O Cérebro - Demência |
Escrito por Roger Soares |
O que são demências
Demências são doenças do cérebro ou, em termos técnicos, patologias neurológicas que se evidenciam pelo comprometimento progressivo das funções cognitivas. Tais funções incluem a memória, a capacidade de se orientar no tempo e no espaço, a atenção e a concentração, a linguagem e as funções executivas que incluem o planejamento, a flexibilidade mental e a abstração. As duas causas de demência de maior prevalência em nosso meio são a Doença de Alzheimer e a Demência Vascular(decorrente do acidentes vasculares cerebrais). Embora a maioria dos quadros demenciais sejam progressivos e irreversíveis, sempre há algum tratamento a fazer para melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares.
O termo “demência” é carregado de preconceito, tanto que alguns autores e pesquisadores sugerem utilizar a locução “declínio cognitivo” como substituto mais neutro. De fato, ser chamado de demente é uma forma de insulto em muitas línguas. Ainda que a iniciativa seja válida em suas intenções, compreendemos que a palavra demência engloba mais que apenas o declínio cognitivo. Os profissionais da área, e mesmo leigos informados, sabem que ao diagnosticar um paciente com demência de Alzheimer estamos incluindo sintomas comportamentais e até motores que fazem parte da doença, ultrapassando o declínio cognitivo que caracteriza as fases iniciais da moléstia.
Seja como for, o que precisamos ter em mente é que a população mundial está envelhecendo e a freqüência de pessoas com demências vem aumentando. Se observarmos a figura abaixo que mostra a distribuição da população por sexo e faixa etária, veremos que da década de 80 para o ano 2000 tivemos uma diminuição das faixas mais jovens e um aumento das faixas mais velhas. Isso significa que nossa taxa de natalidade diminuiu e nossa expectativa de vida aumentou.
As decorrências desses fatos são que doenças idade-dependentes tornam-se mais freqüente. Para se ter uma idéia, basta ver que na Doença de Alzheimer a presença da doença duplica a cada 5 anos depois dos 65 anos. Ou seja, o risco de uma pessoa com 75 anos ter Alzheimer é quatro vezes maior que aos 65. Desse modo, descobrir mais sobre as demências e como preveni-las ou tratá-las é assunto de máxima importância. Como podemos dar o melhor tratamento para nossos familiares acometidos e como evitar de desenvolver, nós mesmos, essas doenças são perguntas que devem ser feitas.
Nosso modo de vida está se modificando com o passar das últimas décadas. Atualmente, a formação educacional é mais demorada e coloca as pessoas no mercado de trabalho mais tarde. Para exercer a profissão de médico, por exemplo, são necessários 12 anos de escola, 6 anos de faculdade e mais 3 a 6 anos de especialização. Dessa maneira, o indivíduo inicia sua carreira profissional a partir dos 28 anos, em média. Em contrapartida, a vida útil profissional também se alonga sendo admissível um advogado exercer a profissão para além dos 70 anos. Já nas atividades que dependem mais da força física e menos da formação técnica, a vida profissional se inicia mais cedo e também termina antes. Essas pessoas também estão vivendo mais e representam uma preocupação em termos de inclusão social e distribuição de riquezas.
Com o avanço da ciência e da tecnologia, criamos um tipo de sociedade na qual o território ou o patrimônio estável de um empresa não é mais o maior determinante de sua capacidade de sobrevivência. O capital intelectual representado pela alta especialização de seus colaboradores, bem como sua inteligência e criatividade são os recursos mais preciosos no mundo corporativo. No plano individual, aprender a preservar e até expandir suas habilidades e competências cognitivas e comportamentais ao longo da vida significa garantir sua própria presença nesse mundo de constante transformação. O estudo do cérebro e suas patologias há muito ultrapassou as fronteiras do interesse exclusivamente médico para atingir toda a sociedade.
Tipos de Demências
Quando se fala em demência, a maioria das pessoas pensa na Doença de Alzheimer que é realmente a principal causa de demência degenerativa. Contudo, outras formas de doença existem e que têm causas e evolução bem distintas do Alzheimer. A tarefa do neurologista ao se deparar com um paciente que vem perdendo a memória e outras funções cognitivas é saber se ele tem uma demência e de qual tipo. Nesse texto faremos uma breve explanação sobre as principais causas de demência e suas patologias associadas.
A Doença de Alzheimer
A doença de Alzheimer é a principal causa de demência degenerativa. Sua causa é a degeneração dos neurônios(as células cerebrais) decorrente do depósito de duas proteínas anômalas entre as células e dentro delas: a proteína beta-amilóide e a proteína tau. Clinicamente é caracterizada pela perda lentamente progressiva da memória, associada ao comprometimento das funções de orientação no tempo e no espaço, linguagem etc.
Com a evolução da doença, além da perda das capacidades intelectuais, é freqüente observar-se alterações de comportamento como depressão, , agitação psicomoto, agressividade e outros transtornos do afeto. As alucinações visuais e auditivas não são incomuns conforme a doença avança. Com o passar do tempo, o controle motor também é perdido e o paciente tem dificuldade ou perda da capacidade de se locomover, perdendo também o controle da urina e fezes.
A duração média de vida do paciente com Alzheimer é de 5 a 9 anos, mas muitos vão bem além disso. As infecções intercorrentes colaboram para acelerar a doença e, eventualmente, causam o problema que termina a vida. Até o momento não existem tratamentos curativos para o Alzheimer, mas há várias medicações que diminuem os sintomas e até a progressão da moléstia.
A Demência Vascular
O Acidente Vascular Cerebral(AVC) se transformou, na última década, na principal causa de morte no mundo, ultrapassando o infarto do miocárdio. Além dos problemas motores e demais distúrbios neurológicos focais causados pelo AVC, também as funções intelectuais podem ficar comprometidas, levando a um quadro de Demência Vascular.
A doença vascular cerebral pode levar a um declínio cognitivo por vários mecanismos. Se uma pessoa tem um único AVCI grande o suficiente ou que seja localizado em um ponto estratégico do cérebro, isso já é o bastante para causar uma Demência Vascular. Essa forma de demência é chamada de Demência por Infarto Cerebral Único ou Estratégico.
Alguns pacientes têm vários AVC’s, destruindo diferentes áreas cerebrais e resultando na interrupção de várias conexões cruciais para o desempenho cognitivo. Isso é o que chamamos de Demência Multi-infarto. Cabe ressaltar que o fato de ter tido um AVC prévio continua sendo o principal fator de risco para o acontecimento de novos AVC’s. Por isso, as pessoas que já tiveram um evento vascular cerebral devem ter um acompanhamento estrito com neurologista e tomar as medidas necessárias para evitar a repetição do quadro.
Ainda dentro das Demências Vasculares, outro mecanismo implicado no declínio cognitivo é a doença de pequenos vasos. Pacientes hipertensos, diabéticos, obesos e com problemas de colesterol são especialmente sujeitos à degeneração dos pequenos vasos cerebrais que levam também a um quadro demencial. Como nesse caso são artérias muito finas que vão se fechando aos poucos, o indivíduo não tem os sintomas de um AVC típico. À medida que as lesões da substância branca do cérebro ocorrem, elas vão se somando até que se manifestam como perda de memória, atenção, concentração etc. Esse é o panorama da Demência Vascular causada pela Degeneração Vascular Isquêmica Subcortical. O importante é que o tratamento correto dos fatores de risco – diabetes, hipertensão e colesterol – pode evitar o surgimento dessa demência.
A Doença de Corpos de Lewy
Depois do Alzheimer, a Doença de Corpos de Lewy é a segunda maior causa de demência degenerativa. Seus sintomas são bastante diferentes do Alzheimer e podem se confundir com a doença de Parkinson com a qual compartilha certas características microscópicas.
A Demência de Corpos de Lewy está associada à deposição dos corpos intracelulares de Lewy. Esses corpúsculos são condensações de uma proteína denominada sinucleína e também ocorre na Doença de Parkinson. A diferença é que no Parkinson os depósitos estão predominantemente localizados na substância negra do mesencéfalo, enquanto que na Demência de Corpos de Lewy se distribuem por todo o cérebro.
De fato, a doença de Corpos de Lewy se manifesta com rigidez no corpo e lentidão motora, tal qual ao Parkinson, porém sem responder bem à medicação. Além do quadro motor, esses pacientes também apresentam com muita freqüência alucinações visuais estruturadas e costumam ver crianças, anões ou duendes. Outro sintoma interessante desse tipo de demência é um distúrbio de sono característico no qual o paciente sonha que está lutando e se debate durante a noite, correndo ou dando socos, podendo até mesmo atingir o(a) companheiro(a) ou cair da cama.
O distúrbio cognitivo na Doença de Corpos de Lewy é um pouco diferente da demência de Alzheimer. Antigamente, esse padrão era denominado de demência subcortical, termo que vem caindo em desuso. A característica principal é uma lentidão do pensamento, com rigidez mental, dificuldade de abstração e incapacidade para planejar e executar tarefas complexas. O comprometimento da memória ocorre um pouco mais tardiamente. A resposta ao tratamento e a forma de tratar também é diferente do Alzheimer.
A Hidrocefalia de Pressão Normal
Quando a produção e drenagem do líquido cefalo-raquidiano não ocorre adequadamente, pode haver um acúmulo de líquido no cérebro denominado de Hidrocefalia. Em alguns pacientes a hidrocefalia não determina um aumento importante da pressão intracraniana mas acaba levando a um comprometimento cognitivo e motor característico, denominado de Hidrocefalia de Pressão Normal.
O quadro clínico da hidrocefalia de pressão normal(HPN) é classicamente descrito por uma tríade composta de: declínio cognitivo progressivo(demência), dificuldade à marcha e incontinência urinária. O distúrbio cognitivo é também de característica “subcortical”. A marcha é feita com pequenos passos, o paciente tem dificuldade para fazer meia-volta, apoiando-se sobre um único pé como um pivô.
Quando a incontinência ou o distúrbio de marcha aparecem primeiro, a resposta ao tratamento é melhor. O indicado nesses casos é uma cirurgia para a colocação de uma válvula com a finalidade de drenar o excesso de líquor e diminuir a pressão no cérebro. Essa é uma das poucas demências potencialemente reversíveis e seu diagnóstico e tratamento correto é fundamental.
Outras Demências
Além das causas de demência acima mencionadas, existem ainda outras como as decorrentes de infecções, as degenerativas relacionadas à doença de Huntington, as degenerações frontotemporais, as paraneoplásicas e muitas outras que requerem atendimento neurológico especializado para a formulação do diagnóstico e do tratamento.
Uma fração considerável das demências pode ser reversível e deve ser diagnosticada precocemente por métodos adequados. A maior parte, ainda que irreversível e progressiva, também são sujeitas a tratamentos que alteram o curso da doença e melhoram a qualidade de vida do paciente.
O atendimento multidisciplinar ao paciente demenciado, incluindo a colaboração de neurolgistas, geriatras, psiquiatras, neuropsicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais têm mudado a forma de enfrentar essas patologias tão desafiadoras. O envolvimento e preparação de familiares, cuidadores e outros profissionais de clínicas de longa permanência também se traduzem em conforto e respeito ao paciente.
Fonte: http://www.doutorcerebro.com.br/portal/o-cerebro/10-demencia/19-demenciatipos
http://www.doutorcerebro.com.br/portal/o-cerebro/10-demencia/18-demenciaintro
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quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Demências
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