segunda-feira, 27 de abril de 2015

SÍNDROME DE CONGESTÃO PÉLVICA

O QUE É SÍNDROME DE CONGESTÃO PÉLVICA?


Pelo menos 1/3 das mulheres com idade reprodutiva são afetadas por esse problema cuja origem, na maioria das vezes é incerta.


O QUE É SÍNDROME DE CONGESTÃO PÉLVICA?


A dor pélvica crônica é definida como uma dor da região superior da pelve, popularmente conhecida como ?pé da barriga? com 6 meses de duração. Esta é uma situação muito comum e representa um problema para a saúde da mulher.

Pelo menos 1/3 das mulheres com idade reprodutiva são afetadas por esse problema cuja origem, na maioria das vezes é incerta. 

A Síndrome de congestão pélvica tem sido reconhecida como uma causa freqüente de dor pélvica crônica e é provocada pelo fluxo de sangue retrógrado nas veias gonadais que se apresentam incompetentes e se dilatam formando verdadeiras varizes na região do abdome e pelve. 

As veias gonadais (ovarianas) levam sangue dos ovários para o coração; mas essa tarefa é feita contra a gravidade e por isso as veias costumam ter um mecanismo valvular que impede que o sangue fique retido dentro da veia.

Com o passar do tempo e principalmente nas mulheres que passam por situações onde aumenta a pressão intra-abdominal como é o caso da gravidez, esse sistema valvular fica insuficiente e o sangue começa a ficar retido dentro das veias e se formam as varizes.

Por isso a congestão pélvica é mais comum nas mulheres que tiveram várias gestações.

Os sintomas clássicos incluem graus diversos de dor de pélvica e lombar que se agrava quando a paciente está de pé ou ao se exercitar, e por isso é mais intensa no final do dia. Muito comumente a dor piora com a relação sexual.


COMO FAZER O DIAGNÓSTICO?


O exame clínico da pelve é ineficiente para reconhecer as varizes pélvicas. 

O método diagnóstico inicial é o ultra-som transvaginal com Doppler. 

O ultra-som com Doppler permite identificar a presença de veias dilatadas e refluxo anômalo quando aumenta a pressão intra-abdominal.


QUAL A MELHOR FORMA DE TRATAMENTO?


» A embolização é uma forma de tratamento muito simples, eficiente e segura. É um procedimento realizado com anestesia local.

» O objetivo da embolização é acabar com a carga de pressão no interior da veia gonadal, que é transmitida para as veias da pelve e varizes. Esse objetivo é atingido pela oclusão da veia gonadal. 

» O procedimento de embolização é precedido de um estudo das veias gonadais chamado venografia por cateter que permite mapear e determinar as características das veias e colaterais.

» Este cateterismo pode ser realizado através de uma punção na virilha, no pescoço ou no braço.

» Depois de comprovado o refluxo o cateter é colocado dentro das veias gonadais para proceder com a sua oclusão.

» A embolização se realiza mediante a injeção de dispositivos metálicos denominados coils ou de substâncias esclerosantes ou adesivas.

» O procedimento de embolização é muito bem tolerado. As pacientes referem uma dor discreta nas primeiras 24/48hs que é facilmente controlada com analgésicos comuns e antiinflamatórios orais.

» A maioria das pacientes consegue retomar as suas atividades depois de dois ou três dias.


CONCLUSÃO:


Mulheres com dor em baixo ventre que piora com a relação sexual podem ter a síndrome da congestão venosa pélvica, não deixem de procurar seu ginecologista e de consultar um angiologista/ cirurgião vascular, pois o tratamento é minimamente invasivo e com alta taxa de resolução.

Fonte: http://www.institutonovacampinas.com.br/site/novidades/?id_noticia=52



Cardiomiopatia Alcoólica

Cardiomiopatia Alcoólica

Trata-se de um transtorno difuso do músculo do coração, observado em indivíduos com história de consumo exagerado de álcool por, geralmente, no mínimo 10 anos. Esses pacientes apresentam caracteristicamente uma insuficiência biventricular do coração.

Os sintomas mais comuns da Cardiopatia Alcoólica incluem diminuição do fôlego durante pequenos esforço e mesmo deitado (dispnéia noturna), palpitações, edema de tornozelos e distensão abdominal (devido à ascite). É comum o transtorno do ritmo cardíaco; a fibrilação auricular é a mais frequente arritmia. A cardiopatia alcoólica deve ser diferenciada do beribéri cardíaco e de uma forma da "cardiomiopatia dos bebedores de cerveja", causada pelo envenenamento por cobalto.

Todos nós sabemos que o consumo de álcool não é apenas um vício, mas também afeta a saúde de um indivíduo. Isto é devido ao fato de que o álcool contém toxinas que quando entram no corpo pode lentamente deteriorar as funções e levar à falência de órgãos. O álcool aumenta a toxicidade no sangue, que, quando transportado para outros órgãos no corpo pode degenerar os tecidos dos órgãos. Uma doença cardíaca, que é causada devido a uma ingestão excessiva de álcool é a cardiomiopatia alcoólica. Isto pode ser visto nos homens principalmente com idades entre 35 a 55 anos e pode também desenvolver-se em qualquer indivíduo que está sob uma influência prolongada de dependência do álcool. Embora o álcool afeta o corpo inteiro, os principais órgãos afetados são o coração e o fígado. O álcool leva ao mau funcionamento do coração. Disfunção diastólica cardiomiopatia alcoólica, causada devido a intoxicação por álcool, pode prejudicar o coração, causando falência múltipla de órgãos, uma condição que pode ser fatal. As câmaras do coração, incluindo os vasos sanguíneos, pode ter inchaço, o que pode resultar na cardiomiopatia dilatada. O consumo excessivo de álcool também pode levar a outro tipo de cardiomiopatia chamada miocardiopatia isquêmica. Vamos dar uma olhada nos sintomas, métodos de tratamento e prognóstico da cardiomiopatia alcoólica.

Sintomas Alcoólicas  Cardiomiopatia 

Os sinais e sintomas da cardiomiopatia alcoólica geralmente são subjugadas nos estágios iniciais. No entanto, os sintomas podem vir à tona, uma vez que a condição tem se intensificado. Dada a seguir são alguns dos sintomas da cardiomiopatia alcoólica, que pode ser observada em um indivíduo afetado por insuficiência cardíaca congestiva.
  • A pessoa pode se queixar de dor no peito e uma sensação de desconforto. Sopro cardíaco também pode ser ouvido durante o exame do peito. 
  • Inchaço das extremidades inferiores pode ser observado. Às vezes o corpo inteiro pode inchar devido à retenção de líquido. 
  • Os palpitações do coração, acompanhado de falta de ar pode ser sentida durante uma atividade. O indivíduo também pode sentir a respiração tensa enquanto está deitado. 
  • O indivíduo pode ter uma necessidade extrema de urinar à noite, uma condição conhecida como notúria. No entanto, a produção de urina pode ser baixo (oligúria) contraditória com o desejo. 
  • O indivíduo pode sentir perda de energia e fadiga devido a uma diminuição dos níveis de oxigénio no sangue.
  • Um sentimento de plenitude ou sensação de inchaço pode ser experimentada devido a um aumento do fígado.
  • Os Outros sintomas observados que podem ser notados em uma pessoa que sofre de cardiomiopatia alcoólica são sons anormais nos pulmões, inchaço nas veias do pescoço, pressão arterial anormalmente baixo etc.
Prognóstico Cardiomiopatia alcoólica e Tratamento

O diagnóstico pode incluir eletrocardiograma (ECG), radiografia de tórax, e uma angiografia coronária, etc. Uma vez que a condição exata do coração é diagnosticada, o médico pode administrar o tratamento adequado. No caso de insuficiência cardíaca, diuréticos, bloqueadores beta e inibidores da ECA pode ser administrada para remover o excesso de fluido a partir dos órgãos do corpo. Um dispositivo conhecido como desfibrilhador implantável (CDI) pode ser inserido no corpo para melhorar a capacidade de bombeamento do coração. Se cardiomiopatia alcoólica torna-se irreversível, então o médico pode aconselhar o paciente se submeter a uma cirurgia de transplante de coração.


Infelizmente, o prognóstico de cardiomiopatia alcoólica é muito pobre. Em caso de dano cardíaco grave, devido ao álcool, a condição não pode ser revertida. Uma lesão cardíaca irreversível e falha pode resultar na morte do indivíduo. No entanto, se o indivíduo totalmente abstém de abuso de álcool e os sintomas são diagnosticados cedo, então há chances de que a saúde do indivíduo pode melhorar.

Este foi um breve resumo sobre os sintomas, tratamento e prognóstico da miocardiopatia alcoólica. É aconselhável deixar o álcool e todos os outros vícios, já que é uma das melhores maneiras de evitar esta doença degenerativa de afetar você. É essencial tomar cuidado apropriado de sua saúde do coração para viver uma vida longa e livre de doença. Mantenha-se saudável!

Fonte: http://www.abcdacardiologia.net/2014/01/cardiomiopatia-alcoolica.html

segunda-feira, 20 de abril de 2015

FISIOPATOLOGIA DA DOR

A dor pode ser definida como uma sensação desagradável, criada por um estímulo nocivo, e que atinge o sistema nervoso central por meio de vias específicas.

A dor é causada pela modificação das condições normais de um organismo vivo. Esse organismo necessita apresentar capacidade de responder, com reações de adaptação, às modificações que ocorrem no meio ambiente.

Graças à variedade de reações às modificações do meio ambiente e próprias, cada organismo representa um complexo sistema condicionado, cujas forças internas a cada momento equilibram-se com as externas do meio ambiente. Esse equilíbrio é expressado na variabilidade de suas reações de resposta à ação dos agentes do mundo exterior e próprias. Para isso, nos animais desenvolve-se o sistema nervoso, que adquire especial significado na regulação das funções orgânicas.

Os principais processos envolvidos na experiência sensorial da dor são dois: a percepção da dor e a reação à dor.

PERCEPÇÃO E REAÇÃO À DOR

A percepção da dor envolve mecanismos anátomo-fisiológicos, pelos quais um estímulo nocivo capaz de gerá-la é criado e transmitido por vias neurológicas desde os receptores da dor. Esta fase da dor é praticamente igual em todos os indivíduos sadios, mas pode ser alterada por doenças, pois a capacidade de perceber a dor depende, sobretudo, da integridade do mecanismo neural envolvido.
A reação à dor vem a ser a manifestação do indivíduo de sua percepção de uma experiência desagradável. Esta fase do processo da dor envolve fatores neuroanatômicos e fisiopsicológicos extremamente complexos que englobam o córtex, sistema límbico, hipotálamo, tálamo, e que determinam exatamente a conduta do paciente a respeito de sua experiência desagradável.
Em clínica essas duas características devem ser consideradas no controle da dor. Em pacientes excessivamente apreensivos apenas a aplicação da anestesia local pode ser inadequada. Devido ao medo e à ansiedade essas pessoas podem, subconscientemente, interpretar mal estímulos não-nocivos. Sistemas centrais de integração podem operar de tal maneira que estímulos banais, não-nocivos, sejam interpretados como doloroso. Em muitos casos, o controle da percepção da dor pelo uso de anestésicos locais deve estar associado com o emprego de analgésicos e drogas psicoativas para o controle da reação à dor.

Assim, um estímulo aplicado a um dente, como por exemplo o contato de uma fresa no preparo cavitário, gera um impulso similar em todas as pessoas saudáveis e que atinge o sistema nervoso central por vias específicas, onde é percebido e interpretado, determinando uma reação do paciente, reação essa que varia de uma pessoa para outra, e de dia para dia na mesma pessoa.

RECEPTORES
Os elementos que captam os estímulos a serem transmitidos ao sistema nervoso central, para uma análise e possível reação, são chamados receptores. Os receptores (do latim recipere= receber) são tecidos nervosos especializados, sensíveis a alterações específicas que se produzem em seu meio.
As várias modalidades de sensação podem ser percebidas e distinguem-se umas da outras devido aos diferentes tipos de receptores. A pesquisa fisiológica demonstrou que estímulos específicos são captados por receptores específicos e assim, por exemplo, os receptores da dor somente respondem com a sensação de dor a qualquer estímulo que atinja seu limiar de excitação.

Os receptores podem ser classificados em dois grandes grupos: os exteroceptores e os interoceptores.
Os exteroceptores permitem a apreciação de estímulos emanados do meio externo. São encontrados na pele, mucosas e seus anexos (unhas, pelos e dentes). Dentre as sensações captadas pelos exteroceptores podem ser apontadas as seguintes:

Tato - Para o tato têm-se três tipos de receptores morfologicamente distintos: discos ou corpúsculos de Merkel, corpúsculos de Meissner e as terminações das raízes dos pelos. Os dois primeiros são abundantes na mucosa oral e dos lábios.

Temperatura - Os receptores de temperatura são liberalmente encontrados na mucosa oral, lábios e pele. Os sensíveis ao frio são os bulbos terminais de Krause. Os responsáveis pela sensação de calor são os corpúsculos de Ruffini .

Pressão - Respondem por essa sensação os corpúsculos de Golgi-Mazzoni, e ainda os de Paccini, destinados a pressões profundas, sensíveis à deformação mecânica.

Dor - Os receptores da dor são os que mais interessam a este estudo, uma vez que a anestesia destina-se exatamente ao controle ou supressão da dor. Estão largamente distribuídos no campo de atuação do cirurgião-dentista e são os de constituição mais simples. Histologicamente são pouco mais que terminações nervosas livres. Pelo fato de estarem relacionados com estímulos capazes de causar danos às células, têm importante valor protetor, avisando sobre perigos iminentes ou reais. Como qualquer agente capaz de causar dano é chamado nocivo, os receptores da dor denominam-se também nociceptores.

As terminações nervosas livres são os únicos receptores encontrados na polpa dental, na córnea ocular e nas artérias, portanto a dor é a única sensação percebida quando essas estruturas são estimuladas.

Esse conhecimento é útil em Odontologia para a execução de testes de vitalidade pulpar. Aplicando calor, frio ou corrente elétrica ao dente, o profissional pode constatar vitalidade pulpar. Seja qual for a natureza do estímulo aplicado a resposta, se houver, será sempre dor.
Os interoceptores são aqueles sensíveis a alterações do meio interno, isto é, são responsáveis pela propriocepção. Abrangem os receptores situados nas vísceras, músculos, tendões e no periodonto e são denominados fusos neuromusculares ou proprioceptores.

No periodonto desempenham função vital na preservação da relação alvéolo-dental. A maloclusão, com a conseqüente força anormal sobre o dente, estimula os proprioceptores periodontais de modo tal que o paciente tende a aliviar o dente, conscientemente ou não, mastigando mais intensa e freqüentemente com os dentes do lado oposto. Esses receptores periodontais são de tal modo sensíveis que é possível, com uma folha de papel entre os dentes, notar diferenças de frações de milímetro em sua espessura, o que não seria possível pelo sentido do tato. Desempenham importante papel no mecanismo inconsciente pelo qual os músculos que atuam contra a força da gravidade (masseter, temporal e pterigóideo medial) impedem a queda da mandíbula. Ainda quanto à movimentação da mandíbula, voluntária ou passivamente, a noção de movimento e a posição da mesma podem ser descritas pelo paciente, mesmo de olhos fechados, graças à sensibilidade desses receptores.

Conhecimentos sobre os receptores são importantes em clínica odontológica, inclusive para fins de diagnóstico e de localização da origem da dor. O diagnóstico da dor pulpar é freqüentemente dificultado pela incapacidade de o paciente precisar o ponto exato de onde emana a dor. Essa dificuldade contrasta com a clara localização da dor de origem periodontal, caso da pericementite. É errôneo admitir a explicação vaga de dor de dentes pela presença do plexo nervoso alveolar, uma vez que os nervos pulpares e periodontais estão igualmente envolvidos na formação dessa rede nervosa. Nas estruturas de sustentação do dente os receptores de sensações de modalidades diferentes são abundantes. Nesse caso é impossível estimular os receptores da dor sem, ao mesmo tempo, estimular os do tato, pressão, calor, frio ou de sensações proprioceptivas e graças à capacidade de exata percepção dessas sensações, o profissional consegue determinar mais facilmente o dente responsável pela dor. Já na polpa dental, onde os únicos receptores existentes são as terminações nervosas livres e a dor é a única sensação, a localização se faz imprecisa.

Os receptores apresentam propriedades muito interessantes, tais como:

Excitação e adaptação - Um estímulo para ser percebido, deve exceder uma intensidade crítica. A percussão leve de um dente pode ser indolor, mas a força mastigatória brusca, aplicada nesse mesmo dente por um corpo duro pode produzir dor. Simplificando, todos os receptores têm um limiar crítico, abaixo do qual o receptor não é ativado, portanto o indivíduo não toma conhecimento do estímulo, e não se inicia a condução do estímulo pelo neurônio até o sistema nervoso central.

Assim, para excitar, o estímulo deve exceder uma intensidade crítica, ou seja, deve atingir um limiar. Além disso, o estímulo deve provocar uma alteração do meio, mais rapidamente que uma determinada velocidade, para que se produza a excitação. Por exemplo, é fácil apreciar o calor associado à ingestão de café quente, entretanto se o indivíduo tomar lentamente café de temperaturas elevadas, pode demonstrar uma tolerância muito maior que no primeiro caso, pois ocorre uma adaptação ao estímulo. Certos estímulos são mais tolerados que outros. Para a dor quase não ocorre adaptação, enquanto que o tato e a pressão têm boa adaptação, como podemos observar pelo uso de nossas roupas, óculos, jóias, etc. O fato de os receptores da dor adaptarem-se mal e lentamente é benéfico, pois que a dor é uma sensação útil sob o ponto de vista de ser um mecanismo protetor : a fácil adaptação aboliria sinais de aviso contra o perigo.

Esse fenômeno tem correspondentes interessantes em Odontologia. Uma dentadura mal ajustada à boca produz dor e, devido à dor, provavelmente nunca será usada. Por outro lado, a simples presença de uma dentadura, mesmo bem feita, requererá um período de adaptação e decorrido certo tempo, o paciente não mais toma conhecimento da dentadura que está usando.

Especificidade - Os vários receptores não só diferem morfologicamente entre sí, mas também diferenciam-se pelo fato de cada um servir apenas a uma modalidade sensitiva. Isto eqüivale a dizer que os corpúsculos de Ruffini reagem normalmente apenas ao calor; os de Golgi-Mazzoni respondem apenas à pressão, ou seja, se a pressão for aplicada aos receptores de Ruffini, eles não iniciarão um impulso e nem o calor aplicado aos de Golgi-Mazzoni provocará qualquer resposta. À propriedade do receptor responder apenas a um tipo particular de estímulo, toma o nome de especificidade. Todavia, é preciso lembrar que a especificidade aplica-se apenas dentro dos limites normais ou fisiológicos da intensidade do estímulo. Um indivíduo que recebe uma pancada nos olhos "vê estrelas". Nesse caso o choque foi de intensidade suficiente para ativar os receptores viscerais que normalmente respondem à luz. Do mesmo modo, o uso prolongado ou incorreto de uma fresa sobre o dente, produzindo calor, excita os receptores da dor existentes na polpa.

Intensidade - As diferenças de intensidade da estimulação são facilmente percebidas: podemos distinguir facilmente uma bofetada de um tapa afetuoso. Esse discernimento está condicionado por dois mecanismos: 1. A velocidade de descarga de um receptor está em função da intensidade da estimulação, ou seja, quanto mais forte o estímulo, mais rápida será a velocidade de descarga. Um estímulo forte produz uma torrente de impulsos, enquanto outro mais fraco, no mesmo período de tempo, dará origem apenas a uns poucos impulsos. 2. Raramente um estímulo afeta apenas um receptor. O número de receptores ativados depende da intensidade da estimulação porque nem todos eles possuem o mesmo limiar de intensidade. Um estímulo fraco provocará uma resposta apenas nos receptores mais sensíveis. Um estímulo forte porém ativará também, além dos receptores mais sensíveis, aqueles de limiar de intensidade mais elevado, Neste último caso, o córtex sensitivo receberá, por meio das vias nervosas, um número maior de impulsos por unidade de tempo.

VIAS DE CONDUÇÃO DA DOR

O sistema nervoso é constituído por grande quantidade de células multiformes, que apresentam um corpo mais ou menos esférico, e dois tipos de prolongamentos: os mais longos denominados axônios e outros, comumente mais curtos, os dendritos. A célula nervosa, ou seja, o corpo celular onde se encontra seu núcleo, mais os seus prolongamentos, é denominada neurônio. O neurônio é portanto a unidade básica, estrutural e funcional do sistema nervoso. Os neurônios sensitivos, que conduzem o impulso nervoso do receptor para a medula espinhal, são do tipo unipolar. Nesse neurônio o prolongamento que parte do corpo celular bifurca-se prontamente. Um dos ramos segue para a periferia (prolongamento periférico) e o outro para o sistema nervoso central (prolongamento central). Os neurônios motores são geralmente multipolares.

Os axônios são relativamente longos, em alguns casos atingindo um metro ou mais, e são envolvidos por uma camada de substância lipídica, denominada mielina ou bainha medular.
O neurilema também é conhecido por bainha de Schwann. A intervalos regulares o
neurilema corta ou entalha a bainha de mielina, e as constrições resultantes, uniformemente distribuídas, são conhecidas por nódulos de Ranvier. É através dessas constrições que o agente anestésico chega à fibra nervosa para exercer sua ação primária : impedir a condução do impulso nervoso.

Os axônios que possuem bainha mielínica são denominados fibras mielínicas ou meduladas e ao exame microscópico parecem brancos. Os que não possuem esse isolamento são chamados amielínicos e ao exame são cinzentos.

Os neurônios mielínicos adquirem suas bainhas ao iniciar sua atividade funcional. Os músculos faciais necessários à sucção, por exemplo, logo constituem-se em uma necessidade funcional, e assim os nervos que servem a esses músculos, recebem a mielina em um estado precoce do desenvolvimento da criança.

Os neurônios mielínicos apresentam condições de muito interesse odontológico, especialmente no campo da Cirurgia. São as propriedades de degeneração e de regeneração, quando submetidos a agressões. Nesse caso, se um axônio for secionado, a porção distal sofre degeneração devido a alterações químicas na bainha de mielina. Esse fenômeno foi descrito por Waller, recebendo então o nome de degeneração walleriana. Quando secionado a porção distal degenera, deixando o neurilema vazio. Do segmento proximal o neurônio cresce para o interior desse neurilema vazio e, posteriormente, regenerar-se-á também a mielina. Sabe-se por estudos experimentais e clínicos que o axônio se regenera na proporção de 1 a 5mm por dia.

Os nervos dentário ou alveolar inferior e mentoniano são os mais freqüentemente lesados por ocasião de intervenções cirúrgicas na mandíbula, como em exodontias de terceiros molares inclusos e cirurgias parendodônticas em pré-molares. Às vezes ocorrem rupturas desses nervos, trazendo como conseqüência a sensação prolongada de anestesia em toda a região correspondente aos seus trajetos, sendo mais sintomática no lábio inferior. Com base no conhecimento da velocidade de regeneração e no comprimento do nervo é possível prever a duração dessa parestesia, que no caso dos terceiros molares será de seis a doze meses.

Se, por outro lado, o espaço cortado entre dois segmentos do axônio for muito grande, esse espaço poderá ser invadido por tecido cicatricial, o que impede o desenvolvimento do axônio para dentro do neurilema. Assim, cresce formando um emaranhado de tecidos conjuntivo e nervoso, denominado neurinoma, de grande importância clínica por ser doloroso na maioria dos casos. Quando sintomático pode requerer remoção cirúrgica.

O crescimento de um neurônio em regeneração pode ser dirigido para o interior do neurilema de outro nervo secionado. Esse princípio é aplicado em neurocirurgia altamente especializada, em casos de paralisia facial. Ligando ramos do VII Par craniano à extremidade proximal do nervo hipoglosso ou espinhal, após um período de reeducação o paciente poderá ser capaz de usar novamente os músculos faciais.

A junção natural (não-cirúrgica como na ilustração acima) entre dois ou mais neurônios é a sinapse. Os estudos anatômicos mostram que não existe continuidade protoplasmática na sinapse, e assim o impulso nervoso que passa de um neurônio para outro atravessa um espaço virtual, pela ação de mediadores químicos. A sinapse permite a transmissão do impulso em uma só direção, ao contrário do neurônio que pode carreá-lo em ambas as direções.

Vários neurônios pode convergir para fazer sinapse com um único neurônio, possibilitando assim que impulsos nervosos oriundos de diferentes áreas sejam canalizados para uma única via. Esse fenômeno é chamado convergência. O inverso também pode ocorrer e é denominado divergência.

Os axônios que saem do sistema nervoso central ou que a ele aportam, constituem as fibras nervosas. Cada fibra nervosa constitui uma via individual, pela qual os impulsos aferentes são transmitidos. Cada fibra é portanto uma unidade funcional em si mesma e o conjunto de milhares de unidades agrupadas forma cordões denominados nervos. Cada nervo contém portanto uma grande quantidade de fibras, cada uma das quais vem a ser o prolongamento de sua respectiva célula. Para que a anestesia local atinja plenamente seus efeitos, todas as fibras do nervo devem ser atingidas em quantidade suficiente pelo agente anestésico. Se a injeção for tecnicamente incorreta ou distante do nervo e nem todas suas fibras forem atingidas, o bloqueio nervoso pode ser inadequado ao ato operatório.

O V Par craniano ou Trigêmeo é o principal nervo sensitivo da face. Qualquer estímulo nessa região é recebido por suas terminações nervosas livres e conduzido como impulso através das fibras aferentes de suas três divisões ao gânglio semilunar ou de Gasser. O impulso é transmitido pela raiz sensitiva até a protuberância superior, onde termina diretamente no núcleo sensorial principal. As fibras sensoriais alcançam a ponte por meio de três núcleos: o mesencefálico (proprioceptivo), o principal (tátil) e o espinhal (sensações termo-algésicas).

EXCITABILIDADE NERVOSA

A excitação do tecido nervoso é produzida por um estímulo. Pela ação desse estímulo, que pode ser de natureza elétrica, térmica, química ou mecânica, um receptor é excitado, e cria-se um impulso. Em outras palavras, cada órgão terminal tem sua via própria para o sistema nervoso central e a onda de excitação criada pelo estímulo é denominada impulso nervoso. Pela ação do impulso observa-se a passagem do estado de repouso para o de atividade ou, ainda, a intensificação da atividade preexistente. Assim, quando as fibras responsáveis pela inervação de um órgão entram em excitação, esse órgão modifica seu estado de atividade.

O impulso nervoso propaga-se por si mesmo porque a energia necessária para isso deriva da fibra nervosa e já não depende da continuidade do estímulo no órgão receptor. Se não for bloqueado, o impulso continuará em todo o trajeto do nervo, com igual velocidade e intensidade. Esse fenômeno de autopropagação do impulso nervoso é denominado condução.

A fibra nervosa normal e em repouso mostra-se polarizada, isto é, com sua membrana carregada positivamente. No entanto, quando o nervo é estimulado a membrana é despolarizada, adquirindo portanto carga elétrica negativa. Durante um breve espaço de tempo após o impulso inicial um novo impulso não será conduzido em razão da despolarização. Após esse breve tempo o nervo volta a polarizar-se e pode conduzir novamente um impulso. A anestesia local ao impedir a despolarização do nervo bloqueia a condução de qualquer impulso.

Esse processo de condução ou de difusão da excitação provocada pelo estímulo no tecido nervoso é um processo ondulatório e interrompido. Isso pode ser comprovado experimentalmente no estudo das modificações do potencial elétrico do nervo durante sua excitação, com o emprego de um osciloscópio, aparelho que registra oscilações elétricas muito rápidas e de baixa intensidade.
Conectando-se ao aparelho dois pontos de um nervo, um dos quais em determinado momento encontra-se sob um estímulo, e outro em estado de repouso, podem ser verificadas as modificações das cargas elétricas que ocorrem nesse nervo. A porção em repouso, cuja carga elétrica mostra-se positiva, durante a excitação adquire carga elétrica negativa que desaparece em milésimos de segundo. Se a excitação persiste o fenômeno repete-se, de forma que quando se provoca em um nervo uma série de irritações repetidas, ou quando se provoca um estímulo persistente, observa-se em cada ponto da fibra nervosa uma série de oscilações sucessivas do potencial elétrico. O aumento da intensidade, da freqüência ou da duração do estímulo não suprime as características oscilatórias das manifestações elétricas do nervo.

No entanto, um nervo após estimulado não recebe outro estímulo durante um curto período de tempo. Esse intervalo é denominado período refratário. Nesse período o nervo está readquirindo sua carga elétrica positiva, após o que sujeita-se então a novo estímulo.

TEORIAS DA DOR

O estudo da dor tem gerado inúmeras discussões e controvérsias entre os especialistas. Várias teorias foram apresentadas para explicar, ou procurar esclarecer esse fascinante fenômeno. Entre elas a mais clássica é a da especificidade e a mais recente a do controle do gatilho.

Teoria da especificidade - Foi proposta por Descartes em 1644, como um sistema da dor por um canal direto da pele para o cérebro. Esse conceito persistiu até o século passado, quando Muller postulou a transmissão do impulso apenas através dos nervos sensitivos. No final do século dezenove, Von Frey desenvolveu o conceito de receptores cutâneos específicos na mediação do toque, calor, frio e dor. As terminações nervosas livres foram implicadas como receptores da dor. Admitiu-se a existência de um centro da dor no interior do cérebro, o qual seria responsável pelas manifestações da experiência desagradável. Essa teoria foi responsável pelo surgimento de diversos métodos cirúrgicos na manipulação da dor crônica, por meio do seccionamento de nervos.

Teoria do controle do gatilho ou da porta-espinal - Foi proposta por Melzack & Wall em 1965. Muito embora possa ser exposta em termos simples, suas diversificações são extremamente complexas. Nem todos os seus aspectos estão suficientemente esclarecidos e nem receberam a concordância de todos os investigadores, mas essa teoria vem recebendo muita atenção atualmente, pelo fato de levar em consideração um elemento participante do mecanismo da dor : a emoção. As teorias que a antecederam eram facilmente compreendidas e lógicas, mas tinham uma grave falha: viam a dor simplesmente como um tipo de reação estímulo-resposta e ignoravam quase que totalmente o papel da emoção.

Durante a segunda grande guerra Beecher, professor de Anestesiologia em Harvard, trabalhando em um hospital de campo em Anzio, observou que soldados gravemente feridos e que tinham toda a razão do mundo para suplicar por um alívio, recusavam obstinadamente qualquer medicamento para controle da dor. Simplesmente por terem sobrevivido mostravam-se tão eufóricos que, aparentemente, sua alegria bloqueava a dor. Da mesma maneira, outros investigadores notaram que atletas, como jogadores de futebol, comumente deixam o campo e só no vestiário descobrem sérias lesões no joelho ou tornozelo. Na excitação do jogo, não tomam conhecimento dessas injúrias.
A teoria do controle do gatilho pode explicar esses fenômenos e por isso foi considerada como revolucionária no estudo dos conceitos da dor. Em termos simples essa teoria pode ser exposta da seguinte maneira: os milhões de receptores do corpo conservam o cérebro abastecido de informações sobre temperatura e condições dos tecidos e dos órgãos. Como já visto, os receptores e o sistema nervoso central comunicam-se por meio de um complexo código neural, via de uma intrincada rede de nervos. O corte de um nervo ao microscópio assemelha-se a um cabo elétrico, feito de muitas fibras de várias espessuras. As mais grossas transmitem impulsos como os originados nos receptores do tato; as mais finas, de transmissão mais lenta, conduzem os impulsos de dor. Esses nervos convergem para a medula espinal e ali, aos autores da teoria admitem a existência de um mecanismo semelhante a uma porta que usualmente permanece fechada para bloquear a dor mas, às vezes, pode abrir-se para admiti-la.

Quando se arranha a pele suavemente, as fibras grossas conduzem impulsos que são percebidos, porém não traduzem uma sensação desagradável pois a "porta" conserva-se fechada. Se a pele continuar a ser arranhada, cada vez com mais força, mais receptores são estimulados e as fibras grossas sobrecarregadas fazem com que a "porta" se abra e as fibras finas aproveitam a oportunidade para enviar impulsos de dor, que passam através dela.

Ao contrário das outras teorias, os autores desta acreditam que quase todo o sistema nervoso central esteja envolvido no ato de decidir se a "porta" deve permanecer fechada ou abrir : a memória, o estado de espírito, a atenção, etc., têm participação na experiência da dor. As emoções positivas, como a excitação (no exemplo dos atletas) ou o prazer, fecham a "porta". As negativas, como a ansiedade e a apreensão, fazem-na abrir-se. Naturalmente a idéia de porta é puramente teórica e até agora não foi identificado positivamente nenhum mecanismo real no organismo que exerça essa função.

Por outro lado, a teoria torna coerente muitos fatos que intrigam os especialistas. Por exemplo, não se sabe ao certo como agem as compressas frias ou quentes ou ainda a massagem no alívio da dor. De acordo com essa teoria, a leve estimulação provocada por esses agentes ativaria as fibras grossas, subjugando as finas, condutoras da dor. Ajuda também a explicar os resultados da acupuntura, repudiada antes dos anos sessenta como embuste ou auto-sugestão, e dos estimuladores elétricos usados para aliviar dores.

LIMIAR DE DOR

Representa o estímulo mínimo capaz de gerar um impulso nervoso no nervo sensitivo, suscetível de ser percebido. Quando o estímulo é insuficiente para gerar um impulso, é chamadosubliminar. O limiar de dor é inversamente proporcional à reação à dor. Um paciente com elevado limiar doloroso é hiporreativo, enquanto aquele que tem baixo limiar é hiperreativo. Em conseqüência o limiar de dor, alto ou baixo, indica a reação consciente do paciente a uma experiência desagradável e específica.
Mesmo admitindo-se que a percepção da dor é igual em pessoas sadias, alguns fatores têm influência definida sobre o limiar de dor de cada indivíduo.

Estados emocionais - O limiar depende em grande parte da atitude do paciente frente ao procedimento do operador e ao ambiente. Em regra geral, pacientes emocionalmente instáveis têm baixos limiares. Pessoas muito preocupadas, mesmo que suas preocupações não estejam relacionadas com seu problema odontológico, tem seu limiar de dor diminuído.

Fadiga - É fator de grande importância para o limiar de dor. Os pacientes descansados e que tenham dormido bem antes de uma experiência desagradável têm um limiar de dor muito mais alto que outros, fatigados e com sono. É essencial que uma boa noite de sono preceda o tratamento.

Idade - Os adultos tendem a tolerar mais a dor, apresentando portanto limiar mais alto que os jovens e as crianças. Talvez a compreensão que experiências desagradáveis são parte da vida influam na pessoa. Nos casos de senilidade a percepção da dor pode apresentar-se alterada.

Raça - As raças que apresentam indivíduos mais emotivos como os latino-americanos e os europeus meridionais têm limiar mais baixo que os norte-americanos e europeus setentrionais.
Sexo - O homem tem limiar mais alto que a mulher. Isso talvez reflita o desejo do homem de manter sua impressão de superioridade, fazendo esforço maior para tolerar a dor.

Medo - O limiar diminui à medida que o temor aumenta. Os pacientes medrosos e apreensivos tendem a aumentar exageradamente sua expectativa negativa. Esses pacientes são hiperreativos e tornam a dor fora de proporção em relação ao estímulo que a causou. É essencial que o operador adquira a confiança do paciente para levar o tratamento a bom termo.

CONTROLE DA DOR

Um dos aspectos mais importantes da prática odontológica é o controle ou a eliminação da dor. Investigações mostraram que os pacientes se afastavam dos consultórios mais por causa do medo ou temor da dor, do que por todas as outras razões juntas. Curiosa e contraditoriamente, a dor determina freqüentemente a procura de cuidados odontológicos.

A dor pode ser controlada ou eliminada na clínica odontológica, e para isso podem ser usados os seguintes métodos:

Eliminar a causa - A remoção da causa da dor seria o método mais conveniente pois as terminações nervosas livres não seriam excitadas e nenhum impulso seria iniciado. No entanto é desejável que essa remoção não ocasione nenhuma alteração permanente nos tecidos, pois assim, embora os fatores causais fossem removidos, os receptores continuariam a ser capazes de gerar impulsos, que em muitos casos representam mecanismos de proteção. Assim, a inflamação de uma polpa dental provocando dor, pode ser tratada em alguns casos por remoção de tecido cariado e proteção da polpa ou, em outras situações, pela remoção dessa estrutura, seguida de obturação endodôntica.

Bloquear a via dos impulsos dolorosos - Para esse bloqueio injeta-se nos tecidos próximos ao nervo ou nervos implicados nesse processo de dor, uma droga que possua propriedades analgésicas ou anestésicas, impedindo a despolarização das fibras nervosas na zona de absorção da droga e não permitindo, dessa maneira, que essas fibras conduzam centralmente os impulsos, além do ponto bloqueado. Enquanto o agente anestésico se encontrar no nervo em concentrações suficientes para impedir a despolarização o bloqueio será efetivo. Se o bloqueio for insuficiente ou inadequado, o que pode ocorrer por razões diversas, existirá a possibilidade de o impulso "saltar" o bloqueio e seguir em direção ao sistema nervo central.

Elevar o limiar da dor - Para isso é utilizada a ação farmacológica de drogas que possuem propriedades analgésicas. O efeito dessas drogas pode elevar o limiar da dor apenas até um certo ponto, na dependência da droga empregada. As aspirinas, por exemplo, são eficazes para eliminar perturbações leves. Os narcóticos, verdadeiros analgésicos e que possuem propriedades hipnóticas, são eficazes também em presença de dores mais intensas. No entanto, fisiologicamente é impossível eliminar todas as dores somente pela elevação do limiar. As drogas que elevam o limiar da dor têm doses adequadas para esse fim e o aumento da dosagem não aumentará sua eficácia sem produzir efeitos indesejáveis e, às vezes, perigosos. A presença de estímulos mais nocivos, que criam dores intensas, requererá o bloqueio das vias que conduzem esses impulsos, ou a ação depressora da anestesia geral.

Depressão cortical - A depressão do córtex está dentro do alcance da anestesia geral. Os agentes anestésicos gerais promovem uma crescente depressão do sistema nervoso central, impedindo toda reação consciente aos estímulos dolorosos.

Métodos psicossomáticos - Estes métodos, que consistem em levar o paciente a um estado mental adequado têm, infelizmente, sido descuidados na prática odontológica, embora sejam os que melhores resultados oferecem em relação ao menor risco a que expõem o paciente. Entre os fatores importantes nesse caso estão a honestidade de princípios e a sinceridade demonstradas pelo cirurgião-dentista. Isso requer manter o paciente informado do procedimento profissional e do que deve esperar. O sistema nervoso não aprecia surpresas e muitas vezes reage violentamente a elas. Deve-se fazer o paciente entender, mediante considerações amáveis, o alcance do desconforto que deve esperar. Também deve assegurar-se que qualquer experiência sensorial desagradável pode ser adequadamente controlada. Ao paciente agrada saber que sua comodidade é objeto de consideração do profissional. Uma vez que esteja seguro disto, tende a tolerar melhor as sensações desagradáveis.

DOR PSICOGÊNICA

A dor psicogênica pode ser definida como uma sensação dolorosa que não tem base orgânica. É qualquer dor de origem totalmente mental, e que se fixa numa parte da anatomia. Em muitos casos é sintoma de uma neurose latente que o paciente pode ignorar.

O cirurgião-dentista deve ter muito cuidado para estabelecer o diagnóstico deste tipo de dor. Todos os métodos para encontrar um possível foco orgânico de origem da dor devem ser esgotados antes de firmar o diagnóstico.

A dor psicogênica e seu controle apresentam situações difíceis e, às vezes, confusas para o dentista. Um único profissional não deve firmar o diagnóstico deste tipo de dor. Deve discutir o caso com outro dentista, cirurgião ou médico. Se todos os profissionais consultados forem unânimes no diagnóstico provável, deve aconselhar o paciente a consultar um psicólogo ou psiquiatra competente. Mesmo a maneira de aconselhá-lo pode ser um problema de difícil resolução; seria conveniente consultar esses profissionais sobre a maneira de fazer a sugestão.

O cirurgião-dentista não deve deixar de compreender que essa dor, mesmo sendo de origem psicogênica, é real para o paciente. Deve mostrar-se compreensível e tomar medidas temporárias para aliviá-lo. De maneira nenhuma deve dizer bruscamente que a dor é imaginária.

O profissional que oferece a consulta competente para atender melhor o seu paciente ganha o respeito geral e eleva o conceito da sua profissão no meio onde se localiza.

BIBLIOGRAFIA

AVERY, J.K. & RAPP, R. - Conducción del dolor en los tejidos dentarios humanos. Odontologia Clinica de Norteamerica, serie III, volumen 8.
BENNETT, C.R. - Monheim: anestesia local e controle da dor na prática dentária, Guanabara Koogan.
BYKOV, K.M. et alli. - Manual de Fisiologia. Ed. Cartago.
LANGLEY, L.L. & CHERASKIN, E. - As bases fisiológicas de prática odontológica. Atheneu.
ROBERTS, D.H. & SOWRAY, J.H. - Local analgesia in dentistry. J.Wright & Sons.
SICHER, H. - Anatomia aplicada al dolor. Odontologia clinica de Norteamerica, serie III, volumen 8.


EXERCÍCIOS
  1. Você é capaz de definir dor?

  2. Por que a única modalidade sensitiva da polpa dental é a dor?

  3. Por que cada pessoa reage de forma diferente à dor?

  4. Quando secionado o axônio de um nervo regenera? Por que?

  5. Por que é difícil insensibilizar um local inflamado por infiltração de anestésico?

  6. Por que é fácil localizar um dente acometido por pericementite e difícil localizar outro com pulpite?
Fonte: http://www.angelfire.com/nm/cirurgia/fisio.html



sábado, 18 de abril de 2015

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A ASSISTÊNCIA AO IDOSO

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A ASSISTÊNCIA AO IDOSO

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e que adquire características muito peculiares em nosso país, dada a velocidade com que vem se instalando. Estimativas apontam para uma cifra de 32 a 33 milhões de pessoas com mais de 60 anos2 no ano de 2025. Antes denominado um país de jovens, hoje o Brasil já pode ser considerado um País estruturalmente envelhecido, segundo padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde. Desta forma, é fundamental que as pessoas em geral e os profissionais de saúde em especial compreendam o processo de envelhecimento e suas peculiaridades de forma a direcionarem seus esforços na construção de um futuro digno e humano a todos. 

Dentre as muitas definições de envelhecimento, temos utilizado a citada por BABB e adotada pela OPAS na qual "...envelhecer é um processo seqüencial, individual, acumulativo, irreversível, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto aumente sua possibilidade de morte." 

Desta definição, ressaltam-se alguns pontos: 

1o. o envelhecimento é um processo e, assim sendo, é algo que vai sendo construído no transcorrer da existência humana. Não ficaremos velhos aos 60, 70 ou 80 anos, estamos envelhecendo a cada dia, porém dificilmente isto é aceito pelas pessoas em virtude de mitos e esteriótipos socialmente impostos que colocam o velho como uma seção à parte da sociedade para a qual só gera ônus, uma vez que já não faz mais parte do mercado produtivo. Estas imposições sociais são tão expressivas que, na maioria das vezes, as pessoas se referem aos idosos como aqueles que têm pelo menos 15 anos mais que elas, independente da idade que as mesmas possuem. É interessante, no entanto, relembrar que só não ficará idoso ou velho o indivíduo que morrer jovem, o que, sem dúvida, não é anseio nem das pessoas, e tampouco da ciência que há muito vem trabalhando para prolongar os anos de existência do ser humano. 

2o. envelhecer é um processo fisiológico e natural pelo qual todos os seres vivos passam e é, sem dúvida, a maior fase do desenvolvimento humano. Nascemos, crescemos e amadurecemos; deste momento até a nossa morte, passamos a vida toda envelhecendo. Nesta fase, várias alterações fisiológicas ocorrerão de modo mais ou menos acentuado e com velocidades variáveis entre as diferentes pessoas geralmente relacionados a variáveis pessoais. 

Tais alterações têm por característica principal a diminuição progressiva de nossa reserva funcional. Isto significa dizer que um organismo envelhecido, em condições normais, poderá sobreviver adequadamente, porém, quando submetido a situações de estresse físico, emocional, etc; pode apresentar dificuldades em manter sua homeostase manifestando, assim, sobrecarga funcional, que pode culminar em processos patológicos. 

O conhecimento e a compreensão de tais alterações são fundamentais para evitar dois grandes equívocos assistências citadas por JACOB Fo onde: 

• sinais e sintomas próprios da senescência são equivocadamente atribuídos a doenças, determinando a realização de exames e tratamentos desnecessários. Nada mais é do que "diagnosticar" o envelhecimento como doença; 
• todas as alterações encontradas em um idoso são erroneamente atribuídas ao seu envelhecimento natural, impedindo a detecção de processos patológicos passíveis de tratamento e/ou cura. 

Neste capítulo, busca-se discorrer sobre alguns aspectos do processo de envelhecimento e suas conseqüências e refletir sobre o cuidado com a pessoa idosa. 

2 Segundo a Lei no. 8842/94 que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, em seu cap.I, art. 2o., "considera-se idoso, para efeitos desta lei, a pessoa maior de 60 anos de idade".

Aspectos Psicológicos e Cognitivos 
A compreensão do estado emocional de um idoso implica na contextualização de sua história de vida, considerando que suas reações emocionais provavelmente estão diretamente relacionadas com as vivências que acumulou no transcorrer de sua existência. 

Segundo GAVIÃO, "...devemos esperar de um adulto psiquicamente saudável um equilíbrio efetivo entre a satisfação de suas necessidades pessoais e a de seus objetos de amor; maior tolerância às frustrações e controle dos impulsos agressivos, uma auto imagem positiva e maior eficácia na avaliação da realidade", aspectos estes considerados essenciais a um envelhecimento bem-sucedido, que dependerá, portanto, de laços afetivos satisfatórios, tolerância ao estresse, espontaneidade, otimismo, capacidade de atualizar-se e de sentimentos de segurança e auto-estima. 

Um envelhecimento bem-sucedido relaciona-se à maneira pela qual um idoso consegue adaptar-se às inúmeras situações de ganhos e perdas com as quais se depara. Conforme explicita NERI, esta "balança" torna-se menos positiva com o passar dos anos em decorrência de inúmeras perdas normalmente vivenciadas pelos idosos, como, por exemplo a aposentadoria, mudanças nos papéis sociais, os handcaps, perda de entes queridos, maior distanciamento dos filhos, perdas cognitivas e de funções orgânicas, alterações na própria auto-imagem e consciência da maior proximidade da morte. 

O enfrentamento de tais situações está diretamente relacionado à maneira pela qual o indivíduo vivenciou e se posicionou previamente em situações parecidas. Isto é denominado competência intelectual (EBERSOLE), onde "Envelhecer bem é aceitar a velhice como um bem. Para atingir a sabedoria e a serenidade e para inventar uma nova maneira de viver, é preciso ter sido capaz de adaptar-se ao longo da vida. Na medida em que se soube viver, também se deve saber e ser capaz de envelhecer" (Apud DUARTE, 2000). 

Adaptação, no entanto, é diferente de resignação. Ao se adaptar, um indivíduo continua a viver utilizando-se de estratégias que o auxiliam na conservação de sua auto-estima, mantendo um equilíbrio mínimo e o estimulando a enfrentar novos desafios. 

Os aspectos positivos relacionados a esta fase da vida dizem respeito ao acúmulo de experiência e à compreensão ampla, realista e objetiva da própria existência. Sua contribuição na construção da história viva de uma sociedade é fundamental e se relaciona à valorização de seu passado e de seus conhecimentos e vivências. 

Assim, senescência psíquica, conforme descrito por GAVIÃO, "...é a possibilidade do idoso encontrar satisfação de viver, apesar do enfrentamento de perdas ou de um estado de doença, o que dependerá de um funcionamento psíquico no qual prevaleçam sentimentos amorosos e construtivos mesmo em situações adversas. Reações depressivas, algum nível de ansiedade e de instabilidade emocional são esperados e não devem ser confundidos com psicopatologias." Já a senilidade psíquica, continua a autora, está mais diretamente relacionada a psicasopatologias prévias, onde o profissional de saúde que se depara com sintomas emocionais, tais como: alto nível de angústia, desmotivação, agressividade acentuada e comportamentos bizarros; deverá solicitar um psicodiagnóstico cuidadoso para o adequado acompanhamento deste idoso. 

A diminuição fisiológica de algumas funções cognitivas representa um dos maiores fantasmas para os idosos por significar uma ameaça ao seu bem-estar e à sua auto-estima. As perdas neurológicas, no entanto, são as primeiras a aparecerem. Do nascimento, a partir de um total de cerca de 10 bilhões, há uma perda de 50.000 neurônios por dia. Estudos indicam que nos idosos estas perdas situam-se na faixa de 20 a 40%. Apesar desta diminuição progressiva, ela não impede o funcionamento mental e psicológico do idoso. 

As funções intelectuais mais atingidas são a memória, o tempo de reação e a percepção, estas últimas são expressas pela redução da capacidade de receber e tratar informações provenientes do meio ambiente, prejudicando sua capacidade de interação e interferindo na sua capacidade de adaptação. Aos profissionais cabe auxiliar os idosos na adaptação frente a estas perdas, de modo que eles possam se manter alertas e em contato com o meio. 


O quadro a seguir sintetiza algumas das alterações mais frequentemente observadas nos idosos mais freqüentemente e sugere algumas intervenções: 
MODIFICAÇÕES NAS FUNÇÕES COGNITIVAS

INTELIGÊNCIA 
a. não se pode afirmar que haja declínio acentuado com o avançar da idade 
b. maior estabilidade e performance intelectual 
c. fadiga mental, desinteresse, diminuição da atenção e concentração geralmente estão associadas ao intelectual 
c. fadiga mental, desinteresse, diminuição da atenção e concentração geralmente estão associadas ao declínio da inteligência 
d. estudos mostram uma relação direta entre a presença de doenças e o declínio das capacidades cognitivas 
e. características pessoais como aptidões intelectuais anteriores, escolaridade, nível socioeconômico e atividades influenciam a performance intelectual 
f. há um ligeiro declínio nas aptidões psico-motoras em especial as relacionadas à coordenação, à agilidade mental e aos sentidos (visão e audição) levando os idosos a um desempenho menos satisfatório quando submetidos a testes que exigem rapidez de execução, longa duração, são muito competitivos e só estimulam aptidões não verbais,


INTERVENÇÕES
INTELIGÊNCIA 
a. manutenção das aptidões através do contínuo desempenho de atividades cognitivas 
b. propiciar constantemente novas oportunidades de aprendizado 
c. disponibilizar tempo adequado para a realização de testes de inteligência, preferindo os que incidem sobre a percepção 
d. evitar testes cronometrados e dar importância relativa ao tempo de realização dos mesmos 
e. estimular a volta aos estudos(grupos de terceira idade) ou ao desempenho de atividades laborativas
MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 
a. dar tempo suficiente para a memorização e aprendizado respeitando o ritmo do idoso 
b. considerar aprendizados anteriores 
c. valorizar e utilizar a memória de longo prazo 
d. utilizar a memória visual

MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 
a. as alterações na memória e aprendizagem dos idosos não estão claramente identificadas mas há indicações de prováveis relações com as alterações químicas, neurológicas e circulatórias que afetam a função cerebral como diminuição dos neurônios do SNC, diminuição da eficácia da oxigenação e nutrição celular e diminuição na aprendizagem associada às deficiências nas sinapses 
b. diminuição motivação, diminuição estado de saúde e experiências prévias de aprendizagem parecem influir nas modificações observadas no envelhecimento 
c. assimilação mais lenta 
d. diminuição da memória a curto prazo (imediata) 
e. conservação da memória de longo prazo (fixação) 
f. conservação da capacidade de aprendizagem 
g. dificuldade na organização e utilização das informações armazenadas 
h. diminuição da memória visual e auditiva a curto prazo


MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 
a. dar tempo suficiente para a memorização e aprendizado respeitando o ritmo do idoso 
b. considerar aprendizados anteriores 
c. valorizar e utilizar a memória de longo prazo 
d. utilizar a memória visual 
e. considerar limites físicos e intelectuais 
f. propor sessões curtas 
g. utilizar vocabulário simples 
h. evitar a memorização de coisas não essenciais 
i. valorizar os esforços 
j. repetir intencionalmente 
k. ser o mais concreta e realista possível 
l. utilizar materiais manipuláveis


TEMPO DE REAÇÃO 
a. diminuição da rapidez dos reflexos e da execução de gestos 
b. aumento do tempo de reação 
b1. diminuição da acuidade visual e auditiva 
b2. diminuição da resposta motora a um estímulo sensorial 
b3. diminuição da memória recente 
b4. diminuição da motivação 
b5. ausência de contatos significativos 
b6. presença de doenças

TEMPO DE REAÇÃO 
a. planejar as intervenções junto com os idosos adequando-as a suas alterações 
b. auxiliar na compreensão destas alterações permitindo assim uma melhor adaptação do mesmo

Extraído de Berger,L; Mailloux-Poirier, M Pessoas Idosas: uma abordagem global, Lusodidacta, 1995.

Aspectos Bio Funcionais 
O processo de envelhecimento se inicia geralmente na segunda década de vida, porém é pouco perceptível. Já, ao final da terceira década surgem as primeiras alterações funcionais ou estruturais. A partir da quarta década há uma perda aproximada de 1% da função/ano nos diferentes sistemas orgânicos. 

Estas alterações fisiológicas possuem um efeito acumulativo e gradativamente vão diminuindo A RESERVA funcional do indivíduo comprometendo sua capacidade de adaptação às modificações do meio interno e/ou externo. CONFORT caracterizou o envelhecimento pela progressiva incapacidade de manutenção do equilíbrio homeostático em condições de sobrecarga funcional. A homeostase representa um equilíbrio dinâmico e compreende a automaticidade dos mecanismos homeostáticos e a ritmicidade das alterações produzidas no meio interno que se diversificam ao longo do tempo. 

Os mecanismos homeostáticos são processos de auto-regulação que preservam a capacidade de um organismo para se adaptar aos estressores e simultaneamente manter o equilíbrio interno. Tais mecanismos são desenvolvidos junto à evolução humana e se destinam à manutenção automática do equilíbrio interno a despeito das agressões a que possa ser submetido. Preservam, portanto, a integridade do organismo, contrabalanceando os estressores e compensando suas conseqüências, procurando, assim, corrigir automaticamente quaisquer desvios da normalidade. Estão intimamente relacionados ao sistema neuro-endócrino enviando sinais para os sistemas cardiovascular, respiratório, genitourinário, digestivo e renal. A descompensação de um sistema produz desequilíbrios em outros sistemas. Tais mecanismos visam minimizar a diferença entre a forma pela qual um sistema funcionaria idealmente e a forma pela qual, de fato, ele está funcionando. Isto ocorre dentro de limites controlados (feedback; interação do meio interno com o meio ambiente), levando ao que se denomina equilíbro homeostático. 

Quando o sistema homeostático está comprometido (o que ocorre com o avançar da idade), o organismo pode, frente a um fator estressor, entrar em ruptura completa ou numa situação de funcionamento inteiramente nova. 

A progressiva diminuição da capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático observada nos idosos, em condições basais, normalmente não produz distúrbio funcional, porém, sob influência acentuada de fatores estressores, há um aumento da probabilidade do desenvolvimento de morbidades. 

As alterações biofuncionais observadas no envelhecimento podem ser classificadas de várias formas. Por ser de mais fácil compreensão, adotamos neste texto a proposta por KENNEY onde: 

a) a função é afetada em condições basais ou de repouso (por exemplo: órgãos dos sentidos); 
b) a função é afetada apenas quando o órgão ou sistema é solicitado a aumentar sua atividade (por exemplo: s. cardiovascular, s. respiratório, etc) 

O quadro a seguir demonstra as principais alterações biofisiológicas verificadas no processo de envelhecimento: 


ALTERAÇÕEALTERAÇÕES BIOFISIOLÓGICAS OBSERVADAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTS ORGÂNICAS 
COMPOSIÇÃO CORPÓREA. 
. diminuição da água corporal total (de 70% em crianças para 52% no idoso) OBS: O idoso fica assim a um limite tênue da desidratação. Perdas moderadas de líquidos podem evoluir rapidamente para um processo de desidratação evidente. 

GORDURA.
. Há uma distribuição mais centrípeta da gordura corporal 

ESTATURA. 
. Mantém-se até os 40 anos, depois diminui cerca de 1 cm por década 
. Esta diminuição acentua-se após os 70 anos em virtude de: 
• achatamento vertebral. 
• redução dos discos intervertebrais 
• presença de cifose dorsal 
• arqueamento dos MMII 
• achatamento do arco plantar 

PESO. 
. tendência a diminuir após os 60 anos em virtude da diminuição da MASSA MUSCULAR e â do peso dos órgãos. 

ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS 

"Fascies" do idoso (estas extremidades apresentam crescimento contínuo): 
. Aumento da circunferência craniana
. Aumento da amplitude do nariz 
. Aumento do pavilhão auricular 

Tórax senil: 
. Aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax 
. Aumento do diâmetro transverso do tórax

Baseado em RUIPÉREZ, I; LLORENTE, P Geriatria, McGraw Hill, Rio de Janeiro, 1998.
ALTERAÇÕES BIOFISIOLÓGICAS OBSERVADAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO (cont.)
instalação de lesões. 
. hipertrofia das células de pigmentação (manchas senis). 
. despigmentação e palidez (diminuição de capilares e melanócitos) 

PELOS E FÂNEROS. 
. diminuição da pilificação em geral. 
. pilificação em regiões anômalas (devido a alterações hormonais, hipertricose em mulheres). 
. pelos menos espessos e mais fracos. 
. perda gradativa da pigmentação (diminuição da atividade dos melanócitos). 
. crescimento lentificado e espessamento das unhas (diminuição da circulação periférica). 
. unhas mais secas e quebradiças 

OLHOS. 
. mais fundos (diminuição da gordura orbitária). 
. surgimento do arco senil ( acumulação de lipídeos). 
. diminuição da elasticidade do cristalino e diminuição da acomodação visual (diminuição da capacidade de focar objetos próximos - presbiopia). 
. diminuição do tamanho da pupila e diminuição da velocidade de resposta à luz ( > dificuldade de adaptação à diferentes luminosidades) 

OUVIDOS. 
. o tímpano torna-se mais espesso ( tendência à formação de tampões de cerume). 
. degeneração do ouvido interno e do nervo auditivo levando a presbiacusia (diminuição da capacidade auditiva para altas freqüências). Isto impede a audição de consoantes, de acordo com o ruído ambiental fazendo com que o idoso ouça mas não compreenda o que lhe é dito) 

BOCA. 
. boca mais seca (diminuição na produção de saliva e da sua qualidade). 
. diminuição do paladar ( em especial para doces e salgados). 
. diminuição da superfície das gengivas dificultando a fixação de prótese dentária e tornando-as mais friáveis. 
. tendência a perda progressiva dos dentes que se tornam mais escuros (diminuição do esmalte e depósitos minerais). 
. lentificação do reflexo nauseativo aumentando as possibilidades de esgagamento 

NARIZ. 
. aumento de tamanho (crescimento contínuo). 
. diminuição da capacidade olfativa. 
. aumento da pilificação interna ( em número e espessura) 

SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO 
. diminuição da MASSA CORPORAL total. 
. diminuição da força, tônus e velocidade de contração muscular (lentificação dos movimentos). 
. aumento da base de sustentação ( alteração na marcha). 
. diminuição dos movimentos de braços ao se movimentar. 
. diminuição da massa óssea (osteopenia). 
• aumenta com a menopausa (diminuição dos estrógenos). 


• pode ocorrer osteoporose. 
• > possibilidade de fraturas e deformação das vértebras (tendência à cifose dorsal) 



Baseado em RUIPÉREZ, I; LLORENTE, P Geriatria, McGraw Hill, Rio de Janeiro, 1998.



ALTERAÇÕES BIOFISIOLÓGICAS OBSERVADAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO (cont.)

SISTEMA GASTROINTESTINAL 
. lentificação do esvaziamento esofágico devido à dilatação do terço inferior do esôfago 
. diminuição das enzimas digestivas e pancreáticas 
. diminuição da pepsina e ácido clorídrico em até 60% (lentificação do processo digestivo) 
. diminuição das lípases gástricas e intestinais 
. diminuição do volume e peso do fígado - diminuição da massa celular hepática funcionante 
• alterações no METABOLISMO hepático de várias substâncias, inclusive as drogas, podendo resultar em aumento de seus níveis séricos e do tempo de excreção dos mesmos
. diminuição da motilidade intestinal 
. deterioração das superfícies de absorção intestinal 
. diminuição do tônus muscular do esfíncter interno do intestino grosso
. diminuição do tônus muscular intestinal e da motilidade à obstipação

SISTEMA RENAL E URINÁRIO 
. aumento do tecido conjuntivo intersticial 
. diminuição do tamanho e peso dos rins 
. diminuição do número de néfrons 
. alterações tubulares 
. diminuição da filtração glomerular em até 45% entre os 20 e os 90 anos 
. diminuição do fluxo sanguíneo em até 53% 
. diminuição da filtração tubular em até 50% aos 70 anos 
. lentificação da excreção dos metabólitos 
. alteração na capacidade de concentração e diluição urinárias 




Baseado em RUIPÉREZ, I; LLORENTE, P Geriatria, McGraw Hill, Rio de Janeiro, 1998.

ALTERAÇÕES BIOFISIOLÓGICAS OBSERVADAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO (cont.)
TERMORREGULAÇÃO 
. diminuição dos sensores para frio - lentificação da resposta neuronal, assim o frio é sentido mas não é reconhecido e portanto, nenhuma reação protetora é ativada 
. alterações vasculares ( dificuldade de contração e dilatação dos vasos em função dos estímulos nervosos) leva a uma diminuição da resposta ao frio 

< produção de calor: 
. idoso diminuição a atividade física em geral 
. diminuição do METABOLISMO basal 

Hipertermia: 
. diminuição da elasticidade dos vasos 
. > dificuldade em dilatação 
. > dificuldade em perder calor 
. diminuição da atividade das glândulas sudoríparas 

SONO E REPOUSO 
. diminuição do número de horas de sono requeridas 
. diminuição de 50 % do sono profundo 
. idosos acordam com mais facilidade e demoram mais para adormecer
Baseado em RUIPÉREZ, I; LLORENTE, P Geriatria, McGraw Hill, Rio de Janeiro, 1998. 

Todas as alterações relacionadas são fisiológicas e ocorrerão de forma individual em cada idoso. Embora não sendo patológicas, o acúmulo destas alterações, com o transcorrer do tempo, pode levar à limitação das chamadas atividades de vida diária do idoso. Este quadro torna-se mais acentuado e mais rápido na vigência de doenças, geralmente crônico-degenerativas. Estudo realizado nos EUA demonstrou que 5% dos idosos com idades entre 65 e 74 anos quererem auxílio nas AVDs, 35% entre os de idades compreendidas entre 75 e 85 anos e 50% para os maiores de 90 anos. Estudos demográficos demonstram que, dentre os idosos, a população que mais cresce é justamente as de maiores de 80 anos, o que implica numa atenção diferenciada dos programas de saúde, considerando todas as alterações estruturais que vêm ocorrendo nas famílias, antes responsáveis pelas ações de cuidados aos seus indivíduos idosos. 

A presença ou instalação de processos patológicos em indivíduos idosos pode ocasionar rápida alteração no quadro funcional dos mesmos. De totalmente independentes, eles podem passar muito rapidamente para uma condição de parcial ou totalmente dependentes, em virtude da dificuldade de adaptação homeostática frente à velocidade de perda de reserva funcional. A adequada assistência aos idosos baseia-se na capacidade técnica de avaliação correta da problemática instalada e de intervenções precoces e eficientes e também na premissa de que o idoso é, em princípio, competente para se cuidar e, portanto, autônomo em suas decisões, seja ou não independente para realizá-las. 

Não é incomum que idosos temporária ou definitivamente dependentes fisicamente tenham sua autonomia retirada tanto pelos familiares quanto pelos profissionais que associam a perda física necessariamente à perda cognitiva e à capacidade decisória, o que em muitas ocasiões não é verdade. 

A compreensão destas diferenças é fundamental para a execução de uma assistência de qualidade, onde deve predominar o "assistir a" e não o "fazer por". Esta segunda prática, ainda a mais comum no cuidado ao idoso, é baseada na crença errônea de que isto "...é melhor, mais esperado e mais desejável..." a ser feito para uma pessoa que "...perdeu completamente sua autonomia em virtude da idade, das doenças, da degeneração cognitiva, da desmotivação e muitas vezes da pobreza..." (Pavarini, 1996). 


Assistir adequadamente ao idoso baseia-se na avaliação adequada e conjunta da equipe interprofissional, de qual é a real capacidade funcional deste idoso, identificando seu nível de dependência, suas capacidades presentes e, sobretudo, seu potencial remanescente, que pode não estar sendo reconhecido, sequer, pelo próprio idoso e muito menos pelos que o cercam. Esta avaliação sempre envolverá o polinômio idoso-cuidador-família e é a eles que deverá ser direcionado o nosso olhar. 

O cuidador é a pessoa designada pela família para o cuidado do idoso, quando isto for requerido. Esta pessoa, geralmente leiga, assume funções para as quais, na grande maioria das vezes, não está preparada. É importante que a equipe tenha sensibilidade ao lidar com os cuidadores familiares, os grandes depositários das informações e orientações desta mesma equipe e o executor das atividades por ela propostas. 

Cabe à equipe jamais se esquecer que esta pessoa não é um funcionário da saúde, não tendo, portanto, a obrigação de compreender as orientações dadas e ele também não é simplesmente um executor de ordens. Não é incomum que cada profissional da equipe dirija-se ao cuidador e lhe forneça uma série de orientações (geralmente em tom de ordem) de forma individual (enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista,etc) e espere que ele seja capaz, sozinho, de associá-las, decodificando-as e executando-as igualmente como faria o próprio profissional. A não-execução adequada de tais orientações geralmente é cobrada e em muitos casos as falhas são consideradas não-aderência terapêutica. Esta é uma importante falha da equipe como um todo, que não está direcionando o olhar para a(s) pessoa(s) a quem assiste, mas para si mesma, uma vez que, ao simplesmente fornecer as informações, tem a sensação de dever cumprido. O processo de assistência a idosos, seus cuidadores e familiares é, a nosso ver, um ciclo freqüentemente retroalimentado, ao qual devemos estar permanentemente atentos. 

Uma assistência adequada requer uma avaliação minuciosa. Muitas vezes, a presença do cuidador familiar durante a avaliação do idoso é imprescindível, pois este poderá complementar informações ou, muitas vezes, fornecê-las, caso o próprio idoso tenha dificuldade em fazê-lo. A identificação de cuidadores também idosos, muitas vezes doentes, confusos, muito estressados ou ansiosos, deprimidos ou incapacitados para a função assistiva é mais comum do que se imagina e potencializa a necessidade de apropriação adequada de recursos assistenciais nesta área. 

Para a realização de qualquer tipo de orientação, faz-se necessária inicialmente a adequada avaliação do idoso e a identificação de suas reais necessidades. Isto deve ser realizado pela coleta do histórico do mesmo seguida de seu exame físico. Para o histórico deve ser disponibilizado um tempo e local adequados (no mínimo 30 minutos em local de pouca ou nenhuma circulação e/ou ruído externo) de forma que o idoso possa sentir-se à vontade para discorrer sobre a sua vida. Para o exame físico, deve-se providenciar um local adequado de forma a não expor o idoso desnecessariamente. Tal avaliação deve ter por objetivo a identificação da presença de alterações fisiológicas (descritas anteriormente) e a verificação de anormalidades (que precisarão ser diagnosticadas). O exame físico deve, portanto, ser meticuloso. Após a fase de coleta de dados e identificação de problemas, passa-se à fase de planejamento e implementação da assistência. 

O planejamento do cuidado ao idoso deve basear-se na resposta das seguintes questões: 
1. Que tipo de cuidado será desenvolvido (caráter preventivo, curativo ou paliativo)? 
2. Quais e de que tipo são os cuidados requeridos (parciais ou totais)? 
3. Por quanto tempo estes cuidados serão necessários? 
4. Quem será o responsável pela execução destes cuidados (cuidador, familiar ou o profissional)? 
5. Onde serão dispensados estes cuidados (domicílio ou instituição)? 
6. Qual a necessidade e a real disponibilidade de recursos existentes (materiais, humanos, financeiros, pessoais e emocionais)?

A partir destas respostas, o enfermeiro encontrará as ferramentas necessárias para o planejamento das ações assistidas direcionadas ao idoso, a seu cuidador e à sua família, de forma a garantir a manutenção da dignidade da pessoa assistida como um ser que está vivo, que necessita e merece ser respeitado, além de adequadamente assistido em suas necessidades.

O quadro a seguir mostra algumas intervenções propostas na assistência ao idoso em seu processo normal de envelhecimento: 

INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM PROPOSTAS PARA MANUTENÇÃO DE UM ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL

ASPECTOS PSICOSSOCIAIS

. observar comportamento verbal e não-verbal do idoso e associá-lo a mudanças recentes em sua dinâmica de vida 
. observar alterações na auto-imagem e autocuidado do idoso 
. verificar interações sociais intra e extra familiares 
. se adequado, estimular a aquisição de animais domésticos (importantes na reabilitação emocional de muitos idosos, em especial os que vivem sós) 
. auxiliar o idoso no melhor aproveitamento de seu tempo livre (envolvendo-o em atividades produtivas e/ou significativas pessoal ou socialmente) 
. promover oportunidades de socialização inter e intra geracionais 
. prover oportunidades de verbalização sobre sua a história de vida, valorizando-a 
ASPECTOS NUTRICIONAIS

. observar alterações de peso (para mais ou para menos) e correlacioná-las com a ingestão alimentar 
. verificar a DIETA diariamente ingerida pelo idoso 
. solicitar avaliação de nutricionista caso sejam observadas inadequações 
CUIDADOS COM A PELE, PÊLOS E FÂNEROS

. avaliar a pele quanto à cor, textura e condições e associá-las à idade do idoso 
. verificar a presença de lesões, avaliar suas causas e propor tratamento adequado conforme capítulo específico 
. estimular o uso de óleos e loções lubrificantes sobre a pele para compensar as perdas próprias da idade e aumentar a proteção tecidual
. orientar a higiene corporal com água morna e sabonete neutro, evitando procedimentos abrasivos. No caso de ressecamento excessivo, restringir o uso de sabonete apenas à genitália 
. orientar a adequada exposição solar (antes de 10h e após as 16h) e o uso, se possível, de protetores solares 
. verificar alterações relacionadas à distribuição e coloração dos pêlos. Mudanças bruscas e acentuadas podem ser indicativas de processos patológicos 
. orientar ao idoso/cuidador a ingestão de líquidos (quentes ou frios), conforme a temperatura externa 
. orientar quanto ao cuidado com as unhas que deverão ser freqüentemente lixadas e não cortadas, evitando pontas que possam ferir e uma espessura inadequada (que pode levar a rachaduras e conseqüente lesão nos dedos). No caso de idosos diabéticos ou com desordens vasculares periféricas, cuidados especiais deverão ser destinados às unhas e pés 
. orientar a adequação do uso de roupas à temperatura ambiental, evitando exposição ao calor ou frio excessivos 
ALTERAÇÕES SENSORIAIS

VISÃO

. avaliar as perdas visuais e associá-las ao processo de envelhecimento
. testar reações pupilares 
. questionar quanto à presença de dificuldades visuais (diminuição de acuidade, fotosensibilidade, dificuldade de visão noturna) 
. questionar sobre acidentes recentes (choques físicos, quebra de objetos, quedas, etc) 
. orientá-lo quanto à necessidade de exame anual da visão e da prevenção de glaucoma 
. sugerir o aumento de luminosidade ambiental (se for o caso), o uso de luzes noturnas e a remoção de fatores de risco de acidentes (retirada de objetos e movéis posicionados em locais inadequados) 
. orientá-lo quanto às mudanças fisiológicas e sua adaptação a elas 
AUDIÇÃO

. avaliar as perdas auditivas e associá-las ao processo de envelhecimento 
. questionar quanto a qualquer perda auditiva que o mesmo tenha percebido nos últimos tempos 
. observar comportamentos não-verbais que sugiram perdas auditivas ( direcionamento da cabeça, deslocamento do corpo) 
. observar erros de compreensão que possam estar associados ao envelhecimento 
. ao conversar com o idoso, posicionar-se frente ao mesmo e dirigir-se a ele em tom normal, olhando para o mesmo enquanto fala. Não há a necessidade de se falar devagar ou de se elevar muito a voz, porque isso pode ser interpretado como uma atitude agressiva 
. na observância de alterações importantes, proceda ao exame do canal auditivo e verifique a presença de rolhas de cerume ou de irritação ou secreção local 
. encaminhe para a avaliação auditiva adequada se as alterações forem mais proeminentes.


PALADAR

. verifique inadequação alimentar devido a diminuição do paladar (excesso de sal ou açúcar) e oriente o idoso quanto ao prejuízo que isto pode causar à sua saúde 
. oriente-o quanto ao uso de temperos alternativos e ao uso de adoçantes e sal com baixo teor de sódio 


OLFATO

. verifique sinais de â da capacidade olfativa e oriente ao idoso quanto aos cuidados domésticos, em especial ao uso de gás 


TATO

. verifique mãos, pés e proeminências ósseas para verificar a presença de lesões decorrentes da diminuição da sensibilidade tátil 
. estimulação tátil é importante para muitos idosos, em especial àqueles com outras diminuições sensoriais; toque-o delicadamente em suas mãos e braços durante sua conversa, demonstrando atenção, carinho e observando as suas reações 
. oriente o idoso a utilizar roupas adequadas e luvas de proteção ao lidar com chamas de fogão para evitar acidentes 
. ensine-o a auto-examinar os pés (com o uso de espelhos de aumento) para observar a presença de lesões plantares normalmente não perceptíveis 
. oriente-o sempre a verificar a temperatura da água antes de banhar-se para evitar queimaduras 


ALTERAÇÕES COGNITIVAS

. antes de rotular um idoso como confuso, procure verificar se a desorientação ora apresentada não é decorrente do uso de medicações, alterações no sono, ambiente não-familiar ou déficits auditivos e visuais 
. oriente a adequação do ambiente para a segurança do idoso, evitando possíveis acidentes 
. todas as orientações fornecidas devem ser feitas por escrito, de forma clara e legível 
. a presença de alterações cognitivas mais acentuadas deverão ser encaminhadas para avaliação médica, pois podem estar associadas a processos patológicos 


ALTERAÇÕES NO SONO

. verificar o tempo utilizado pelo idoso para repouso durante o dia e à noite 
. verificar adequação do tempo de repouso com as atividades desenvolvidas 
. questioná-lo sobre as suas sensações após o período de repouso (sente-se descansado, agitado, ansioso, cansado) 
. verificar o uso de medicações que induzem o sono e sua adequação às necessidades do idoso 
. orientar o idoso quantos exercícios durante o dia, leite morno, meditação, música suave auxiliam na liberação de serotonina, que tem um importante papel na indução do sono 
. orientar o idoso que a diminuição do número de horas dormidas é um processo fisiológico normal e que, ao perder o sono, ele poderá dispor de atividades que induzam ao repouso, como leitura de livros pouco estimulantes ou assistir a filmes na TV com pouca ou nenhuma ação, de modo a não entretê-lo e, portanto, provocando sono 


ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES

. verifique a PA e compare-a com medidas anteriores, buscando identificar e tratar de quadros hipertensivos 
. verifique a presença de hipotensão ortostática 
. indague-o sobre sintomas como: fadiga, dispnéia aos esforços pequenos, etc que possam sugerir alterações cardiovasculares 
. verifique a presença de edemas e processos vasculares inflamatórios 
. estimule-o a algum tipo de atividade física durante o dia, adequada à sua condição cardiovascular e condicionamento físico; caminhadas costumam ser bem recomendadas 
. oriente-o a mudar de posição devagar e descansar quando estiver cansado, 
. na presença de alterações vasculares ou edemas, oriente-o ao uso de meias elásticas e elevação dos MMII quando em repouso 
. oriente-o à utilização de meias quentes ao dormir que retiram o desconforto causado pelo frio dos pés devido à inadequação da circulação periférica 
. nunca oriente o uso de bolsas térmicas (elétricas ou mecânicas) para evitar o risco de queimaduras em decorrência da diminuição da sensibilidade tátil.


ALTERAÇÕES RESPIRATÓRIAS

. identifique história anterior de tabagismo e antecedentes vacinais contra gripe e pneumonia 
. verifique a existência de alterações respiratórias relacionadas a mudanças sazonais e à qualidade do ar 
. questione-o quanto à freqüência de infecções respiratórias 
. estimule-o à prática de exercícios aeróbicos diários (por exemplo: caminhada) e auxilie-o a maximizar sua função respiratória 
. oriente-o a procurar assistência médica na vigência de quadros respiratórios infecciosos que durem mais que três dias 


ALTERAÇÕES GASTROINTESTINAIS

. oriente-o quanto à necessidade de ingestão hídrica diária 
. examine mucosas para avaliar hidratação 
. verifique hábitos alimentares e sua relação com qualquer sintoma digestivo 
. identifique o hábito intestinal do idoso e a ocorrência de episódios de constipação ou diarréia e relacione-os aos hábitos alimentares 
. oriente-o quanto à relação da ingestão hídrica, do consumo de fibras e da prática de exercícios regulares para o bom funcionamento intestinal 


ALTERAÇÕES RENAIS E URINÁRIAS

. identifique as características dos hábitos miccionais e sua freqüência
. verifique a presença de dificuldades nas eliminações vesicais, solicitando que o idoso as descreva detalhadamente 
. estimule-os a falar sobre possíveis episódios de incontinência, pois, para a maioria dos idosos, a presença destes quadro é equivocadamente considerada " normal" no processo de envelhecimento 
. verifique a presença de nictúria e sua relação com alterações do sono 
. oriente o idoso a ingerir de 6 a 8 copos de água por dia, independente da presença de sede, pois este reflexo estará diminuído)
. quando da identificação de incontinência de esforço, oriente-o quanto à realização de exercícios para o fortalecimento da musculatura pélvica pelo menos duas vezes ao dia 
. verifique o uso e adequação de absorventes para perdas urinárias. O estabelecimento de um programa de reabilitação miccional pode trazer efeitos muito benéficos à auto-estima dos idosos 


ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS

. verifique alterações na marcha e no equilíbrio e correlacione-as com as alterações musculoesqueléticas 
. identifique limitações nas AVDs devido à â da mobilização 
. examine as articulações identificando a presença de deformidades, crepitação, instabilidade ou diminuição funcional 
. verifique a presença de quadros álgicos ou lesões 
. encaminhe as idosas para avaliação médica e possível indicação de reposição hormonal pós menopausa para â a ocorrência de osteoporose
. estimule-o ao exercício físico (por exemplo: caminhada) com exposição ao sol em horários adequados e com a utilização de protetores solares.


USO DE MEDICAMENTOS

. verifique a prescrição medicamentosa do idoso e a real situação observada quanto ao uso de medicamentos (freqüentemente os idosos fazem uso de mais remédios que necessitam de fato, o que pode ser mais nocivo que benéfico aos mesmos) 
. oriente-o quanto aos riscos de ingestão de medicações inadequadas 
. solicite ver o local onde os medicamentos são armazenados e observe a adequação do mesmo bem como a presença de medicações vencidas ou impróprias à utilização pelo idoso 
. verifique a organização do idoso para a ingestão dos medicamentos (costuma esquecer, faz uma distribuição diária ou semanal, etc) 
. auxilie-o na organização destas prescrições de forma que o mesmo possa ingerir adequadamente suas medicações sem o risco de esquecê-las ou de abusar de sua ingestão 
. verifique sinais e sintomas de manifestações tóxicas relacionadas ao uso inadequado de medicamentos pelos idosos 
. verifique se a presença de quadros confusionais pode ser droga-relacionados 
. oriente ao idoso só ingerir medicações prescritas por seu médico e, caso ele seja acompanhado por mais de um profissional, sempre informá-los sobre as prescrições de seus colegas. 

Todas as intervenções acima propostas relacionam-se à preservação da integridade do idoso sem alterações patológicas. A identificação de qualquer processo anormal requer intervenção apropriada e individualizada. 

Não houve neste texto a pretensão de esgotar qualquer aspecto relacionado à avaliação global do idoso, por ser esta ampla e complexa. Nossa única intenção foi sensibilizar os leitores a direcionar seu olhar de forma mais acurada aos seus pacientes idosos e seus respectivos cuidadores e familiares de maneira a propiciar uma assistência mais adequada e humanizada aos mesmos. 

Encerramos com a colocação do "The Age Concern England", de 1998, que diz: 

"Pessoas idosas não são uma seção à parte da sociedade. São simplesmente pessoas que envelheceram. Elas não necessitam ou desejam as mesmas coisas. Suas necessidades e talentos são tão diversificados como em outras gerações e elas têm uma grande variedade de características humanas. Todas elas devem ter a liberdade para escolher seu estilo de vida. Devem ainda ter suas opiniões ouvidas e respeitadas e devem ser capazes de exercer influência sobre os acontecimentos que as cercam. No presente essas aspirações, apenas razoáveis, são negadas a muitos idosos devido a circunstâncias sobre as quais eles têm pouco ou nenhum controle". 

Nossa função é permitir que isto ocorra. 


Ao final do capítulo, a(o) enfermeira(o) deverá obter subsídios para: 
• Conhecer as principais alterações que caracterizam o envelhecimento fisiológico; 
• Estruturar a intervenção de enfermagem voltada para a manutenção da qualidade de vida do idoso.
Autores: Yeda Aparecida de Oliveira Duarte1
Última Atualização: 9/26/2001 7:45:48 AM 

1 Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico da EEUSP 

Bibliografia 

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DUARTE, YAO; DIOGO, MJD Assistência domiciliária: um enfoque gerontológico. São Paulo, Atheneu, 2000. 

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JACOB FILHO, W; SOUZA, RR Anatomia e fisiologia do envelhecimento. In: CARVALHO FILHO, ET; PAPALEO NETTO, M Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. São Paulo. Atheneu, 1994. 

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ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA SALUD Enfermeria gerontológica: conceptos para la práctica. (Série Paltex no. 31). Washington, 1993. 

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Fonte: http://gerovida2009.blogspot.com.br/2009/04/o-processo-de-envelhecimento-e.html