a muitas bebidas, incluindo alguns refrigerantes e bebidas energéticas, e alimentos.
Em 1958 a entidade responsável pela regulamentação dos alimentos e medicamentos dos Estados Unidos da América “Food and Drug Administration” (FDA) classificou a cafeína como um composto GRAS, isto é, substância reconhecida geralmente como segura [1].
A FDA, em 1987, não encontrou qualquer evidência que demonstrasse que o normal consumo de cafeína produzisse qualquer risco para a saúde, tendo a “American Medical Association”, a “American Cancer Society, a “National Academy of Sciences” e a “National Institutes of Health” efectuado declarações semelhantes às da FDA concordando que o consumo moderado de cafeína é seguro . Um consumo moderado de cafeína por dia é de, aproximadamente, 300 mg, mas depende do tipo de bebidas e do seu consumo.
Para além do conhecido efeito estimulante no Sistema Nervoso Central, a cafeína reduz a produção de hormona anti-diurética, levando a um aumento de produção de urina. Existem muitos mitos à volta das bebidas com cafeína baseados no seu efeito diurético e consequente desidratação.
Pesquisas em atletas de alta competição demonstram que esse efeito não só é insignificante durante os exercícios (2) mas que os efeitos negativos causados pelo corte dessas bebidas da dieta podem ser prejudiciais (4).
Estudos realizados com consumos de quantidades elevadas, entre 3-6 mg/kg de peso corporal, concluem que o consumo de bebidas cafeínadas não altera os níveis de hidratação nem os níveis de electrólitos excretados na urina, mesmo em consumidores não atletas (5, 6, 7, 8). Estudos recentes indicam também que, se do consumo total diário de fluidos, 75% forem provenientes de bebidas cafeínadas, não há efeitos adversos na hidratação (9). O consumo de grandes quantidades de cafeína (mais de 300 mg/dia), que não é recomendado para a generalidade das pessoas, pode levar ao aumento de produção de urina, mas isto acontece em maior grau em indivíduos não habituados ao consumo. Quem consome cafeína regularmente desenvolve alguma tolerância a estes efeitos.
Quantidades de cafeína em algumas bebidas:
Nome
ml
Cafeina (mg)  
mg / 100ml  
Celsius
355
200
56
Coca-Cola Classic
355
34.5
10
Coca-Cola Zero
355
34.5
10
Café (de Cafeteira)
237
107.5
45
Café (Descafeinado, de Cafeteira)
237
5.6
2
Café (Descafeinado, Instantâneo)
237
2.5
1
Café (Expresso)
44
77
175
Café (Instantâneo)
237
57
24
Diet Coke 
355
45
13
Diet Pepsi
355
36
10
Diet Pepsi Max
355
69
19
Lipton Iced Teas
591
50
8
Nestea Iced Tea
473
34
7
Nestea Green Tea de Pêssego
591
42.4
7
Nestea Iced Tea de Limão
591
27.5
5
Pepsi-Cola
355
38
11
Chá (Verde)
237
25
11
Chá (Gelado)
237
47
20
http://www.ameribev.org/industry-issues/healthy-balanced-diet/beverage-ingredients/caffeine
Referências:
[1] International Food Information Council Foundation (IFIC); Caffeine & Health: Clarifying the controversies
[2] Armstrong LE (2002) Caffeine, body fluid-electrolyte balance, and exercise performance. Int J Sports Nutr Exerc Metab 12,189-206
[4] Maughan RJ, J Griffin (2003) Caffeine ingestion and fluid balance: a review. Journal of Human Nutrition and Dietetics 16, 1-10
[5] Grandjean, A. et al, The effect of caffeinated, Non-Caffeinated, Caloric and Non-Caloric Beverages on Hydration; J A Coll Nutr, vol 19, No. 5, 591-600 (2000)
[6] Armstrong LE et al, Fluid, electrolyte, and renal indices of hydration during 11 days of controlled caffeine consumption. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2005 Jun;15(3):252-65.
[7] Falk B et al, Effects of caffeine ingestion on body fluid balance and thermoregulation during exercise. Can J Physiol Pharmacol. 1990 Jul;68(7):889-92
[8]Roti MW et al, Thermoregulatory responses to exercise in the heat: chronic caffeine intake has no effect, Aviat Space Environ Med. 2006 Feb;77(2):124-9
[9] Grandjean, A. et al, The effect on Hydration of two diets, one with and one without plain water; J A Coll Nutr, vol 22, No. 2, 165-173 (2003)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.    Guyton & Hall, TRATADO de Fisiologia Médica, 9ª Edição Rio de Janeiro, 1997, Guanabara
2.    Resumo e Outlook, European Journal of Clinical Nutrition (2003) 57, Suppl 2, S96 -S100;
3.    R Beetz, desidratação leve: um fator de risco de infecção do trato urinário ?, Eur Jour Clin Nutr (2003) 57, Suppl 2, S52- S58;
4.    Siener, R e Hesse, A, A ingestão de líquidos e epidemiologia da litíase urinária, Eur Jour Clin Nutr (2003) 57, Suppl 2, S47 - S51;
5.    Smith, AJ e Shaw, L, desidratação leve: um fator de risco para a doença dental? Eur Jour Clin Nutr (2003) 57, Suppl 2, S75-S80;
6.    MJ Arnaud, desidratação leve: um fator de risco de prisão de ventre? Eur Jour Clin Nutr (2003) 57, Suppl 2, S88- S95;
7.    H kalhoff, desidratação leve: um fator de risco de distúrbios Broco-pulmonar? Eur Jour Clin Nutr (2003) 57, Suppl 2, S81-S87;
8.    Murray, Robert K., Granner, Daryl K., Mayes, Peter A. e Rodwell, Victor W., Harper's Bioquímica (25 Edition), McGraw-Hill, EUA, 2000;
9.    Donna van Wynsberghe, Charles R. Noback, Robert Carola, Anatomia Humana e Fisiologia, Edição 3 ª, Internacional Edition, MacGraw-Hill, 1995;
10. Luís Horta, Nutrição nenhuma Desporto, 3ª Edição, Editorial Caminho, 2006;
11. Manz, F e Wentz, A, 24 h estado de hidratação: parâmetros, epidemiologia e recomendações, Eur Jour Clin Nutr (2003) 57, Suppl 2 S10-S18;
12. Hamilton, S. Detecção de desidratação e desnutrição em idosos. Enfermagem 2001; 31 (12): 56-7;
13. Food and Nutrition Board, Institute of Medicine, National Academies, Dietary Reference Intakes para energia, hidratos de carbono, fibras, gorduras, ácidos graxos, colesterol, proteínas e aminoácidos (2002/2005); Dietary Reference Intakes para água, potássio, sódio, cloreto e sulfato (2005);
14. Rivera-Brown, Anita et al, composição bebida, beber voluntária e equilíbrio de fluidos no exercício, treinados, meninos aclimatados ao calor, J Appl Physiol 86 78-84, 1999
15. Wilk B, Bar-Or O. Efeito de sabor bebida e NaCl sobre a ingestão voluntária e hidratação em meninos exercitam no calor. J Appl Physiol 1996; 80 (4): 1,112-1,117
16. Tabela da Composição de Alimentos; Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge; Lisboa, 2006
17. MF Bergeron, JL Waller, EL Marinik, consumo e temperatura do núcleo respostas fluidos voluntários em tenistas adolescentes: bebida esportiva contra água, J Appl Physiol 80: 1112-1117, 1996;
18. Cheuvront, Samuel N. et col, Avaliação da hidratação de Atletas, Sports Science Exchange 2006, 46, Gatorade Sports Science Institute
19. Estilos de Vida Saudáveis, Nutrição e Actividade Física, Instituto Internacional de Ciências da Vida, Europa, 2002;
20. ANFABRA, El Libro Blanco de las Bebidas Refrescantes, Madrid, 2006




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