Obstrução urinária
"Toda a obstrução do fluxo da urina em qualquer ponto das vias urinárias deve ser detectada e tratada oportunamente, pois pode favorecer o desenvolvimento de infecções e alterar o funcionamento dos rins."
Tipos
De acordo com a localização do ponto de obstrução do fluxo de urina, a doença pode ser classificada em dois tipos. Na obstrução urinária supravesical, a obstrução situa-se num segmento anterior a bexiga, ou seja, nos cálices renais, nos bacinetes ou nos uréteres. Nestes casos, a doença pode ser unilateral, caso exista uma obstrução apenas num dos lados das vias urinárias, ou bilaterais, caso exista um obstáculo em ambos os lados. Na obstrução urinária infravesical, a obstrução localiza-se na bexiga ou na uretra, comprometendo o fluxo da urina nos dois lados das vias urinárias superiores. Em ambos os casos, é possível distinguir duas formas da doença, de acordo com o grau de obstrução: obstrução urinária completa, caso o fluxo de urina seja completamente interrompido, e obstrução urinária incompleta, caso a urina consiga fluir, apesar do obstáculo, com maior ou menor dificuldade. Por fim, segundo a sua duração, pode-se falar de obstrução urinária aguda, quando o problema se apresenta bruscamente, embora desapareça geralmente ao fim de alguns dias, ou de uma obstrução urinária crónica, quando se desenvolve de maneira progressiva e se mantém durante um período prolongado, no mínimo durante várias semanas ou indefinidamente.
Causas
A obstrução urinária pode ter origens muito variadas. Uma das causas mais frequentes corresponde a litíase urinária, ou seja, a formação de cálculos no interior das vias urinárias. Estes cálculos podem originar, segundo a sua localização e tamanho, praticamente qualquer tipo de obstrução urinária.
Uma causa igualmente frequente da doença são os processos infecciosos persistentes ou repetidos das vias urinárias, sobretudo da uretra, bexiga e bacinete, pois a sua consequente inflamação pode acabar por estreitar, em maior ou menor medida, a entrada de algum dos canais por onde circula a urina.
Para além disso, os tumores das próprias vias urinárias e os dos órgãos vizinhos (sobretudo os da próstata) podem provocar uma obstrução urinária, devido a obstrução dos canais, no primeiro caso, ou devido a compressão externa dos mesmos, no segundo caso.
Por fim, noutras situações, a obstrução é provocada ou favorecida por razões muito diversas, tais como a existência de alterações na anatomia das vias urinárias ou problemas nos mecanismos nervosos que intervêm na micção (por exemplo, a bexiga neurogénica).
Sintomas e complicações
As manifestações variam bastante conforme o tipo, a duração e a gravidade da obstrução.
Na obstrução urinária supravesical aguda, quase sempre provocada pelo encravamento de um cálculo num dos canais das vias urinárias superiores, a manifestação mais frequente 6 a cólica renal, ou seja, uma dor intensa que surge bruscamente na zona baixa das costas, costumando alastrar para um dos lados ou para a área inguinal do mesmo lado. Estes episódios não costumam dar origem a complicações; no entanto, nos casos mais graves, podem provocar uma insuficiência renal aguda ou infecções nos tecidos vizinhos, tais como perinefrites ou abcessos perirrenais.
A obstrução urinária supravesicular crónica costuma ser provocada por processos infecciosos não tratados ou mal curados, litíase ou tumores. Embora estas doenças costumem originar vários sinais e sintomas, nomeadamente cólicas renais repetidas, em muitos casos, a obstrução em si evolui de forma assintomática, apesar de a urina continuar a acumular-se nos segmentos superiores a obstrução.
As complicações das obstruções supravesiculares aguda e crónica são, obviamente, mais frequentes e graves quando a obstrução é completa, quando afectam uma pessoa que apenas possui um rim em funcionamento e nos casos raros em que compromete, ao mesmo tempo, ambos os lados das vias urinárias superiores.
A obstrução urinária infravesical aguda, normalmente provocada por cálculos que obstruem a uretra, como costuma bloquear por completo a eliminação da urina, provoca uma retenção urinária. Neste caso, as manifestações mais graves são a necessidade de eliminar a urina e a impossibilidade de o fazer, associada a uma dor provocada pela súbita e progressiva dilatação da bexiga. Esta situação pode ser corrigida através do tratamento adequado ou até espontaneamente, por exemplo, caso o cálculo encravado se desloque ou seja finalmente expulso com a urina. De qualquer forma, se a obstrução persistir, a urina vai-se acumulando e dilatando as vias superiores de ambos os lados, acabando por se infiltrar no tecido renal, o que favorece o desenvolvimento de infecções ou até de uma insuficiência renal aguda.
A obstrução urinária infravesical crónica é mais frequente nos homens com mais de 50 anos de idade e costuma ser provocada por doenças da próstata. Durante as primeiras fases, como a obstrução não total, os sintomas mais comuns são a perda de força do jacto urinário, micções pouco volumosas e muito frequentes e uma sensação quase permanente de vontade de urinar. Contudo, nas fases mais avançadas, começa a surgir uma sensação moda ou uma dor durante as micções (disúria), sendo frequentes as complicações infecciosas na uretra, que se manifestam por ardor e pequenas perdas de sangue com a urina. Por fim, caso a obstrução seja total, provoca uma retenção urinária com todas as suas manifestações e eventuais complicações.
Tratamento
O tratamento baseia-se, sempre que possível, na correcção da causa da obstrução urinária e na prevenção ou tratamento das possíveis complicações, como as infecções ou a insuficiência renal. Todavia, enquanto não se consegue a correcção da causa da obstrução, pode ser necessário recorrer a algum procedimento que vise a resolução da própria obstrução, de forma a garantir a eliminação da urina acumulada nas vias urinárias. Esta desobstrução pode ser realizada de várias maneiras, de acordo com a localização da obstrução, a natureza e a gravidade.
Em muitos casos, se a obstrução se situar na uretra, na bexiga ou num uréter, a sua desobstrução costuma ser realizada através de uma algaliação urinária, ou seja, na introdução através do meato urinário de um cateter especial, de vários tipos segundo a dimensão do obstáculo. Em alguns casos de obstrução crónica, a algaliação urinária deve ser realizada durante prolongados períodos de tempo, de modo a garantir a completa drenagem da urina.
Caso não se consiga eliminar a obstrução através do método citado ou caso esta se situe nos segmentos superiores das vias urinárias, pode ser necessário recorrer a outros procedimentos. Um deles corresponde a punção suprapúbica, ou seja, a introdução de uma agulha grossa (trocarte) através da parede abdominal, por cima da púbis, até a bexiga. Uma outra possibilidade consiste na introdução de um cateter através de uma punção na zona lombar, por exemplo, até alcançar directamente um bacinete. Em último caso, deve-se recorrer a cirurgia.
Fonte: http://www.medipedia.pt/home/home.php?module=artigoEnc&id=292
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