sábado, 19 de dezembro de 2020

Portador de doença autoimune com Covid-19 deve suspender medicação

 

Portador de doença autoimune com Covid-19 deve suspender medicação

 

 

Paradoxalmente, doenças desse tipo causam maior atividade do sistema imune, mas poderiam aumentar gravidade em casos de infecção, como a pelo novo coronavírus

 

 

Por Adriano Justino 23/03/2020 11:05

 

Artrite reumatoide, espondilite anquilosante e lúpus eritematoso sistêmico são algumas das doenças chamadas autoimunes, patologias que carregam, em si, um paradoxo: devido a alterações no sistema imunológico (que defende o organismo de infecções), a imunidade fica mais ativa e desregulada. Isso gera um processo inflamatório, que torna o corpo mais frágil diante de infecções.

 

Em vez de gerar anticorpos para se defender contra organismos estranhos (vírus e bactérias), as pessoas com essas condições criam autoanticorpos, que agridem o próprio organismo. Some-se a isso as medicações usadas nessas doenças, como imunossupressores e imunobiológicos, que também causam alterações, e as dúvidas aparecem:

 

Esses pacientes estariam mais suscetíveis à infecção pelo novo coronavírus e às complicações graves da doença?

 

Segundo o reumatologista Eduardo Paiva, diretor científico da Sociedade Brasileira de Reumatologia, esta resposta ainda não existe, porque mesmo em países com muitos casos da Covid-19 não parece haver um número diferente de portadores de doenças reumáticas infectados. "Porém, como muitos deles usam medicações imunossupressoras, por enquanto assumimos que sim, eles têm mais risco, mas isso não é comprovado", diz, assinalando que esse risco depende ainda do grau de imunossupressão individual, que vai de leve a intenso.

 

Potencialmente, os pacientes com doenças reumáticas seriam mais suscetíveis a quadros mais graves, principalmente pela desregulação do sistema imunológico, diz Carolina Müller, diretora científica da Sociedade Paranaense de Reumatologia. "Como a medicação usada para as doenças autoimunes reduz defesas frente a infecções externas, então há essa suscetibilidade, embora até o momento seus portadores não tenham sido relatados como grupo de risco. Será necessária uma melhor avaliação dos casos para uma orientação mais precisa", explica.

 

Interrupção do remédio

 

Segundo Paiva, não há informação suficiente para afirmar nem mesmo se o uso de medicamentos imunossupressores favoreça a multiplicação viral no caso de já infectados pela Covid-19. "Assim ocorre porque a lesão que esse vírus faz é composta da ação dele no tecido e, muitas vezes, do excesso de inflamação gerada pelo corpo. Ocorre que até alguns remédios imunossupressores estão sendo usados em casos graves, de maneira ainda inicial, para reduzir esta inflamação exagerada do corpo e diminuir a lesão pelo novo coronavírus", diz ele.

 

Entretanto, explica Carolina Müller, um paciente com suspeita do novo coronavírus, ou que tenha a infecção confirmada, tem a orientação de interromper o uso de medicação imunossupressora e imunobiológica, mas isso deve ser acompanhado pelo médico. "Diante da infecção ativa (incluindo Covid-19), a imunossupressão será sempre retirada", diz Paiva.

 

Doenças que mais usam remédios

 

Entre as doenças reumáticas que mais exigem o uso de imunossupressores estão:

 

Artrite reumatoide;

 

Espondiloartrites como a espondilite anquilosante e a artrite psoriásica;

 

Lúpus eritematoso sistêmico;

 

Vasculites.

 

"A função das medicações imunossupressoras é controlar a inflamação, preservar a função das articulações e, em alguns casos, tratar a inflamação de órgãos internos, como os rins", diz o reumatologista Eduardo Paiva.

 

Menos corticoides

 

Recentemente, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) recomendou também a pacientes que usem corticosteroides em doses acima de 20 mg/dia, que reduzam a dose o máximo possível, de maneira gradual e sob orientação médica. "Doses de corticoides acima de 20mg/dia são consideradas imunossupressoras, por diminuírem a atividade do sitema imunológico. Dessa forma, diminuem também a resposta a processos infecciosos, e acabam tornando o indivíduo mais suscetível a infecções", diz Carolina.  

 

Segundo os especialistas, essa indicação de redução gradativa pela SBR acontece porque os corticosteroides não podem ser parados subitamente, pois pode haver reativação da doença e, em alguns casos, disfunção da glândula adrenal.

 

"A recidiva da doença autoimune pode levar a uma piora do quadro clínico geral, aumentando também o risco de infecção", diz Paiva, que afirma que a substituição por outra medicação depende de uma avaliação caso a caso.

 

Interromper não protege

 

Segundo Paiva, não há, até o momento, evidência de que interromper o imunossupressor tenha qualquer efeito protetor contra a Covid-19, mesmo em pacientes idosos, tabagistas ou com algum tipo de comorbidade (doença intersticial pulmonar, diabete, hepatite B, DPOC, doença renal crônica e neoplasias).

 

Pacientes em imunossupressão também não devem ser sempre testados para o coronavírus. A testagem deve ser feita nos casos suspeitos de infecção pelo vírus, de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde ou secretarias de saúde. "Na condição em que estamos hoje, o teste é reservado a pacientes suspeitos de infecção e que apresentam quadros clínicos graves. Então, pacientes em imunossupressão não devem ser sempre testados para o vírus", diz Carolina.

 

Outras doenças

 

As medicações para osteoporose, osteoartrite (artrose), gota e fibromialgia não aumentam o risco de contrair a Covid-19 e portadores dessas doenças não estão incluídos no grupo de risco. "No entanto, se esse paciente for idoso ou com outras doenças associadas como problemas pulmonares, diabete ou hipertensão, poderá ser incluído no grupo de risco", diz ela.

 

Caso contraia o vírus, ainda não há a informação de que a doença autoimune possa piorar, pois não há muitos relatos, até o momento, de pacientes com doença reumática que tenham adquirido o novo coronavírus.

 

 

Fonte e Foto: https://www.semprefamilia.com.br/saude/portador-de-doenca-autoimune-com-covid-19-deve-suspender-medicacao/

 

 


 

 

 

 

Efeitos colaterais da vacina: o que se sabe

sobre a segurança dos imunizantes contra

a covid-19

 

ames Gallagher* - Repórter de Saúde e Ciência da BBC

10/12/2020 14h10

 

 

A vacina Pfizer/BioNTech reduz os casos de covid em cerca de 95% das pessoas imunizadas, mas acarreta efeitos colaterais bastante comuns, incluindo dor no local da injeção, dor de cabeça e calafrios. Há também riscos às pessoas com alergias graves, e duas delas desenvolveram reações no Reino Unido. Em qualquer discussão sobre se uma vacina é segura, há um dado que vale a pena ter em mente: 1 em 850.

 

Cerca de 1 em cada 850 habitantes do Brasil já morreu de uma doença respiratória grave durante a pandemia de covid-19 em 2020, um patamar 20 vezes maior do que em 2019. Esta é a ameaça conhecida da doença em relação à qual todos os riscos de medicamentos e vacinas devem ser analisados.

 

Na medicina, há uma importante diferença entre "seguro" e "inofensivo" e também entre "risco" e "arriscado". E sempre existe algum tipo de risco envolvido em vacinas.

 

Até agora, duas pessoas no Reino Unido que receberam a vacina da Pfizer/BioNTech contra o coronavírus tiveram reações alérgicas. Médicos afirmam que elas tiveram uma reação anafilactoide, que tende a envolver erupção na pele, falta de ar e, às vezes, queda da pressão arterial. Isso não é a mesma coisa que anafilaxia, que pode ser fatal. Ambas são funcionários do NHS (o SUS britânico), têm histórico de alergias graves e carregam sempre canetas de adrenalina.

 

Peter Openshaw, professor e especialista em imunologia do Imperial College London, disse: "O fato de descobrirmos tão precocemente essas duas reações alérgicas e de o órgão regulador britânico ter agido logo sobre isso ao emitir um veto à vacina para pessoas com alergias graves mostra que o sistema de monitoramento está funcionando bem.”

 

Então, o que significa dizer que as vacinas contra covid-19 são "seguras" para uso?

 

"Se você pensa em absolutamente nenhum efeito adverso, então nenhuma vacina e nenhum remédio serão 'seguros' nesse sentido. Todo medicamento eficaz tem efeitos indesejados. Então, quando falamos que é 'seguro', falamos do peso dos efeitos indesejados em comparação com o benefício é muito claramente a favor do benefício", explica Stephen Evans, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

 

O órgão regulatório do Reino Unido, o MHRA (uma espécie de Anvisa), decidiu que a vacina da Pfizer/BioNTech atingiu esse patamar citado por Evans. E as exigências feitas em relação a vacinas são enormes.

 

Alto nível de exigência

  Há alguns medicamentos que acarretam consequências realmente brutais no corpo, mas ainda assim são aprovadas porque avaliou-se que o benefício compensa o risco.

 

O tratamento de quimioterapia, por exemplo, tem uma lista enorme de efeitos danosos ao corpo, como exaustão, perda de cabelo, anemia, infertilidade e problemas de memória e de sono.

 

No entanto, quando os pacientes estão lidando com uma eventual morte por um câncer terminal, ninguém questiona os medicamentos usados.

 

Outros podem ter efeitos colaterais graves que são incrivelmente raros. O analgésico ibuprofeno, que quase todos nós temos em casa e tomaríamos sem hesitar, pode causar sangramento e formar buracos no estômago e nos intestinos, dificuldade para respirar e danos aos rins.

 

Os riscos existem, mas são amplamente superados pelos benefícios.

 

"O conceito de 'seguro' não é uma coisa absoluta, é 'seguro' no contexto de cada uso", explica Evans.

 

A principal diferença com as vacinas é que elas são administradas a pessoas saudáveis e isso muda drasticamente o equilíbrio. Ou seja, qualquer risco envolvido na aplicação precisa necessariamente ser muito pequeno.

 

Uma decisão de 10 mil páginas

  

Os órgãos reguladores no Reino Unido tomaram a decisão de autorizar a distribuição da vacina contra covid-19 baseados em muito mais informações do que vieram a público, geralmente em forma de comunicados à imprensa.

 

Não há jeito de esconder qualquer coisa nesse processo. Se houver algum problema ligado à segurança da vacina ou mesmo lacunas, os reguladores vão enxergá-los.

 

Os fabricantes da vacina precisam entregar todos os dados ligados aos estudos em laboratório, estudos em animais, os testes de segurança de fase 1, os testes de dosagem de fase 2 e as informações sobre a fase 3, onde se determina se o imunizante funciona e se é seguro.

 

"Isso totaliza pelo menos 10 mil páginas de informações", explica Evans, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

 

A vacina Pfizer/BioNTech reduz os casos de covid em cerca de 95% das pessoas imunizadas, mas acarreta efeitos colaterais bastante comuns, incluindo dor no local da injeção, dor de cabeça, calafrios e dores musculares. Isso pode afetar mais de 1 em cada 10 pessoas.

 

Todos esses são sinais do sistema imunológico entrando em ação e podem ser controlados com paracetamol, por exemplo.

 

Segundo dados da US Food and Drug Administration (FDA, uma espécie de Anvisa dos Estados Unidos), os estudos com a vacina da Pfizer/BioNTech apontaram que no grupo de pessoas que desenvolveram algum efeito colateral foram registrados dor no braço (84%), cansaço (63%), dor de cabeça (55%), dor muscular (38%), calafrio (32%) e febre (14%).

 

"A vacina de RNA (como a da Pfizer/BioNTech) para a covid já foi testada em mais de 70 mil pessoas nos ensaios clínicos de fase 3. Os efeitos adversos mais sérios observados são dor moderada/intensa no local de aplicação e febre. Pode ser que ocorra um efeito adverso raro (por exemplo, 1 em 1 milhão) que não foi detectado em fase 3? Sim. Mas o acompanhamento dos vacinados para efeitos adversos continua depois da aprovação. Será a fase 4. Resumindo: até o momento, não há nenhuma indicação que as vacinas de mRNA não sejam seguras. Eu tomaria essa vacina e a aplicaria no meu filho, o meu bem mais precioso", afirmou a médica epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas.

 

Em relação à vacina em desenvolvimento pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, nenhum evento adverso grave ou morte foram associados à aplicação da vacina ChAdOx1 nCoV-19. Dos 175 eventos graves do tipo que ocorreram durante os estudos, apenas dois foram inicialmente associados à aplicação da vacina.

 

Um deles inclusive levou à paralisação dos estudos em setembro, até que um comitê independente avaliasse a relação de causa e efeito entre a vacina e o efeito adverso (um quadro de mielite transversa, uma espécie de inflamação na medula). Dias depois, a Anvisa autorizou a retomada dos estudos no Brasil porque "concluiu que a relação benefício/risco se mantém favorável".

 

O segundo caso foi em um paciente que desenvolveu febre acima de 40ºC depois de receber a primeira dose, mas não teve o mesmo quadro na segunda dose. Ainda não foi revelado se esse paciente pertence ao grupo que recebeu a vacina de verdade ou àquele que recebeu a dose placebo. Essa divisão dos participantes é feita nos estudos para determinar eficácia e segurança sem qualquer viés.

 

"Os profissionais do MHRA (a Anvisa britânica) são muito experientes, podemos ficar tranquilos se o regulador disser que os benefícios claramente superam os riscos, que deveria ser o objetivo de tudo", afirma Penny Ward, professora e pesquisadora do King's College London e da Faculdade de Medicina Farmacêutica.

 

Problemas mais raros

  

É sempre possível que as vacinas tenham consequências para a saúde que ainda não ficaram claras.

 

Existem dados disponíveis sobre ao menos 20 mil pessoas que foram imunizadas no estudo da Pfizer/BioNTech, 15 mil na vacina Moderna e 10 mil para a desenvolvida por Oxford/AstraZeneca.

 

Isso é o suficiente para mostrar que as vacinas funcionam e detectar problemas comuns. Mas esses estudos podem não conseguir captar algo que afeta 1 em cada 50 mil pessoas que são imunizadas, por exemplo.

 

"Se o efeito colateral for extremamente raro, você nem sempre consegue identificá-lo antes de uma autorização, e precisaria avaliar antes milhões de pessoas", explica Ward.

 

Isso é verdadeiro para todas as vacinas aprovadas. Não é um problema único ou novo com os imunizantes contra a covid-19.

 

A vacina da gripe sazonal foi associada a uma chance de 1 em 1 milhão de desenvolver a síndrome de Guillain-Barré, mas o próprio vírus da gripe causa mais casos do que isso. E cerca de 1 em 900 mil pessoas tem reações alérgicas graves, conhecidas como anafilaxia, a uma vacina.

 

"Muitos de nós não pensamos duas vezes antes de dirigir para algum lugar, mas o risco de um acidente de carro é muito maior do que os efeitos graves de uma vacina", afirma Ward.

 

Não caia em notícias falsas.

 

O perigo em torno do debate sobre efeitos colaterais é que as pessoas presumem erroneamente que problemas de saúde que acontecem por coincidência foram causados ??pela vacina.

 

É fácil prever que haverá histórias assustadoras nos próximos meses: seja na imprensa ou nas redes sociais, com origens equivocadas ou simplesmente maliciosas.

 

Mas a verdade é que as pessoas ficam doentes o tempo todo. A cada 5 minutos no Reino Unido, uma pessoa tem um ataque cardíaco e uma pessoa tem um derrame. Mais de 600 mil pessoas morrem por ano.

 

Haverá casos em que um dia alguém receberá a vacina, logo depois, terá um sério problema de saúde que teria acontecido mesmo se não tivesse sido imunizada.

 

"Podemos ver coisas que acontecem por infeliz coincidência", alerta Ward, do King's College London e da Faculdade de Medicina Farmacêutica.

 

Há uma ameaça real de repetição de erros cometidos quando a vacina MMR (sarampo, caxumba e rubéola) foi falsamente associada ao autismo e levou a uma queda no número de crianças imunizadas.

 

É por isso que você precisará manter a cabeça no lugar enquanto o programa de vacinação avança pelo mundo.

 

E é por isso que a segurança das vacinas é monitorada muito depois de uma delas ser aprovada para ver se há algum problema de saúde desconhecido. A Anvisa britânica, por exemplo, tem um programa para registro de problemas pelos pacientes e monitora dados anônimos de consultórios médicos em busca de quaisquer sinais de alerta ligados à vacina.

 

* Com informações adicionais de Nick Triggle e Rachel Schraer, da BBC News, e Matheus Magenta, da BBC News Brasil.

 

 

Fonte e Foto

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/12/10/efeitos-colaterais-da-vacina-o-que-se-sabe-sobre-a-seguranca-dos-imunizantes-contra-a-covid-19.htm

 

 



 

Reações Adversas a Medicamentos

 

Reações Adversas a Medicamentos

 

 

Reproduzido de:

Formulário Terapêutico Nacional 2010: Rename 2010 [Link Livre para o Documento Original]

Série B. Textos Básicos de Saúde

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos

Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos

Brasília / DF – 2010

 

 

 

José Gilberto Pereira

 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define reação adversa a medicamento (RAM) como “qualquer resposta prejudicial ou indesejável e não intencional que ocorre com medicamentos em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, diagnóstico, tratamento de doença ou para modificação de funções fisiológicas”. Não são consideradas reações adversas os efeitos que ocorrem depois do uso acidental ou intencional de doses maiores que as habituais (toxicidade absoluta)1-3.

 

Reação adversa a medicamento também pode ser entendida como reação nociva e desagradável, resultante de intervenção relacionada ao uso de um medicamento, cuja identificação permite prever riscos de futura administração, assegurar a prevenção e tratamento específico, bem como determinar alteração da dose ou cessação do tratamento1.

 

Reações adversas a medicamentos são classificadas com base em diferentes critérios. A classificação de RAM mais aceita atualmente foi proposta por Rawlins e Thompson4, 5 que as agrupa em reações do tipo A ou previsíveis e reações do tipo B ou imprevisíveis.

 

As reações do tipo A resultam de uma ação ou de um efeito farmacológico exagerado e dependem da dose empregada, depois da administração de um medicamento em dose terapêutica habitual. São comuns, farmacologicamente previsíveis e podem ocorrer em qualquer indivíduo e, apesar de incidência e repercussões importantes na comunidade, a letalidade é baixa. Englobam reações produzidas por dose excessiva relativa, efeitos adversos e secundários, citotoxicidade, interações de medicamentos e características específicas da forma farmacêutica empregada. Podem ser tratadas por meio ajuste de doses ou substituição do fármaco2, 4, 6, 7.

 

As reações do tipo B caracterizam-se por serem totalmente inesperadas em relação às propriedades farmacológicas do medicamento administrado, e são incomuns, independentes de dose, ocorrendo apenas em indivíduos Susceptíveis e sendo observadas frequentemente nopós-registro. Englobam as reações de hipersensibilidade, idiossincrasia, intolerância e aquelas decorrentes de alterações na formulação farmacêutica, como decomposição de substância ativa e excipientes2, 4, 6, 7.

 

Esta classificação tem sido gradualmente estendida e denominada por outras letras do alfabeto, incluindo tipo C (reações dependentes de dose e tempo), D (reações tardias), E (síndromes de retirada), e tipo F (reações que produzem falhas terapêuticas)5.

 

As consequências às Reações adversas a medicamentos têm variedade, abrangendo desde reações de leve intensidade ou pouca relevância clínica até as que causam prejuízo mais grave como internações em hospital, incapacidade ou até morte. A letalidade por RAM pode alcançar 5% dos indivíduos acometidos, e cerca da metade (49,5%) das mortes e 61% das internações por RAM ocorrem em pacientes com 60 anos e mais. Alguns estudos mostraram que cerca de 4% das admissões em hospital nos Estados Unidos são devidas a RAM e que 57% destas reações não são reconhecidas no momento da admissão. Somando-se pacientes com RAM sérias que exigem internação àqueles com RAM ocorridas durante a permanência em hospital atinge-se mais de 2,2 milhões de pessoas por ano, 6.000 pacientes por dia. Nas duas situações, segundo o consenso de vários pesquisadores, em 32% a 69% essas reações são previsíveis8, 9.

 

Na Europa estima-se que 3% a 8% das admissões em hospital são consequentes de RAM. Este número pode chegar a 17% quando se trata de paciente idoso. Já a incidência de RAM em pacientes hospitalizados atinge a casa dos 20%10. Na Inglaterra, verificou-se que 6,5% das emergências hospitalares e 38.000 admissões hospitalares anuais ocorreram em consequência de RAM11. Revisões sistemáticas e metanálises recentes estimam que a taxa de mortalidade devida a RAM, na população geral, é em torno de 0.15%12.

 

No Brasil, em 2000, identificou-se a ocorrência de 25,9% de RAM em pacientes admitidos num hospital terciário, sendo que em 19,1% a reação foi causa da admissão e 80,8% ocorreu durante a permanência no hospital13.

 

As RAM são mais comuns do que se pode esperar e nunca se pode garantir que um medicamento seja completamente seguro. A determinação precisa do número de RAM ocorridas é, entretanto, virtualmente impossível devido a dificuldade em se avaliar a relação de causalidade e pela baixa proporção de notificações de RAM. A variedade da gravidade e dos medicamentos pelos quais são causadas e dos sítios de ocorrência fazem da identificação de uma RAM um processo muito complexo14.

 

É sempre difícil estimar a incidência de RAM com base em notificações espontâneas pela incerteza inerente à estimação do denominador e do grau de subnotificação. No entanto, sempre que possível, uma estimação de frequência deve ser apresentada de forma padrão, como a recomendada pelo Council for International Organizations of Medical Sciences (CIOMS)15, que classifica como muito comuns aquelas cuja frequência ultrapasse 10%, comuns entre 1% e 10%, incomuns entre 0,1% e 1%, raras entre 0,01% e 0,1% e muito raras quando menor que 0,01%.

 

O primeiro passo para se identificar uma suspeita de RAM é distingui-la dos erros de medicação. Estes consistem em desvios no processo de tratamento, incluindo erros de prescrição, transcrição da prescrição, dispensação, administração ou monitoria. Todavia, RAM advindas de erros de tratamento farmacológico acontecem e são consideradas previsíveis16.

 

De maneira geral, alguns dos seguintes aspectos devem ser observados na identificação e estabelecimento de validade de uma suspeita de RAM: existência de dados epidemiológicos prévios, relação temporal com o uso do fármaco, resposta diante da cessação e reintrodução do fármaco, identificação de causas alternativas, presença de alterações nos exames de laboratório ou na concentração plasmática do fármaco suspeito, ou de ambos17.

 

Outro enfoque na identificação de RAM refere-se à gravidade com que se apresentam. Aquelas consideradas de leve a moderada são geralmente encontradas durante a realização de ensaios clínicos, já as graves e sérias requerem maior atenção, uma vez que a incidência ocorre principalmente na pós-comercialização, podendo determinar a elevação dos custos em saúde e prejuízo irreparável aos pacientes afetados. Uma RAM grave é designada pela intensidade com que ocorre, enquanto a de natureza séria diz respeito aos possíveis desfechos da reação, determinado o quanto ameaçadora e fatal ela pode ser, ou pelo poder de produzir sequelas incapacitantes no paciente14.

 

As reações sérias normalmente apresentam-se em sítios dermatológicos e hematológicos e são caracterizadas pela interação do fármaco com o sistema imune humano. O que mais preocupa nesses tipos de reações é que não se pode prever a ocorrência delas, tornando-as em potente ameaça. Desta forma, a maneira de preveni-las seria não administrar o medicamento16.

 

A máxima primum no nocere (em primeiro lugar não causar dano) fundamenta o que na atualidade se denomina relação benefício-risco terapêutico, e implica no uso racional dos medicamentos. A partir do conhecimento e das provas científicas, a decisão clínica torna-se mais reflexiva e assertiva, de maneira a buscar maiores graus de segurança para o paciente por ocasião das intervenções terapêuticas 18. Desta forma, a ciência e as atividades relativas à identificação, avaliação, compreensão e prevenção dos efeitos adversos ou qualquer outro problema relacionado com medicamentos é denominada farmacovigilância3.

 

Em farmacovigilância, o primeiro alerta que descreve o problema de segurança com o uso de um medicamento é denominado sinal, o que pode ser compreendido como comunicado de informação sobre uma possível relação causal entre um evento adverso e um medicamento, sendo a relação desconhecida ou documentada previamente de maneira incompleta. Normalmente mais de uma notificação é necessário para gerar um sinal, dependendo da gravidade do caso e da qualidade da informação. A identificação do sinal é uma das metas mais importantes da farmacovigilância; todo o processo de avaliação de benefício risco depende da identificação eficiente de sinais, com base na notificação espontânea de RAM. Estas notificações são cuidadosamente estudadas e classificadas em uma base de dados. Um padrão é estabelecido por método científico de cálculo segundo tabelas de dados e isto dá uma ideia razoável dos sinais com probabilidade de se elevarem a efeitos adversos19.

 

Todo o escopo do programa internacional de vigilância dos medicamentos na pós-comercialização tem sede no Uppsala Monitoring Centre da Organização Mundial da Saúde. É para este centro que seguem as notificações de ocorrências de RAM originadas nos 98 países membros. Nos últimos cinco anos, Nova Zelândia, Estados Unidos, Suíça e Austrália têm se destacado quanto a número de notificações de RAM enviadas ao centro, que acumula desde sua criação, em 1968, até o momento, mais de cinco milhões de notificações20.

 

O Brasil integra o programa desde 2001, quando foi criado o Centro Nacional de Acompanhamento de Medicamentos (CNMM) e implantado o Sistema Nacional de Farmacovigilância. O CNMM está situado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mais especificamente na Gerência de Farmacovigilância. O Sistema encontra-se em desenvolvimento e vem utilizando algumas estratégias de expansão como a Rede de Hospitais Sentinela, o Programa de Farmácias Notificadoras, o Notivisa, sistema eletrônico de notificação de eventos adversos e queixas técnicas de medicamentos, e a exigência de elaboração e envio à autoridade sanitária dos Relatórios Periódicos de Farmacovigilância (RPF) pelas empresas detentoras de registros de medicamentos no país21.

 

Em apoio ao Sistema Nacional de Farmacovigilância, os Centros de Informação sobre Medicamentos (CIM) e os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIAT) são serviços apropriados de apoio ações de vigilância de medicamentos e reações adversas, entre outras. Atuando, segundo as características de cada um, como fonte de informação farmacológica, terapêutica e toxicológica atualizada, objetiva, oportuna e independente, e de assistência toxicológica, com base na literatura científica internacionalmente reconhecida22.

 

O CNMM está apto a receber as notificações de RAM provenientes de todo território nacional. No entanto, para que o sistema se concretize, são necessários sensibilização e reconhecimento pelos profissionais da saúde quanto a importância e a repercussão de se consolidar dados sobre RAM, e consequentemente a integração desses profissionais ao sistema21.

 

A notificação de suspeita de RAM é voluntária, portanto, sua prossecução depende totalmente do interesse e da responsabilidade do profissional com relação ao paciente atendido e com a saúde da sociedade. As autoridades sanitárias orientam para que sejam notificadas ao menos as RAM ocorridas com medicamentos recém-introduzidos no mercado, ou ainda que sejam fatais, ameaçadoras, incapacitantes, que resultem em internação ou aumento de permanência no hospital, que determinem anomalias congênitas, ou que sejam clinicamente graves12, 16.

 

Ainda, retornando à questão da relação benefício-risco do uso de medicamentos, se torna evidente que a consolidação no sistema, das RAM ocorridas no país, pode subsidiar decisões para alterações de bulas, restrições de uso e até a retirada de medicamentos do mercado ou mudança da categoria de venda destes produtos pela autoridade sanitária reguladora3, 21.

 

Voltando-se para os recursos fármaco terapêuticos empregados no país, verifica-se que vários medicamentos, cuja venda foi condenada em outros países, são comumente utilizados por nossa população. Verifica-se também que, embora provas científicas apontem para a retirada desses medicamentos do mercado, ainda assim se faz necessário que dados fármaco epidemiológicos de caráter local sejam fornecidos pela rede de saúde, tendo em vista melhorar a eficiência da regulação de medicamentos no país. Desta forma, pode-se contribuir para que os medicamentos utilizados pela sociedade brasileira sejam eficazes e seguros.

 

 

Referências

 

 

1.EDWARDS, I. R.; ARONSON, J. K. Adverse drug reactions: definitions, diagnosis, and management. Lancet. v. 356, n. 9237, p.1255-1259, 2000.

2.MAGALHÃES, S. M. S.; CARVALHO, W. S. Reações adversas a medicamentos. In: GOMES, M. J. V. M.; MOREIRA, A. M. (Org.) Ciências Farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar. São Paulo: Atheneu, 2001. p. 125-45.

3.WORLD HEALTH ORGANIZATION. The Importance of pharmacovigilance: safety monitoring of medicinal products. Geneva: World Health Organization, 2002.

4.LAPORTE, J. R.; CAPELLÀ, D. Mecanismos de producción y diagnóstico clínico de los efectos indeseables producidos por medicamento. In: LAPORTE, J. R.; TOGNONI, G. (Ed.). Principios de epidemiología del medicamento. 2. ed. Barcelona: Masson, 1993. p. 99-100.

5.ARONSON, J. K.; FERNER, R. E. Joining the DoTS: new approach to classifying adverse drug reactions (dose relatedness, timing, and patient susceptibility) (Education and Debate). BMJ, v. 22, n. 327, p. 1222-1225, 2003.

6.LAZAROU, J.; POMERANZ, B. H.; COREY, P. N. Incidence of adverse drug reactions in hospitalized patients: a meta-analysis of prospective studies. JAMA, v. 15, n. 279, p.1200-11205, 1998.

7.LEE, A.; THOMAS, S. H. L. Adverse drug reactions. In: WALKER, R.; EDWARDS, C. (Ed.). Clinical pharmacy and therapeutics. 3rd. ed. Edinburg: Churchil Livingstone, 2003. p. 33-46.

8.PUBLIC CITIZEN’S HEALTH RESEARCH GROUP. Adverse drug reactions: how serious is the problem and how often and why does it occur. Disponível em: <http:// www.worstpills.org/public/page.cfm?op_id=4>. Acesso em: 2 jun. 2007.

9.MOORE, N. et al. Frequency and cost of serious adverse drug reactions in a department at general medicine. Br. J. Clin. Pharmacol., v. 45, n. 3, p. 301-308, 1998.

10.PIRMOHAMED, M. Adverse drug reactions: a preventable problem. Clin. Pulse, v. 68, p. 63-67, 2004.

11.ROUTLEDGE, P. A.; O’MAHONY, M. S.; WOODHOUSE, K. W. Adverse drug reactions in elderly patients. Br. J. Clin. Pharmacol., v. 57, n. 2, p. 121–126, 2003.

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Fonte: https://www2.medicinanet.com.br/conteudos/biblioteca/2545/reacoes_adversas_a_medicamentos.htm

 

 

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