quarta-feira, 18 de março de 2015

MANUAL DE NORMAS METODOLÓGICAS

MANUAL DE NORMAS METODOLÓGICAS  

Para elaboração de TCC

Elaborado por:
Rosana de Fátima Delfini
Miriam Dias da Silva
Glaucimeire Moura

Revisado por:
Ana Célia de Araújo
Marcelo Reina Siliano
Paula Regina da Fonseca

2014
FEFISA – FACULDADES INTEGRADAS DE SANTO ANDRÉ

Curso de Educação Física
Curso de Fisioterapia
Curso de Moda
Curso de Nutrição

MANUAL DE NORMAS METODOLÓGICAS PARA ELABORAÇÃO E
REDAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – TCC

Santo André
2014

APRESENTAÇÃO
Este manual faz parte de um programa de incentivo à pesquisa para
alunos dos cursos de graduação da FEFISA – Faculdades Integradas de Santo
André.

Para tanto, além de trazer informações sobre pesquisa científica:
relevância, classificação, fases, objetivos, buscando esclarecer dúvidas e familiarizar
o aluno com expressões de metodologia científica, ainda atualiza as normas para
apresentação gráfica de trabalhos, podendo ser utilizado para a elaboração do TCC
e PIBIC de acordo com as normas da ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas.

Busca-se, com este manual, a uniformidade na elaboração e
apresentação dos trabalhos de graduação entregues ao Programa de Pesquisa da
instituição, bem como sua utilização pelos professores orientadores.

1 O QUE É PESQUISA?
Vários autores da área de metodologia procuraram mostrar a importância
da pesquisa científica e conceituá-la de acordo com seus objetivos.
Segundo Gil (2008, p.17), a pesquisa científica é “o procedimento racional
e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são
propostos”. Cervo e Bervian (1996) conceituam a pesquisa como uma atividade que
busca solucionar problemas diversos utilizando-se dos processos científicos. A
pesquisa parte, pois de uma dúvida ou problema e, com o uso do método científico,
busca uma resposta ou solução.

Já Marconi e Lakatos (2007, p. 157) trazem uma reflexão quanto à
importância de direcionar a pesquisa científica para o conhecimento da realidade. “A
pesquisa, portanto, é um procedimento formal, com método de pensamento
reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para
conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. As mesmas autoras, em
obra anterior, esclarecem que o método científico se caracteriza por ser falível, pois
não há verdades absolutas ou definitivas. O que a ciência faz é pesquisar hipóteses
que possam ser testadas e verificadas por procedimentos sistemáticos, por
pesquisadores da área em questão. As hipóteses podem ser confirmadas ou
refutadas durante o processo de pesquisa, mas ambas podem favorecer o
desenvolvimento científico levando à formulação de novas hipóteses e à busca de
novas respostas. (LAKATOS; MARCONI, 1991).

No mesmo sentido, Ruiz (2008, p.48) afirma que a pesquisa científica se
trata da “realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e
redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência. É o
método de abordagem de um problema em estudo que caracteriza o aspecto
científico de uma pesquisa”.

1.1 Como iniciar uma pesquisa científica
O pesquisador deve em primeiro lugar formular um problema que possa
ser consequentemente respondido pela própria pesquisa. São exemplos de
problemas em pesquisa científica:

• Quais são os fatores responsáveis pelo abandono do esporte
voleibol por adolescentes meninas no ensino médio?
• A crioterapia influencia o tônus muscular de pacientes espásticos?
• A cinesioterapia respiratória clássica, realizada em pacientes da
Unidade de Terapia Intensiva, influencia na taxa de mortalidade?
• O atletismo pode contribuir para a coordenação motora no
ambiente escolar?
• Os transtornos alimentares estão associados à depressão em
adolescentes?
• A atividade física contribui para a diminuição da obesidade em
crianças?

Veja que o problema sempre é formulado sob a forma de pergunta. Essa
pergunta deverá ser respondida pela pesquisa. A partir do problema, o pesquisador,
formula sua hipótese.

1.2 O que são hipóteses?
A hipótese apresenta possíveis relações entre fenômenos pesquisados
pelos cientistas. Constitui-se como uma suposição provável ou provisória para
responder a um problema, podendo ser verificada através da pesquisa. A hipótese,
então, busca responder provisoriamente a um problema formulado pelo pesquisador
sobre um tema de seu interesse. (LAKATOS; MARCONI, 2007).

Para Ruiz (2008, p.54), a hipótese “é o enunciado da solução
estabelecida provisoriamente como explicativa de um problema qualquer, a opinião
do pesquisador à procura de evidências posteriores e observáveis que a sustentem
e comprovem”. Andrade (2009) confirma a provisoriedade da hipótese no sentido de
que ela pode ser validada pela pesquisa, confirmada por ela ou rejeitada quando
não confirmada.

Os problemas citados no capítulo anterior podem ser transformados em
hipóteses a partir do momento em que o pesquisador os compreende como uma
provável solução: adolescentes depressivos têm maior propensão a desenvolver
transtornos alimentares; a atividade física diminui a obesidade em crianças; ou
ainda, a coordenação motora é beneficiada pela prática de atletismo na escola.
Veja que nos exemplos acima fica claro que a hipótese é uma afirmação
feita pelo pesquisador, que pode ou não ser confirmada com a pesquisa. No entanto,
deve ser passível de verificação através de uma metodologia desenvolvida para
esse fim.

As hipóteses podem ser classificadas em três tipos, segundo Richardson
(2007, p. 64):
• Univariadas quando apresentam apenas uma variável;
• Multivariadas quando apresentam ligação entre duas ou mais
variáveis;
• Relação causal quando apresentam relação de causa e efeito entre
variáveis.

1.3 O que são variáveis?
Para Andrade (2009, p.131), as variáveis “são fatores ou circunstâncias
que influem direta ou indiretamente sobre o fato ou fenômeno que está sendo
investigado”.

Neste sentido, podem ser “aspectos, propriedades, características
individuais ou fatores, mensuráveis ou potencialmente mensuráveis, através dos
diferentes valores que assumem, discerníveis em um objeto de estudo para testar a
relação enunciada em uma proposição.” (KÖCHE, 2009, p.113).

Quanto à sua classificação podem ser: variável dependente,
independente e interveniente.

1.3.1 Variável Dependente – VD
São variáveis que são influenciadas pelas variáveis independentes, sendo
fator, resultado, consequência ou resposta de algo que foi estimulado. (ANDRADE,
2009; KÖCHE, 2009, p.113).

Como exemplo: na hipótese de que o voleibol pode contribuir para
melhorar a consciência corporal de crianças do ensino fundamental, a variável
dependente é a consciência corporal, que por hipótese pode ser influenciada pelo
voleibol.

1.3.2 Variável Independente – VI
A variável independente é aquela que influencia a variável dependente,
sendo um fator determinante para que ocorra um determinado resultado. (KÖCHE,
2009; ANDRADE, 2009, p. 131).

No exemplo anterior, a variável independente, que influencia a VD seria o
voleibol. Como resultado da influência da VI – voleibol – sobre a VD espera-se uma
melhora na consciência corporal das crianças praticantes de voleibol.

1.3.3 Variável Interveniente
Aquela que, numa seqüência causal, coloca-se entre a variável
independente (X) e a dependente (Y) com a função de ampliar, diminuir ou anular a
influência de X sobre Y, encarada como consequência da variável independente e
determinante da variável dependente. (LAKATOS; MARCONI, p.152, 2006).
Como exemplo, se o estudo da influência do voleibol sobre a consciência
corporal em crianças ocorrer em escola pública, onde as crianças faltam
consideravelmente às aulas de educação física, pode-se apontar a variável
interveniente como a evasão escolar, que influenciaria diretamente nos resultados
da VI – voleibol sobre a VD – consciência corporal.

1.4 O que são objetivos
Um fator de fundamental importância é a definição do pesquisador sobre
quais são os objetivos de sua pesquisa, qual sua meta ou sua finalidade proposta.
Através do objetivo da pesquisa é que se determina o que será investigado e
alcançado. Vale lembrar que este objetivo deve obedecer a uma regra fundamental:
a possibilidade de ser executável e atingido.

A pesquisa pode conter um objetivo geral e dois ou mais objetivos
específicos.

1.4.1 Objetivo Geral
Está ligado a uma visão global e abrangente do tema vinculando-se
diretamente à própria significação da tese proposta pelo estudo. (MARCONI;
LAKATOS, 2009, p. 106). Ao formular o objetivo geral, responda à seguinte
pergunta: o que pretende com este projeto? Importante lembrar que o objetivo geral
seja apenas um e esteja diretamente ligado à proposta sugerida pelo estudo. O
objetivo geral responde sempre às perguntas: Para quê? Para quem? Por quê?

Como exemplos, pode-se citar:
• Elaborar um plano de aula para melhora do desenvolvimento motor
em crianças de 7 a 8 anos;
• Verificar o que leva jovens de 13 a 14 anos a não participarem das
aulas de educação física;
• Identificar os benefícios da atividade física em participantes da
terceira idade.

1.4.2 Objetivos Específicos
Este apresenta um caráter mais concreto, tendo função intermediária e
instrumental, permitindo, de um lado, atingir o objetivo geral e, de outro, aplicar este
a situações particulares. (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 106). Exemplos:
• Identificar a melhora do desenvolvimento motor em crianças que
fazem atividades com bola e sem bola.
• Relatar se os jovens não fazem aulas de educação física por não
gostarem ou pela falta de estímulo do professor.
• Determinar os idosos que fazem atividade em parques, clubes e
academias.

2 CLASSIFICAÇÃO DAS PESQUISAS

2.1 Classificação de pesquisa quanto aos objetivos
Quanto aos seus objetivos a pesquisa pode ser classificada como:
pesquisa exploratória, pesquisa descritiva ou pesquisa explicativa.

2.1.1 Pesquisa Exploratória
Este tipo de pesquisa busca se familiarizar com algum tema específico
buscando a construção de hipóteses. É, portanto, bastante flexível quanto ao seu
planejamento, tomando a forma de: pesquisa bibliográfica ou estudo de caso. (GIL,
2008).

2.1.2 Pesquisa Descritiva
Para Gil (2008), este tipo de pesquisa procura descrever as
características do fenômeno pesquisado ou de determinada população pesquisada.
Estabelece dessa forma, relações entre variáveis e utiliza-se da pesquisa de campo
para coleta de dados. São utilizados instrumentos para a pesquisa que podem ser:
inventários, questionários entre outros.

2.1.3 Pesquisa Explicativa
Esta pesquisa é considerada aquela que mais aprofunda o conhecimento
científico por se preocupar com a explicação sobre o porquê da ocorrência dos
fenômenos, suas causas. Pode ser a continuidade de uma pesquisa descritiva já
que para explicar os fatores que determinaram um fenômeno, este deve estar bem
descrito e detalhado. (GIL, 2008).

2.2 Classificação das pesquisas quanto aos procedimentos técnicos utilizados
Pode ser considerado também, como o delineamento da pesquisa, tendo
em vista, a forma de trabalhar com os dados empíricos, ou seja, o material coletado.

É útil para o planejamento do tratamento dos dados encontrados. “O delineamento
refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla, que envolve
tanto a diagramação quanto a previsão de análise e interpretação de coleta de
dados”. (GIL, 2008, p.43).

2.2.1 Pesquisa Bibliográfica
Este tipo de pesquisa é desenvolvido a partir de material já elaborado por
outros pesquisadores. (GIL, 2008). Neste caso o pesquisador coleta informações
sobre pesquisas anteriores em fontes bibliográficas, tais como:

• Livros – obras literárias ou obras de divulgação, dicionários,
enciclopédias, anuários e almanaques;
• Publicações periódicas – artigos científicos de revistas ou jornais
científicos, disponíveis em bibliotecas ou internet;
• Obras acadêmicas – TCC, dissertação de mestrado, tese de
doutorado, disponíveis em bibliotecas ou internet.

A pesquisa bibliográfica não realiza pesquisa de campo, o que pode
limitar seu campo de atuação caso não se aprofunde adequadamente o tema
investigado.

No entanto, a pesquisa bibliográfica é utilizada em todos os trabalhos
com pesquisa de campo, para desenvolvimento do tema do trabalho em sua revisão
de literatura.

2.2.2 Pesquisa documental
Esta pesquisa assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica, diferindo
apenas no material que será utilizado. Neste caso, tratam-se de documentos que
não receberam tratamento analítico, chamados de fontes primárias. (GIL, 2008).
Os documentos utilizados podem ser: correspondência pessoal,
documentos de cartório, registros. Podem ser utilizados ainda filmes, gravações
entre outros.

2.2.3 Pesquisa Experimental

Na pesquisa experimental, o pesquisador determina um objeto de estudo,
seleciona as variáveis capazes de influenciar esse objeto e define formas de
controle, observando os efeitos que a variável produz sobre o objeto. (GIL, 2008).
Para ser considerada experimental, a pesquisa deve apresentar as
seguintes propriedades, segundo Gil (2008):

• A manipulação de pelo menos uma característica dos elementos
estudados, a manipulação da VI sobre a VD;
• O controle introduzido na situação experimental na forma de grupo
controle – grupo com características diferentes do grupo
experimental;
• A distribuição dos sujeitos da pesquisa experimental deve ser feita
aleatoriamente.

2.2.4 Pesquisa Ex-post facto
Tem como tradução literal “a partir do fato passado”. Neste tipo de
pesquisa sempre é realizada “após a ocorrência de variações na variável
dependente no curso natural dos acontecimentos”. (GIL, 2008, p. 49).
Por exemplo, um estudo sobre benefícios do acompanhamento nutricional
em portadores de diabetes mellitus do tipo 2, pode ser considerado nesta categoria,
já que a ocorrência do diabetes nestes sujeitos é anterior à pesquisa. Não se espera
com o acompanhamento nutricional a “cura” dos sujeitos, mas a melhora na
qualidade de vida de portadores da doença.

2.2.5 Levantamento
Trata-se da pesquisa que busca informações diretamente com as
pessoas que se procura estudar. A população pesquisada é significativa do total de
pessoas com as mesmas características ou mesmo comportamento. Apresenta
vantagens, tais como, o conhecimento direto da realidade, economia e rapidez na
coleta de dados e a facilidade de quantificação dos dados, que podem ser
agrupados em tabelas, possibilitando uma análise estatística. O levantamento é um
procedimento adequado para pesquisas descritivas. (GIL, 2008).

Como exemplo do levantamento pode-se citar o censo realizado pelos
governos ou instituições.

2.2.6 Estudo de Campo
Apresenta semelhanças com o levantamento, mas proporciona maior
profundidade dos dados coletados. A pesquisa é realizada com um único grupo,
observado diretamente por um pesquisador que tem informações sobre um
fenômeno no local onde eles acontecem. Com isso, os resultados são mais
fidedignos, mas requerem mais tempo e devem ser analisados e interpretados com
maior cuidado, para não haver envolvimento do subjetivismo do pesquisador. (GIL,
2008).

2.2.7 Estudo de Caso
Pesquisa realizada com um ou poucos sujeitos, com o objetivo de aprofundarse
e detalhar as características do objeto estudado. O estudo de caso pode ser
utilizado com diferentes propósitos, entre eles a formulação de hipóteses. A
metodologia utilizada costuma ser menos rígida que nos levantamentos e estudos
de campo, o que ocasiona uma necessidade de que o pesquisador planeje
adequadamente a coleta de dados e a análise dos resultados evitando vieses. (GIL,
2008).

2.2.8 Pesquisa ação
Pesquisa utilizada em estreita ligação com a solução de determinados
problemas da população estudada. O pesquisador tem participação ativa, assim
como os grupos ou pessoas pesquisados. Ocorre uma interação colaborativa entre
pesquisador e participantes da pesquisa, e deve haver um cuidado para que não se
perca a objetividade que se exige na pesquisa científica, principalmente no que se
refere à análise e interpretação dos dados obtidos com o estudo. (GIL, 2008).

2.2.9 Pesquisa com Abordagem Clínica

Esta forma de pesquisa se utiliza das seguintes especificações: Estudos em
Descritivos (Estudo de Caso, Série de Casos e Transversal) e analíticos
(observacionais – Transversal, caso-controle e Coorte); Estudos Analíticos
Intervencionistas (ensaios clínicos) e Estudo de Diagnóstico (acurácia)
Podem-se dividir os estudos, considerando os procedimentos técnicos
utilizados, em descritivos e analíticos. Os estudos descritivos são aqueles que
descrevem a distribuição da condição, doença ou incapacidade, suas características
e suas possíveis disfunções. Pode-se, através desses estudos, descrever o
tratamento empregado ou detalhamento biomecânico para explicar uma determina
condição. O Estudo de Caso e o Relato de Série de Casos são exemplos de estudos
descritivos.

A facilidade de execução, o baixo custo e a rapidez nos resultados são as
vantagens desse tipo de estudo, porém a impossibilidade de estabelecer relação de
causa e efeito torna-o desvantajoso. Contudo, os dados desse estudo servirão para
a formulação de hipóteses que podem ser testadas, subsequentemente, por meio de
um estudo analítico.

O Estudo Transversal também pode ser classificado como estudo descritivo,
embora ele também tenha uma característica de estudo analítico (no momento da
apresentação dos seus dados pode-se criar uma relação de causa e feito). Apesar
de fácil e econômico este desenho deve ser empregado em estudos cujas causas ou
condições sejam permanentes. Esse tipo de delineamento refere-se a estudos de
prevalência, ou seja, quantifica a proporção de indivíduos que têm a condição,
característica ou doença.

Os estudos analíticos são divididos em observacionais e intervencionistas.
Nos estudos observacionais, o pesquisador apenas observa quem é exposto, ou
não, à condição/doença e quem desenvolveu, ou não, a condição/doença ou outro
desfecho clínico de interesse. Nos estudos intervencionistas, o investigador
determina quem sofrerá, ou não, a exposição ao tratamento.

Os estudos observacionais podem ser divididos em caso-controle e coorte. O
delineamento do tipo caso-controle investiga a possibilidade de exposição do
indivíduo a certa condição/doença (casos), sendo comparado com um grupo de
pessoas sem a condição/doença (chamado de controle). Cada grupo é investigado
de maneira retrospectiva, para verificar a frequência de fatores de risco que estariam
associados ao processo de gênese da condição/doença. É considerado um estudo

de baixo custo e rápido. Pode, porém, apresentar vícios na seleção dos participantes
e, também, durante a mensuração.

No estudo do tipo Coorte, 2 ou mais grupos de pessoas livres da
condição/doença (desfecho analisado no estudo) são selecionados e diferirão
quanto ao grau de exposição à causa potencial da condição/doença (desfecho
analisado). Os investigadores selecionarão um grupo de indivíduos expostos a uma
causa potencial da condição/doença e um grupo de indivíduos não expostos. Ambos
os grupos serão acompanhados para comparar a taxa de incidência. Vale ressaltar
que, quando o seguimento é feito de maneira retrospectiva, é chamado de coorte
histórica ou retrospectiva. As vantagens da realização do estudo de coorte são:
permite que a contaminação e a co-intervenção sejam rigorosamente medidas e tem
um alto poder analítico. As desvantagens são: necessidade de um tempo longo para
observações das ocorrências de interesse; alto custo; perdas durante o seguimento,
e ser inadequado para condições ou doenças de baixa prevalência.

O estudo analítico, do tipo intervencionista, é conhecido como ensaio clínico
randomizado. Tem como característica a alocação dos participantes, de forma
aleatória, para receber uma das intervenções propostas pelo estudo. Em verdade,
esse tipo de estudo mede e compara diferentes eventos que estão presentes, ou
ausentes, após os participantes receberem as intervenções. Esses eventos são
chamados de desfechos clínicos. É, também, fundamental ressaltar que esse
delineamento, quando realizado de forma adequado, permite a produção de
resultados com menor possibilidade de vieses. Qualquer diferença encontrada nos
desfechos seja estatística ou clínica, poderá ser explicada em razão do tratamento.
Ainda relacionado com o delineamento de pesquisa, está o estudo de
acurácia (diagnóstico), no qual o interesse é saber se um determinado teste, ou
exame disponível é capaz de separar as pessoas que têm uma
condição/doença/disfunção daquelas que não têm.

3 NORMALIZAÇÃO DE TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO PELA ABNT
A norma NBR 14724 (2011) especifica os princípios gerais para a
elaboração de trabalhos acadêmicos (teses, dissertações e outros), visando sua
apresentação à instituição (banca, comissão examinadora de professores,
especialistas designados e/ou outros). Aplica-se, no que couber aos trabalhos intra
e extraclasse da graduação.

De acordo com a referida norma o Trabalho de Conclusão de Curso ou
TCC é um documento que deve conter os resultados de estudo sobre determinado
assunto escolhido pelo aluno, com auxílio de um orientador.
Tabela 1 – Elementos obrigatórios e opcionais na apresentação do TCC

ESTRUTURA ELEMENTOS

Elementos
Pré-textuais
Capa (obrigatório)
Lombada (opcional)
Folha de rosto (obrigatório)
Errata (opcional)
Folha de aprovação (obrigatório)
Dedicatória (opcional)
Agradecimentos (opcional)
Epígrafe (opcional)
Resumo na língua vernácula (obrigatório)
Resumo em língua estrangeira (opcional
para a FEFISA)
Lista de ilustrações (opcional)
Lista de tabelas (opcional)
Lista de abreviaturas e siglas (opcional)
Lista de símbolos (opcional)
Sumário (Obrigatório)
Elementos
Textuais
Introdução
Desenvolvimento (que compreende os três
itens):

- Marco teórico ou Revisão de literatura
- Metodologia
- Apresentação e análise de resultados
Considerações Finais
Elementos
Pós-textuais
Referências (obrigatório)
Glossário (opcional)
Apêndice(s) (opcional)
Anexo(s) (opcional)
Índice(s) (opcional)
(Fonte: ABNT, NBR 14724, 2011)

3.1 Elementos Pré-textuais

3.1.1 Capa
Elemento obrigatório que pertence aos elementos pré-textuais do TCC. A
capa deve conter nome da instituição e do curso, nome dos autores do trabalho
(alunos que o elaboraram e o redigiram), título do trabalho (se houver subtítulo deve
ser precedido de dois pontos), cidade e ano de entrega para apresentação em
banca. (Modelo no anexo A).

3.1.2 Lombada
A norma NBR 12225 (2004) estabelece os requisitos para apresentação
de lombadas e aplica-se exclusivamente a documentos em caracteres latinos,
gregos e cirílicos. Tem por finalidade oferecer regras para a apresentação de
lombadas para editores, encadernadores, livreiros, bibliotecas e seus clientes.
Aplica-se, no que couber, a lombadas de outros suportes (gravação de vídeo,
gravação de som, etc.).

Utilizada quando o TCC for apresentado na forma de encadernação. Na
lombada consta o nome do autor e o título do trabalho, nesta ordem, impressos
longitudinalmente e de forma legível, iniciando do alto para o pé da lombada.
Também devem constar os elementos numéricos no pé da lombada, como exemplo
o ano de entrega e volume, caso haja.

O TCC encadernado é aquele encaminhado ao acervo da biblioteca da
instituição. São encaminhados à biblioteca os trabalhos que na apresentação em
banca examinadora obtiverem nota igual ou superior a 9,0, porém os textos deverão
ser revisados e entregues novas versões, a saber: 1 cópia impressa sem
encadernação e 1 cópia em cd.

3.1.3 Folha de Rosto
A folha de rosto deve conter nome dos autores (alunos que elaboraram e
redigiram o trabalho), título do trabalho, texto com informações sobre a destinação
do trabalho – apresentação à banca – e nome do orientador, cidade e ano de
entrega. (Modelo no anexo B).

3.1.4 Errata
A errata é opcional e pode ser utilizada se o autor após a impressão do TCC
perceber que houve algum erro na digitação de uma palavra, dados de uma tabela,
nome de autor, entre outros. Numa errata, corrigem-se os dados da seguinte forma:

ERRATA
Folha Linha Onde se lê Leia-se
41 10 15% 25%

3.1.5 Dedicatória
Texto opcional no qual o autor do trabalho dedica o TCC a alguém de seu
convívio pessoal ou profissional. O título dedicatória não deve aparecer na página.

3.1.6 Agradecimentos
O texto do agradecimento é opcional e deve ser escrito para pessoas ou
instituições que participaram diretamente no trabalho, tendo importância em sua
produção. O título agradecimentos deve aparecer antes do texto.

3.1.7 Epígrafe
A epígrafe é opcional e não deve ser titulada. Em seu texto podem ser
utilizados poemas e letras de músicas, completos ou em parte, frases, provérbios,
entre outros, que sejam relacionados diretamente ao tema do TCC. Sua formatação
é livre, mas deve ser seguida da indicação de sua autoria.

3.1.8 Resumo
A norma NBR 6028 (2003) estabelece os requisitos para redação e
apresentação de resumos. Como o resumo é um elemento obrigatório pré-textual
não deve aparecer no sumário. Deve ser escrito em fonte times new roman ou arial
tamanho 12, em espaço simples, sem parágrafos. O título “RESUMO” deve ser
centralizado e em letras maiúsculas. Em seu conteúdo, o resumo deve explorar a
importância do tema, principais elementos da revisão de literatura, objetivos,
metodologia, resultados e considerações finais. O resumo deve conter de 150 a 500
palavras e deve conter de 2 a 5 palavras-chave ao final, separadas por ponto e
finalizadas também por ponto. (Modelo de resumo anexo D).

Para a FEFISA, o resumo em língua estrangeira é opcional para entrega e
apresentação em banca examinadora, mas indicado, no entanto, para os trabalhos
encaminhados à biblioteca.

3.1.9 Lista de Ilustrações
Elemento opcional que deve ser utilizado caso o TCC apresente
desenhos, fluxogramas, fotografias, mapas, organogramas, entre outros. As
ilustrações devem ser relacionadas à sua página. O título lista de ilustrações é
indicado no alto da página, em letras maiúsculas e negrito, centralizado.

3.1.10 Lista de Tabelas
Elemento opcional que é utilizado caso o TCC apresente tabelas. Cada
tabela é relacionada à sua página, devendo o título aparecer no alto da página, em
letras maiúsculas e negrito, centralizado.


3.1.11 Lista de Abreviaturas e Siglas
É um elemento opcional que consiste na relação alfabética das
abreviaturas e siglas que constam no TCC acompanhadas das expressões
correspondentes. O título deve ser utilizado com letras maiúsculas e negrito,
centralizado.

3.1.12 Lista de símbolos
Elemento opcional. Elaborada de acordo com a ordem apresentada no
texto, com o devido significado de cada símbolo.

3.1.12 Sumário
A norma NBR 6027 (2012) estabelece os requisitos para apresentação de
sumário de documentos que exija visão de conjunto e facilidade de localização das
seções e outras partes. Essa Norma aplica-se, no que couber, a documentos
eletrônicos.

Os capítulos devem ser redigidos com letras maiúsculas e espaçamento
1,5. Os subcapítulos apenas com a primeira letra maiúscula, e espaçamento
simples. Todos são numerados, menos a referência, os anexos e apêndices. O título
sumário deve ser negritado e centralizado. (Modelo no anexo C).

Os elementos pré-textuais não podem constar no sumário.

3.2 Elementos Textuais
A redação dos elementos textuais deve obedecer à seguinte formatação: letra
arial ou times new roman, os capítulos a partir da introdução devem ser numerados
e escritos em letras maiúsculas, com negrito. Os subcapítulos devem ser numerados
e escritos com apenas as primeiras letras maiúsculas, podendo ou não ser
negritados. O espaçamento deve ser 1,5 e a fonte tamanho 12. As páginas devem
ser numeradas (número 1) a partir da introdução, no canto superior direito da folha.

Observar exceção de formatação apenas para as citações diretas longas,
especificadas no item 6.2.2.2.

3.2.1 Introdução
A introdução deve conter alguns elementos essenciais para apresentação
do trabalho: a justificativa do tema, sua relevância pessoal e/ou profissional para o
autor, sua relevância científica e social; a metodologia utilizada para atingir os
objetivos e os objetivos gerais e específicos da pesquisa. Para contextualizar o tema
podem ser utilizadas citações de autores.

3.2.2 Marco Teórico
O marco teórico pode também ser definido como revisão de literatura.
(veja a seção 5.2.1 sobre a pesquisa bibliográfica). Nesta seção, são registradas
todas as informações da pesquisa bibliográfica, e os autores lidos devem ser
registrados no texto sob a forma de citação. O título dos capítulos é de
responsabilidade do autor do TCC, de acordo com o tema que esteja sendo
pesquisado.

A citação é a “menção [no texto] de uma informação extraída de outra
fonte” (NBR 10520,2002,p.1), que serve para esclarecer ou sustentar o assunto
apresentado. A citação protege a obra dos autores pesquisados. A citação realizada
sem a referência do autor que a escreveu é considerada plágio. Nesse sentido, a
cópia de trechos de livro, de sites de internet, ou de outros meios de informação,
sem o registro do autor no texto é considerado plágio e qualquer trabalho de TCC
que estiver nestas condições será automaticamente reprovado.
A citação pode ser indireta, direta e dependente (citação de citação).

3.2.2.1 Citação indireta
A citação indireta sempre diz respeito à obra lida, mas escrita com as
palavras do autor, de acordo com sua interpretação do texto lido. Pode-se consultar
para redigir o marco teórico: livros, artigos de revistas científicas, artigos científicos
em internet, dissertações de mestrado, teses de doutorado, e trabalhos de

conclusão de curso. Também podem ser obtidas informações por canais informais
(palestras, debates, entrevistas, entre outras), devendo manter o sentido do texto
original, podendo aparecer sob a forma de paráfrase ou de condensação. (NBR
10520,2002,p.2; CITAÇÕES...,2000,p.10).

a) Exemplo com a citação do autor no texto – primeira letra do sobrenome
do autor maiúscula e demais minúsculas, o ano deve constar entre parênteses:
Segundo Freitas e cols. (2007), a obesidade é uma patologia crônica que
pode desencadear outras enfermidades, com o aumento do número de indivíduos
obesos a patologia hoje é tratada como um problema de saúde pública.

b) Exemplo de citação no final do parágrafo – sobrenome do autor em
letras maiúsculas dentro dos parênteses:
A preparação de um atleta envolve aspectos físicos, técnicos, táticos,
psicológicos, familiares e sociais, portanto o termo mais adequado para utilização
dentro dos esportes é a preparação desportiva (BORIN, 2007)

c) Exemplo de citação do autor no meio do parágrafo – sobrenome do
autor em letras maiúsculas dentro dos parênteses:

O educador da área da educação física (MATTOS; NEIRA, 2000) não
pode tornar-se acomodado e individualista; ele precisa desenvolver qualidades tais
como a criatividade e a persistência e deve possuir conhecimentos teóricos que
auxiliem no aprendizado do seu aluno.

3.2.2.2 Citação direta
Transcrição literal de frase ou parágrafo de um texto ou parte dele,
mantendo a grafia, a pontuação, o uso de maiúscula e o idioma (NBR10520,2002,
p.1), podendo utilizar tanto o sistema autor-data, como os sistema numérico. Pode
ser citação direta curta ou longa.

a) A citação direta curta, com até três linhas, deve estar inserida no texto
(parágrafo) entre aspas duplas, com o mesmo tipo e tamanho de letra. As aspas
simples são utilizadas para indicar citação no interior da citação.

Exemplo: “Nessa contagem regressiva para o século XXI, existe um
movimento de educadores para que a escola reencontre os vínculos perdidos entre
educação e humanização” (SOUSA, 1999 ,p.52).

Para Salomon (1999,p.349), “[...] [assim] como o trabalho literário,
também o científico tem sua ‘arte própria’ para se poder conciliar precisão,
objetividade e clareza[...]”.

Os colchetes utilizados com reticências mostram que algumas
informações da frase do autor foram suprimidas, não sendo transcritas na citação.

b) A citação direta longa apresenta-se da seguinte forma, conforme a
NBR 10520 (2002,p.2): as “transcrições no texto com mais de três linhas devem ser
destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra menor que a do
texto utilizado e sem aspas”. A letra utilizada deve ser fonte 10 e espaçamento
simples. Deve ser deixado um espaço em branco entre a citação e os parágrafos
anterior e posterior. Como exemplo:

O conhecimento científico surge da necessidade do homem não assumir
uma posição meramente passiva, de testemunha dos fenômenos, sem
poder de ação ou controle dos mesmos. Cabe ao homem, otimizando o uso
da sua racionalidade, propor uma forma sistemática, metódica e crítica da
sua função de desvelar o mundo, compreendê-lo, explicá-lo e dominá-lo.
(KÖCHE, 2007, p. 29, grifos do autor).

A citação dependente (citação de citação) serve para a citação de trechos
de documentos ao qual não se teve acesso, tomando-se conhecimento dele através
de outros trabalhos, como no caso de documentos raros, antigos ou com barreira
linguística. Este tipo de citação só deve ser usado na impossibilidade de acesso ao
original.

a) Exemplo no texto:
Para Salomon1 (2000 apud SEVERINO, 2002, p.38) cada estudante pode
formar seu fichário de documentação temática relacionado ao curso que está
seguindo, a partir da estrutura curricular do mesmo.

1 SALOMON, S. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2000.

b) No rodapé:
A referência do autor Salomon deve estar no rodapé da página neste
caso, não sendo inserida nas referências ao final. (veja o exemplo abaixo na nota de
rodapé).

Para inserir a nota de rodapé, clique na barra de ferramentas do Word em
Inserir – notas – de rodapé e apenas digite o autor e trabalho no rodapé da página.

3.2.3 Metodologia

3.2.3.1 Plano de Pesquisa
Registre neste subcapítulo qual seu tipo de pesquisa (reveja capítulo 5
deste manual) e qual o procedimento utilizado para a coleta de dados, detalhando
ao máximo como foi realizada a pesquisa de campo.

3.2.3.2 Universo e Amostra
Registre o número de sujeitos, descreva-os com detalhes e descreva
também quais foram os critérios de inclusão e exclusão utilizados para definir a
amostra. Por que foram escolhidos? Com que objetivos?

3.2.3.3 Material(ais) e Método(s)/Casuística ou Instrumentos
Deverá ser apresentada uma completa descrição dos instrumentos e métodos
utilizados na condução do trabalho, permitindo ao leitor a interpretação e o
entendimento dos resultados, além de possibilitar a reprodução do estudo ou a
utilização do método por outros autores. Deverá constar nessa secção, informações
sobre local e período da pesquisa, população ou amostra estudada, instrumentos e
técnicas empregadas, bem como os procedimentos utilizados.

3.2.3.3 Métodos ou Procedimento

A seção de Métodos só deve incluir as informações disponíveis no momento
da elaboração do planejamento ou do protocolo do estudo; todas as informações
obtidas durante a realização do estudo pertencem à seção de resultados.

3.2.3.5 Informações técnicas
Identificar os métodos, os aparelhos (mencionar do nome e o endereço do
fabricante entre parênteses) e os procedimentos em pormenores suficientes para
permitir outros pesquisadores reproduzirem os resultados. Fornecer as referências
dos métodos já estabelecidos, inclusive dos métodos estatísticos; dar as referências
e as descrições curtas dos métodos já publicados, mas que não são muito bem
conhecidos; descrever os métodos novos ou que sofreram modificações
importantes, explicando as razões para utilizá-los e avaliando suas limitações.
Identificar com precisão todos os fármacos e compostos químicos empregados,
inclusive o(s) nome(s) genérico(s), dose(s) e via(s) de administração.

O aluno/grupo ao realizar monografias de revisão deve incluir uma secção
com a descrição dos métodos utilizados para localizar, selecionar, extrair e sintetizar
os dados.

Esses métodos devem também fazer parte do resumo.

3.2.3.6 Estatística
Descrever os métodos estatísticos com bastante pormenor para permitir que
um leitor com conhecimento do assunto possa ter acesso aos dados originais para
verificar os resultados apresentados. Se possível, quantificar os achados e
apresentá-los com os indicadores adequados de medidas de erro ou de incerteza
(tais como os intervalos de confiança).

Evitar confiar apenas nos testes de hipótese, como o uso dos valores de p, os
quais não fornecem informações importantes sobre o tamanho do efeito. Definir os
termos estatísticos, as abreviações e a maioria dos símbolos. Especificar qual foi o
software utilizado.

3.2.4 Análise dos Resultados

Apresentar os seus resultados em uma seqüência lógica no texto, tabelas e
ilustrações, mencionando primeiro os achados mais importantes. Não repetir no
texto todos os dados mostrados nas tabelas ou nas ilustrações; enfatizar ou resumir
somente as observações importantes. Matérias suplementares ou adicionais e
detalhes técnicos podem ser colocados em um apêndice, onde ficarão acessíveis,
sem interromper o fluxo do texto.

Quando os dados são resumidos na seção de resultados, apresentar os
resultados numéricos não apenas como valores derivados (por exemplo,
percentagens), mas também em números absolutos a partir dos quais os valores
derivados foram calculados e especificar os métodos estatísticos usados para
analisá-los. Restringir as tabelas e figuras àquelas necessárias para explicar e
apoiar o argumento do trabalho.

Utilizar os gráficos como uma alternativa às tabelas com muitas entradas; não
duplicar os dados nos gráficos e nas tabelas.

Evitar o uso não técnico de termos técnicos em estatística, tais como “acaso”,
“normal”, “significante”, “correlações” e “amostra”.

3.2.5 Discussão dos Resultados
Nesta secção, o autor faz uma análise crítica de seus resultados/observações
relacionando-os às pesquisas anteriores.

Enfatizar os aspectos novos e importantes do estudo e as conclusões que
advêm deles. Não repetir em detalhes os dados ou outros materiais inseridos nas
seções de introdução ou de resultados. Para os estudos experimentais, é útil
começar a discussão por um breve resumo dos principais achados, depois, explorar
os mecanismos ou explicações possíveis para esses resultados, comparar e
contrastar os resultados com outros estudos relevantes, mencionar as limitações do
estudo e explorar as implicações dos achados para pesquisas futuras e para a
prática clínica.

Relacionar as conclusões com os objetivos do estudo, mas evitar afirmações
e conclusões não adequadamente corroboradas pelos dados obtidos nos resultados.
O aluno pode optar por fazer dos itens 3.2.4 e 3.2.5 um texto único, o qual
deverá ser chamado de Análise de Discussão dos Resultados

3.2.6 Considerações Finais (obrigatório)
A conclusão representa a síntese para a qual o trabalho se encaminha;
constitui o desfecho do trabalho, reafirmando a idéia principal discutida no trabalho.
Para ela convergem os passos da análise e da discussão e nela se procede um
balanço interpretativo dos resultados obtidos.

Em outras palavras, a conclusão caracteriza-se por:

I. Retomar a introdução, patenteando, assim, a organicidade e unidade do
trabalho;

II. Ser fundamentada nos resultados, contendo deduções lógicas que
correspondam aos objetivos do tema proposto, e às expectativas propostas pelo
autor na introdução do trabalho. É a resposta à pergunta da pesquisa – objetivo da
tese;

III. Ser breve, exata e acompanhar a seqüência proposta nos objetivos;

IV. Representar a avaliação do trabalho realizado.

Importa, ainda, destacar que, numa conclusão, não se deve extrapolar os
resultados discutidos no desenvolvimento. Também não se deve figurar qualquer
dado que envolva novos questionamentos. Entretanto, a conclusão pode abrir
caminho para a discussão de novas problemáticas, ou mesmo significar um avanço
na possível superação do problema levantado.

3.3 Elementos Pós-textuais

3.3.1 Referências
A norma NBR 6023 (2002) estabelece os elementos a serem incluídos
nas referências, fixa a ordem dos elementos das referências e estabelece
convenções para transcrição e apresentação da informação originada do documento
e/ou outras fontes de informação.

Essa Norma destina-se a orientar a preparação e compilação de
referências de material utilizado para produção de documentos para inclusão em
bibliografias, resumos, resenhas, recensões e outros.

Essa Norma não se aplica às descrições usadas em bibliotecas, nem as
substitui.

3.3.1.1 Transcrição das referências
As referências podem ser indicadas por elementos essenciais e
elementos complementares, conforme o discriminado a seguir.

1) Os elementos essenciais são aqueles indispensáveis à identificação de
qualquer documento. São eles: autor (es), título, subtítulo (se houver), edição e
imprensa (local, editora e data). Pode ser registrado no sistema numérico ou no
sistema autor-data, conforme exemplos.

a) Exemplo de livro com um autor
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.

b) Exemplo de livro com dois autores:
MARCONI, A. M.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São
Paulo: Atlas, 2007.

c) Exemplo com mais de três autores: só colocamos o nome do primeiro
autor, acrescentando a expressão et al.
DE ROSE JUNIOR, D. et al. Esporte e atividade física na adolescência: uma
abordagem multidisciplinar. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

d) Exemplo de um livro organizado por um autor:
MOREIRA, E. C. (Org.). Educação física escolar: desafios e propostas 2.
Jundiaí/Brasil: Fontoura, 2006.

e) Exemplo de capítulo de livro:
GRECO, P. J. Percepção no esporte. In: SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte.
São Paulo: Manole, 2002, p. 55-77.

f) Exemplo de artigo científico:

SILVA, P. R. S. O papel do fisiologista desportivo no futebol – para quê & por quê?
Rev Bras Med Esporte, v. 6, n. 4, p. 165-169 – Jul/Ago, 2000.

g) Exemplo de autor sendo entidade:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e
documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.
Note que nas referências, a margem esquerda, a partir da 2ª linha, deve
estar sobre a primeira letra de entrada (ABNT-NBR6023:2002). Utilizar negrito,
itálico ou sublinhado nos títulos, desde que uniforme em todas as referências de um
mesmo documento. Isso não se aplica às obras sem indicação de autoria, ou
responsabilidade cujo elemento de entrada é o próprio título já destacado pelo uso
de letras maiúsculas na primeira palavra com exclusão de artigos (definidos e
indefinidos) e palavras monossilábicas. Os subtítulos permanecem inalterados.

2) Transcrição dos elementos: A referência tem a sua entrada feita por
autor(es) que pode(m) ser pessoa física ou institucional. Quando estes não estão
determinados, entra-se pelo título, sendo que, para efeito de pontuação, considerase
mais de um autor como um só elemento. Quando o local de publicação não
constar da obra referenciada, deverá figurar entre colchetes, respectivamente por
[s.l.] (sem lugar de publicação). Quando a editora não for identificada, deverá figurar
entre colchetes [s.n.] (sine nomine).

Quando não for possível identificar a data, registrar entre colchetes uma
data provável ou aproximada. Exemplos:

[1993?] para data provável
[1971 ou 1972] um ano ou outro
[c.a. 1980] para data aproximada
[199__] para década certa
[199_?] para década provável
[19___] para século certo
[19__?] para século provável
[entre 1908 e 1920] use intervalos menores de 20 anos

3) Normas para referências de documentos eletrônicos disponíveis na
internet. De acordo com a indicação da NBR6023 (2002, p.4), “quando se tratar de
obras consultadas on-line são essenciais as informações sobre o endereço
eletrônico apresentado entre os sinais < >, precedido da expressão ‘Disponível em: ’
e a data de acesso ao documento, precedida da expressão ‘Acesso em:’” não se
recomendando referenciar material de curta duração nas redes, como as
“mensagens que circulam por intermédio do correio eletrônico [que] devem ser
referenciadas somente quando não se dispuser de nenhuma outra fonte para
abordar o assunto em discussão. Mensagens trocadas por e-mail têm caráter
informal, interpessoal e efêmero e desaparecem rapidamente, não sendo
recomendável seu uso como fonte científica ou técnica de pesquisa. Os modelos de
documentos eletrônicos estão abaixo:

a) Exemplo de dissertação de mestrado com autor:
EHRENBERG, M. C. A dança como conhecimento a ser tratado pela Educação
Física Escolar: aproximação entre formação e atuação profissional. 2003.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2003. Disponível em:
<http://cutter.unicamp.br/document/?code=vtls000307217&opt=1>. Acesso em: 01
mar. 2011.

b) Exemplo de artigo de Revista:
GALLAHUE, D. L. A classificação das habilidades de movimento: um caso para
modelos multidimensionais. R. da Educação Física/UEM, Maringá, v. 13, n. 2, p.
105-111, 2002. Disponível em:
<http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/3707/2548>.
Acesso em: 03 fev.2011.

Ao optar pelo sistema numérico, as informações de obras consultadas
devem ser enumeradas na forma de notas. O número é colocado ao lado do
sobrenome do autor no texto. Na lista de referências, os documentos devem seguir a
mesma ordem em que aparecem no texto, com numeração em ordem crescente.

Como exemplo:
13. LUKESI, C.C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1999.
14. HOFFMANN, J. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré
escola à universidade. Porto Alegre: Mediação, 1998.

4) Os elementos complementares são aqueles que, acrescentados aos
essenciais, permitem uma melhor caracterização dos elementos referenciados:
indicações de responsabilidade (ilustrador, tradutor, revisor, adaptador, compilador
etc.), descrição física (nº de páginas ou volumes, ilustrações, dimensões, série
editorial ou coleção, notas e ISBN (International Standard Book Number).

a) Exemplo:
EASTERBY-SMITH,M; THORPE, R; LOWE, A . Pesquisa geral em administração:
um guia para monografias, dissertações, pesquisas internas e trabalhos em
consultorias. Tradução Nivaldo Montingelli Jr. São Paulo: Pioneira, 1999. 172p.
24cm. (Biblioteca Pioneira de Administração e Negócios). ISBN 85-221-0169-8.

3.3.2 Glossário
O glossário deve ser utilizado quando o texto apresentar termos técnicos de
difícil compreensão. Registra-se, então, a palavra seguida pelo seu significado.

3.3.3 Apêndice
O apêndice é produzido pelo próprio autor do TCC. Pode ser, por
exemplo, um questionário utilizado na pesquisa de campo, que tiver sido
desenvolvido para o estudo. No texto, o apêndice é indicado por letra e colocado
entre parênteses.

Ex.: APÊNDICE A – Questionário aos professores

3.3.4 Anexo
O anexo é desenvolvido por outros autores e deve ser indicado no texto
entre parênteses com a respectiva letra. O anexo também deve ter um título,
separado da letra por um travessão.

Ex.: ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

3.3.5 Índice
O índice é utilizado ao final do trabalho, com expressões que foram
utilizadas, ou temas da área e a página onde tais expressões apareceram no texto.
A norma NBR 6034:2005 estabelece os requisitos de apresentação e os critérios
básicos para a elaboração de índices. Essa Norma aplica-se, no que couber, aos
índices automatizados.

3.4 Regras gerais de formatação do TCC

3.4.1 Formato
O texto deve ser digitado na cor preta, podendo utilizar outras cores
somente para as ilustrações.

As margens devem ser: ESQUERDA e SUPERIOR de 3cm e DIREITA e
INFERIOR de 2cm.

A fonte é tamanho 12 para todo o trabalho, INCLUSIVE para a capa,
excetuando-se citações com mais de três linhas, notas de rodapé, paginação,
legendas e fontes das ilustrações e das tabelas, que devem ser em tamanho menor
e uniforme.

3.4.2 Espaçamento
Todo o texto deve ser digitado com espaçamento 1,5 entre linhas,
excetuando-se as citações de mais de três linhas, notas de rodapé, referências,
legendas das ilustrações e das tabelas, natureza (tipo do trabalho, objetivo nome da
instituição e área de concentração na folha de rosto) que devem ser digitados em
espaçamento simples.

3.4.3 Notas de rodapé
As notas devem ser devem ser digitadas dentro das margens, ficando
separadas do texto por um espaço simples de entre as linhas e por filete de 5cm, a
partir da margem esquerda. Devem ser alinhadas sem espaço entre as notas de
rodapé e com fonte menor que o texto.

3.4.4 Siglas
A sigla, quando mencionada pela primeira vez no texto, deve ser indicada
entre parênteses, precedida do nome completo.

ANEXO A – Modelo de Capa

FEFISA – FACULDADES INTEGRADAS DE SANTO ANDRÉ

Educação Física – Licenciatura

NOME DO (S) ALUNO (S)
(maiúsculo centralizado)

TÍTULO DO TRABALHO

Santo André
2014

4 cm
7 cm
17 cm
25,5 cm


ANEXO B – Modelo de Folha de Rosto

NOME DO (S) ALUNO (S)
(maiúsculo centralizado)

TÍTULO DO TRABALHO

Santo André
2014

Trabalho apresentado à banca
examinadora na forma de trabalho de
conclusão de curso como exigência
parcial para conclusão do curso de
Licenciatura em Educação Física da
Fefisa – Faculdades Integradas de Santo
André, sob orientação do Prof. Dr. (Nome)
5 cm
15 cm
19 cm
25,5 cm

ANEXO C – Modelo de Sumário
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 01
2 MARCO TEÓRICO (coloca-se aqui o primeiro capítulo do marco teórico) ....... 04
3 MARCO TEÓRICO (aqui o segundo capítulo e assim por diante) .................... 05
4 METODOLOGIA ................................................................................................ 06
4.1 Plano de Pesquisa ................................................................................... 06
4.2 Universo e Amostra .................................................................................. 07
4.3 Instrumentos ............................................................................................ 08
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS .......................................... 09
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 10
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 11
ANEXO A – Título do anexo ................................................................................. 12
APÊNDICE A – Título do apêndice ...................................................................... 13

ANEXO D – Modelo de Resumo

RESUMO
A presente pesquisa pretende levantar questões sobre o papel da Educação Física
no primeiro ciclo do ensino fundamental tendo como objetivo investigar as
possibilidades da cultura corporal de movimento se manifestar pelas diferentes
linguagens artísticas no contexto escolar enquanto prática educacional inserida no
processo de ensino-aprendizagem. Tendo como alicerce uma compreensão global
de ser humano e de seu desenvolvimento sob a perspectiva histórico-cultural
pretende-se mostrar a possibilidade de uma vivência singular através da
manifestação da cultura corporal de movimento em inter-relação com as linguagens
artísticas, algo que remeta ao atual contexto social e a organização educacional e
atenda à necessidade desse ser atuar como autor de sua experiência e co-autor do
contexto social inserido, por meio de relações múltiplas, com a preocupação focada
na intervenção da Educação Física escolar. Tal estudo configura-se como relevante
por ter como finalidade identificar as condições possíveis de relação entre a
dimensão artística e a dimensão corporal presente na Educação Física em geral. Os
seus procedimentos metodológicos adequam-se aos princípios de uma pesquisa
descritiva fazendo uso de observação sistemática das aulas de educação física,
educação artística, teatro e música. Os instrumentos de coleta de dados são
identificados como relatórios de observação dessas aulas. Com os resultados da
pesquisa, pretende-se apresentar uma proposta de ensino da Educação Física que
possa contemplar a relação entre a dimensão corporal e artística. A análise dos
resultados nos possibilitou constatar que é possível a cultura corporal de movimento
se manifestar mediada pelas aulas de teatro, música e educação artística que são
componentes da linguagem artística. Por meio dessa pesquisa constatou-se no
contexto da Educação Física escolar a relação mais evidente com as aulas de
teatro. Por fim conclui-se que no primeiro ciclo do ensino fundamental é possível
estabelecer relações por meio de uma prática educacional entre a cultura corporal
de movimento e as linguagens artísticas, desde que em um processo de ensinoaprendizagem
que apresente a preocupação com essa relação, por meio do
professor.

Palavras-Chave: Educação Física Escolar. Linguagens Artísticas. Cultura Corporal
de Movimento.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. M. de. Introdução à metodologia do trabalho científico:
elaboração de trabalhos na graduação. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
ALVARENGA, M. A. de F. P.; ROSA, M. V. de F. P. Apontamentos de metodologia
para a ciência e técnicas de redação científica. Porto Alegre, RS: Sérgio Antônio
Fabris, 1999.
BERNARDES, M. E. M.; JOVANOVIC, M. L. A produção de relatórios de
pesquisa: redação e normalização. Jundiaí, SP: Fontora, 2005.
CARDOSO, J. R. Fisioterapia baseada em evidências. In: FONTES, S.V.;
FUKUJIMA, M.M.; CARDEAL, J.O. Fisioterapia neurofuncional: Fundamentos para
a prática. São Paulo: Atheneu, 2007.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: Makron Books,
1996.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.
GONÇALVES, H. A. Normas para referências, citações e notas de rodapé da
Universidade Tiradentes. Aracaju: UNIT, 2003. 82p. il.
KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e
iniciação à pesquisa. 26. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
MANUAL DE ELABORAÇÃO DO TCC: curso de Nutrição. Santo André: FEFISA –
Faculdades Integradas de Santo André, 2008.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São
Paulo: Atlas, 2007.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991.
RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2007.
RUIZ, J. A. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 6. ed. 2. São
Paulo: Atlas, 2008.

Fonte: http://fefisa.com.br/home/images/stories/portal_pedagogico/pesquisa/manual_normas_tcc_2014.pdf/




terça-feira, 10 de março de 2015

Pênfigo

Pênfigo


penfigo vulgarO QUE É?

Pênfigo é uma doença autoimune rara que causa formação de bolhas na pele e nas mucosas (boca, nariz, garganta, olhos e órgãos genitais). Normalmente, o sistema imunológico produz anticorpos para atacar vírus e bactérias nocivos, mantendo-nos saudáveis. Em pessoas com pênfigo, no entanto, o sistema imunitário ataca células da epiderme e das mucosas.
O sistema imune produz anticorpos contra proteínas na pele, chamadas desmogleínas. Estas proteínas formam a cola, que mantém as células da pele agrupadas e a pele intacta. Quando desmogleínas são atacadas, as células da pele se separam umas das outras e o fluido que existe entre as células pode correr, formando bolhas que não cicatrizam.
Não se sabe o que desencadeia a doença, entretanto, há evidências de que algumas pessoas tenham predisposição genética para tal. Apesar disso, não há nenhuma indicação de que seja hereditária. Acredita-se, ainda, que agentes ambientais sejam os provocadores do pênfigo em pessoas geneticamente predispostas.
Em casos raros, a doença pode ser desencadeada por certos medicamentos. Nesses casos, a doença geralmente desaparece quando a medicação é interrompida. O Pênfigo não é uma doença contagiosa.
O pênfigo ocorre igualmente em homens e mulheres. Embora ocorra geralmente em adultos de meia-idade e idosos, todas as formas da doença podem aparecer em adultos, jovens e crianças. O que se observa é que algumas etnias são mais suscetíveis do que outras, como a comunidade judaica da Europa Oriental e as pessoas de ascendência mediterrânea. No Brasil, há um tipo particular de pênfigo que ocorre com maior frequência e em pessoas que vivem nas florestas tropicais.

SINTOMAS

O tipo de pênfigo que alguém pode desenvolver dependerá da camada na pele em quer se formarão as bolhas e onde elas estarão localizadas no corpo. As bolhas ocorrem perto da superfície da pele, na epiderme. Pessoas com pênfigo vulgar, por exemplo, tem bolhas que ocorrem dentro da camada inferior da epiderme, enquanto as pessoas com pênfigo foliáceo têm bolhas que se formam na camada superior. O tipo de anticorpo que ataca as células da pele podem também definir o tipo de doença presente.
  • PÊNFIGO VULGAR é o tipo mais comum, nos Estados Unidos. Bolhas suaves aparecerem na pele e mucosas. As feridas quase sempre começam na boca. As bolhas que se formam na camada profunda da epiderme e são mais dolorosas. A pele fica empolada e frágil, podendo descascar apenas esfregando o dedo sobre ela. As bolhas normalmente curam sem cicatriz, mas manchas pigmentadas podem permanecer por vários meses.
  • PÊNFIGO VEGETANTE é uma variante de pênfigo vulgar com feridas espessas na virilha e nas axilas.
  • PÊNFIGO FOLIÁCEO, tipo comum em áreas tropicais do Brasil, envolve feridas com crostas frágeis ou bolhas que frequentemente aparecem em primeiro lugar na face e couro cabeludo e, mais tarde, no tórax e outras partes do corpo. Ao contrário de pênfigo vulgar, bolhas não se formam na boca. As feridas são superficiais e coçam, raramente são dolorosas como bolhas de pênfigo vulgar.
  • PÊNFIGO IGA: Esta doença é diferente de outras formas de pênfigo, pois envolve um tipo diferente de anticorpo (denominado IgA), que ataca as células da superfície da epiderme. A doença pode resultar em bolhas ou pode envolver saliências contendo pus. Esta é a forma menos prejudicial.
  • PÊNFIGO PARANEOPLÁSICO: É uma doença rara, que ocorre em pessoas com certos tipos de câncer, incluindo alguns linfomas e leucemias. Muitas vezes, envolve úlceras graves na boca e nos lábios, cortes e cicatrizes do revestimento dos olhos e pálpebras, e bolhas na pele. Esta doença é diferente do pênfigo vulgar, e os anticorpos no sangue são diferentes. Testes especiais podem ser necessários para identificar o pênfigo paraneoplásico.
  • PENFIGÓIDES: Também é uma doença causada pela formação de bolhas autoimunes que resultaram de um ataque contra as células da pele por anticorpos da própria pessoa. Entretanto, a penfigóide produz uma divisão nas células entre a epiderme e a derme causando bolhas rígidas e profundas que não quebram facilmente. O Penfigóide é visto com mais frequência em idosos. Normalmente, tanto o pênfigo quanto o penfigóide são tratados com medicamentos semelhantes. Os casos graves podem necessitar de tratamento diferente.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de pênfigo tem várias etapas:
  • Um exame visual feito por um dermatologista. O médico irá perguntar o histórico dos sintomas e realizar um exame físico, observando a aparência e localização das bolhas.
  • Biópsia. Amostra de uma bolha é removida e examinada sob o microscópio. O médico irá procurar separação celular, que é característica de pênfigo, e também vai determinar a camada de pele na qual as células são separadas.
  • Imunofluorescência direta. Biópsia da pele é tratada em laboratório com um composto químico para encontrar os anticorpos anti-Desmogleína. Os tipos de anticorpos encontrados podem determinar o tipo da doença.
  • Imunofluorescência indireta. Irá testar o nível de anticorpos no sangue, determinando o tipo de pênfigo e a gravidade da doença. Uma vez que o tratamento começa, este exame de sangue também pode ser usado para descobrir se o tratamento está funcionando.
Pênfigo é uma doença que pode ser grave, por isso é importante fazer todos os testes para confirmar o diagnóstico. Por ser uma doença rara, o pênfigo é, muitas vezes, diagnóstico de exclusão. O diagnóstico precoce pode permitir o sucesso do tratamento apenas com baixos níveis de medicação, por isso consulte um médico se tiver bolhas persistentes na pele ou na boca. Na forma mais comum de pênfigo (pênfigo vulgar), a boca é, muitas vezes, o primeiro lugar que bolhas ou feridas aparecem.

TRATAMENTO

Pênfigo é uma doença rara da pele, por isso, os dermatologistas são os médicos mais bem equipados para diagnosticar e trata-la.
O tratamento para o pênfigo vulgar envolve o uso de corticosteróides orais em altas doses. Medicamentos anti-inflamatórios que suprimem o sistema imunitário. Muitos pacientes podem deixar de tomar os medicamentos após alguns anos de tratamento. Entretanto, outros terão de continuar a tomar pequenas doses de medicação para manter a doença sob controle.
Para manter os níveis mínimos de corticosteróides, imunossupressores são muitas vezes adicionados ao tratamento de um paciente. Estas são drogas podem abrandar a resposta do sistema imunológico, para que ele pare de atacar o corpo.
É preciso fazer acompanhamento médico regularmente para exames de sangue e urina, para se certificar que a doença está sendo controlada. Relatar quaisquer problemas ou efeitos colaterais também é importante. Alguns efeitos colaterais mais comuns dos corticosteróides são: cicatrização retardada, osteoporose, catarata, glaucoma, diabetes tipo 2, perda de massa muscular, úlceras pépticas, inchaço da face e parte superior das costas, retenção de água e sal.
As drogas imunossupressoras que são usadas para tratar o pênfigo também podem aumentar as chances de desenvolver infecções e pode causar anemia, inflamação do fígado, náuseas, vómitos, ou reações alérgicas.
O tratamento prescrito dependerá do tipo de pênfigo e da gravidade da doença. É imprescindível trabalhar colaborando com o médico para que o tratamento funcione. E se precisar ir a outros especialistas é importante dizer todos os medicamentos que já toma e informar sobre a doença, uma vez que os remédios para o tratamento do pênfigo são muito fortes e podem acabar reagindo com outros medicamentos.
Podem demorar meses ou anos para as úlceras e bolhas desaparecerem, pois os anticorpos permanecem no sangue por um longo tempo. Lesões na boca são lentas para curar. Bolhas na boca podem fazer com que a escovação dos dentes se torne dolorosa, deixando o indivíduo propenso a doenças da gengiva e perda dentária. Um dentista pode oferecer tratamentos a fim de manter dentes e gengivas saudáveis. Evitar alimentos condimentados, duros e ácidos também ajudam, uma vez que esses alimentos podem irritar ou provocar a formação de bolhas.

Fonte: http://www.sbd.org.br/doencas/penfigo/

sábado, 7 de março de 2015

A síndrome de Tourette

Tourette: por dentro da síndrome
Natália Isabel V. Loureiro1
Cecília Matheus-Guimarães1 
Dilvani Oliveira Santos
1

Roberto G. Ferreira Fabri2
Carlos Rangel Rodrigues3
Helena Carla Castro1


 
Laboratório de Bioquímica e Modelagem Molecular, LaBioMol do Departamento de Biologia Celular e Molecular, IB/CEG da Universidade Federal Fluminense.
Laboratório de Estudos Neuroanatômicos MMO/CCM da Universidade Federal Fluminense.
Laboratório de Modelagem Molecular e QSAR (ModMolQSAR) da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Endereço para correspondência:
Dra. Helena Carla Castro. Rua Outeiro São João Batista. Universidade Federal Fluminense. Departamento de Biologia Celular e Molecular, IB-/CEG, UFF – 24001-970 – Niterói – RJ. Tel: (21) 2629-2294; fax: (21) 2719-5934; e-mail: hcastrorangel@yahoo.com.br

 
 Resumo

 
A síndrome de Tourette (ST) é uma patologia de comprometimento psicossocial que acarreta alterações significativas na vida dos seus portadores e respectivos familiares. Este artigo aborda diversos aspectos relacionados a esta doença, incluindo etiologia, epidemiologia, aspectos neurobiológicos, quadro clínico, diagnóstico, patologias associadas e tratamento (clássico e alternativo). Neste trabalho, ainda comparamos a ST com outras doenças, envolvendo tiques e mencionamos as associações de apoio aos pacientes portadores de ST, que auxiliam no tratamento e na socialização do paciente afetado.

Palavras-chave: Síndrome de Tourette, tiques, AST, diagnóstico, patologia.

 
 Abstract

 
Tourette syndrome is a disorder associated with a variety of psycho- and social problems, which affects not only the patients but also their family life. The aim of this work is to review aspects involving etiology, epidemiology, neurobiology, symptomatology, diagnosis, and treatment (classic and alternative). We also compare the Tourette syndrome with others diseases involving tics and cite the organizations that help the patients and contribute to their treatment and socialization.

Key-words: Tourette syndrome, tics, TSA, diagnosis, pathology.

 
 Introdução

  
 
A síndrome de Tourette (ST) é uma patologia caracterizada pelo comprometimento psicológico e social dos acometidos, causando impacto na vida dos portadores e familiares (Hounie e Petribú, 1999). Ela é geralmente associada ainda a uma variedade de problemas comportamentais e emocionais (Singer e Minzer, 2003).

A primeira descrição de um paciente com tiques e comportamentos, que caracterizam a ST, ocorreu em 1825, pelo médico francês Jean Marc Gaspard Itard, que diagnosticou a maldição dos tiques na Marquesa de Dampierre (Itard, 1825). Entretanto, somente em 1884, esta patologia recebeu o nome de síndrome de Gilles de la Tourette (ST), quando o aluno Gilles de la Tourette, no Hospital de la Salpêtrière, relatou a patologia como um distúrbio caracterizado por tiques múltiplos, incluindo o uso involuntário ou inapropriado de palavras obscenas (coprolalia) e a repetição involuntária de um som, palavra ou frase de outrem (ecolalia), baseado nos relatos do próprio Itard (Gilles de la Tourette, 1885ab).

Nos últimos anos, a incidência de casos de ST vem crescendo em todo mundo, provavelmente, devido à maior disponibilidade de informações e conhecimento sobre esta doença pelas equipes de saúde que a diagnosticam (Hounie e Petribú, 1999).

O objetivo deste trabalho é abordar, de forma abrangente, diversos aspectos da ST, incluindo a sua definição, a etiologia, o quadro clínico, a epidemiologia, o diagnóstico e o tratamento, bem como, alguns de seus aspectos neurobiológicos e associações de apoio a portadores de ST.


 Metodologia



Este trabalho foi realizado utilizando como palavras-chaves: Tourette, síndrome, sintomas, tics, Gilles, neurotransmissores, neuro*, revisão e suas respectivas traduções, para a busca de artigos científicos em sites especializados como o National Center of Biothecnology Information/National Library of Medicine/National Institute of Health (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), o Science Direct do Elsevier (http://www.sciencedirect.com), o Scientific Eletronic Library Online (http://www.scielo.org/index. php? lang=em), o web of Science / Web of Knowledge (http://www.webofscience.com/). A pesquisa foi realizada de forma contínua por três meses e de forma descontínua por nove meses, durante a fase de produção do artigo. E as referências foram escolhidas com base na relevância e contribuição final, para que permitisse uma visão geral da patologia em questão.


 Epidemiologia



A ST, até pouco tempo, era considerada uma condição rara de índices de baixíssima incidência na população mundial (0,5/1000, em 1984) (Bruun, 1984). Entretanto, tem-se observado, atualmente, através de estudos de prevalência, o aumento de sua incidência nos últimos anos (Robertson e Stern, 1998; Hounie e Petribú, 1999; Robertson, 2003; Eapen et al., 2004).

Estudos atuais demonstram que a taxa de prevalência pode variar de 1% (Kadesjo e Gillberg, 2000) a 2,9% (Mason et al., 1998) em alguns grupos. Contudo, este dado deve ser subestimado, uma vez que depende, em parte, dos critérios e métodos utilizados e do tipo de estudo epidemiológico realizado (Robertson, 1989). Dados estatísticos internacionais mostram que esta síndrome é encontrada em vários países, independentemente de classe social ou de etnia, acometendo cerca de três a quatro vezes mais o sexo masculino, em relação ao sexo feminino (Robertson, 1989; Robertson, 1994; Arzimanoglou, 1998; Freeman et al., 2000; Robertson, 2000; Scahill et al., 2001).

Estudos mostram que a prevalência de ST é dez vezes maior em crianças e adolescentes (Burd et al., 1986), sendo que, quando tiques são considerados isoladamente, a freqüência aproximada varia de 1% a 13% nos meninos e 1% a 11% nas meninas (Leckman e Peterson, 1993). A razão para este aumento na detecção da incidência mundial da ST parece ser a melhoria na divulgação e no conhecimento das características clínicas da ST, entre os profissionais da área de saúde (Kushner, 1995; Hounie e Petribú, 1999).


 Definição, quadro clínico e diagnóstico.



A ST é um distúrbio genético, de natureza neuropsiquiátrica, caracterizado por fenômenos compulsivos, que, muitas vezes, resultam em uma série repentina de múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais, durante pelo menos um ano, tendo início antes dos 18 anos de idade (American Psychiatry Association, 1994; World Health Organization, 2000; Peterson, 2001; Pauls, 2003). Estes tiques podem ser classificados como motores e vocais, subdividindo-se, ainda, em simples e complexos. Geralmente, pacientes com ST apresentam, inicialmente, tiques simples, evoluindo para os mais complexos; entretanto, o quadro clínico pode variar de paciente para paciente (Leckman et al., 2001; Mercadante et al., 2004).
Os tiques motores classificam-se de acordo com o grupamento muscular envolvido. Os tiques motores simples caracterizam-se por movimentos abruptos, repetidos e sem propósito, envolvendo contrações de grupos musculares funcionalmente relacionados (por exemplo, piscar os olhos e movimentos de torção de nariz e boca). Os tiques motores complexos são mais lentos, envolvem grupos musculares não relacionados funcionalmente e parecem propositais (The Tourette Syndrome Classification Study Group, 1993; Hounie e Petribú, 1999). Os tiques motores complexos incluem imitação de gestos realizados por outrem, sejam eles comuns (ecocinese) ou obscenos (ecopraxia) e a realização de gestos obscenos (copropraxia) (Braunwald et al., 2002). São freqüentemente observados compulsões e gestos balizados, simétricos ou mesmo movimentos violentos com arremesso de objetos.
Os tiques vocais simples incluem, comumente, coçar a garganta e fungar, enquanto que os tiques vocais complexos compreendem o uso involuntário ou inapropriado de palavras chulas ou obscenas (coprolalia), repetição de palavras ou frases (palilalia) e repetição involuntária das frases de outrem (ecolalia) (Arzimanoglou, 1998; Hounie e Petribú, 1999). Observa-se, também, o uso repetido de palavras aleatórias, caracterizadas por sonoridade complexa ou exótica, arbitrariamente colocadas entre ou no meio das frases. É importante ressaltar que a simples presença do tique não caracteriza a ST, uma vez que, estudos comprovaram que, 10% das crianças, presentes na população em geral, apresentam tiques em algum momento. Todas as formas de tiques podem ser exacerbadas por estresse, sendo normalmente reduzidas durante o sono e em algumas atividades que exijam concentração (Arzimanoglou, 1998; Mercadante et al., 2004). Estudos sobre tiques mostram que estes têm início em torno dos 5 aos 10 anos de idade (Arzimanoglou, 1998) e tornam-se mais pronunciados na faixa etária de 10 e 13 anos (Leckman et al., 1998). Entretanto, cerca de 90% dos pacientes com ST apresentarão remissão e mais de 40% estarão livres dos tiques até o fim da adolescência (Arzimanoglou, 1998; Leckman et al., 1998; Burd et al., 2001).

Com base nesses dados, o diagnóstico da ST é realizado através da presença de sinais e sintomas característicos e pela história de surgimento desses sintomas. Não existe, atualmente, nenhum teste laboratorial específico que confirme o diagnóstico da ST. Contudo, exames complementares (EEG, tomografia ou análises sangüíneas) podem ser úteis no diagnóstico diferencial da ST, contribuindo para a exclusão de outros distúrbios que possuem sintomas semelhantes (Jankovic, 2001).

Devido ao fato de a ST não apresentar um sintoma único, mas um conjunto de sinais e sintomas, a dificuldade no diagnóstico é evidente, quando se compara esta patologia com outras relacionadas, como: doença de Wilson, doença de Huntington, coréia de Sydenham, doença de Hallervorden-Spatz e com alguns tiques simples e múltiplos (Tabela 1). Dependendo da equipe de saúde que atende o paciente afetado pela ST, o seu diagnóstico pode demorar muito, sendo os sintomas atribuídos comumente a algum transtorno psiquiátrico. Esses diagnósticos demorados e/ou errôneos podem submeter os pacientes a tratamentos desnecessários e dispendiosos, antes de se definir propriamente a patologia e o procedimento correto a ser realizado.

No entanto, algumas características peculiares e o quadro clínico do paciente auxiliam no diagnóstico conclusivo da ST, onde sintomas como: a presença de múltiplos tiques motores e vocais, com início antes dos 18 anos de idade, sem origem em nenhuma resposta fisiológica (por exemplo, uso de estimulantes), com ocorrências diárias, estendendo-se por mais de um ano e com comprometimento social, ocupacional e/ou emocional, tornam-se decisivos para a definição do quadro patológico (Braunwald et al., 2002).


 Etiologia, aspectos neurobiológicos e patologias associadas



Durante a última década, tem sido possível observar significativo progresso na investigação genética da etiologia da ST. Anormalidades cromossomiais em indivíduos e famílias portadoras da ST têm sido estudadas, no intuito de identificar genes como o gene A da monoamina-oxidase (MAOA) (Gade et al., 1998; Díaz-Anzaldúa et al., 2004a) e regiões cromossômicas como a 18q22 (Cuker et al., 2004), 17q25 (Paschou et al., 2004) e 7q31 (Díaz-Anzaldúa et al., 2004b), que parecem estar envolvidas nesta patologia (Brett et al., 1996; Kroisel et al,. 2001; Petek et al., 2001; Crawford et al., 2003; State et al., 2003, Merette et al., 2000; Simonic et al., 2001). Neste processo de identificação, evidências sugerem que a ST seja um distúrbio genético de caráter autossômico dominante, visto a freqüência de casos de tiques e manifestações obsessivo-compulsivas entre familiares desses pacientes, observada em estudos multicêntricos (Pauls et al., 1991; Eapen et al., 1993; Freeman et al., 2000; Robertson, 2000). Até o presente momento, não foi possível identificar um marcador genético de forma definitiva para a ST (Díaz-Anzaldúa et al., 2004a).

Com isso, outros fatores também têm sido associados à patogênese da ST, tais como, o possível papel de infecções estreptocócicas na patogênese dos tiques (Cardona e Orefici, 2001; Hoekstra et al., 2004). Em alguns casos, as reinfecções por Streptococcus estão diretamente associadas com a recorrência de sintomas neuropsiquiátricos (Swedo et al., 1993 e 1998). A detecção de auto-anticorpos que reagem com o tecido cerebral em pacientes com tiques e/ou distúrbios obsessivo-compulsivos (Kiessling et al., 1993) levou os pesquisadores do Instituto Nacional de Doenças Mentais (National Institute of Mental Health – NIMH) a formularem critérios clínicos para um subgrupo de crianças com distúrbios obsessivo-compulsivo ou ST, nas quais as exacerbações dos sintomas são bruscas, dramáticas e temporariamente relacionadas com infecções Streptococcus ß-hemolítico do grupo A. Esse quadro clínico gerou a denominação distúrbios neuropsiquiátricos pediátricos auto-imune associados com infecções estreptocócicas (Swedo et al., 1997 e 1998). Anticorpos dirigidos contra a glicoproteína de oligodendrócito da mielina (MOG) também têm sido implicados como possível fator auto-imune na patogênese da ST (Huang et al., 2004). Existem ainda possíveis indicações do envolvimento de infecções não-estreptocócicas na etiologia da ST, como a relação temporal entre infecções respiratórias virais e exacerbação de tiques (Hoekstra et al., 2004) e o aumento de receptores para o fragmento Fc da imunoglobulina IgM, em linfócitos B, em pacientes portadores de tiques (Hoekstra et al., 2001). Entretanto estudos ainda estão sendo realizados para determinar a relação direta entre estes quadros infecciosos e a ST.

Eventos pré ou pós-parto, onde a gravidade dos estressores durante a gestação tem sido analisada como fatores que poderiam contribuir para o desenvolvimento de distúrbios de tiques e para a patogênese da ST (Hyde et al., 1992; Leckman et al., 1990; Robertson, 2000; Leckman e Herman, 2002). A análise de segregação de famílias indica que a ST é herdada de acordo com o padrão autossômico dominante com penetrância variável, dependendo do sexo (Eapen et al., 1993). Com isto, em virtude da elevada incidência de ST e tiques no sexo masculino, investiga-se a exposição do sistema nervoso central a altos níveis de testosterona e/ou outros hormônios gênero-específicos, como fatores importantes no desenvolvimento desta patologia (Leckman e Peterson, 1993, Eapen et al., 1993).



O estudo de imagens neurológicas tem possibilitado melhor entendimento sobre a base neural da ST, bem como, de sua provável patogênese (Gerard e Peterson, 2003). Diversas evidências do envolvimento do circuito córtico-estriato-tálamo-cortical (CSTC) e seus sistemas de neurotransmissão, associados com as características clínicas e comorbidades presentes na ST, têm sido amplamente divulgadas na literatura (Lou et al., 1989; Peterson, 2001; Singer e Wendlandt, 2001; Singer e Minzer, 2003). A supressão de tiques de pacientes submetidos a leucotomias e talamotomias, pela interrupção do circuito CSTC, apontam para o envolvimento direto deste na ST, sendo este fato observado através da visualização funcional da ressonância magnética, da análise das medidas de área do corpo caloso e pelo metabolismo da glicose e fluxo sangüíneo nas áreas corticais (Rauch et al., 1995; Singer e Minzer, 2003). Apesar de questionável (Chemali et al., 2003), a análise comparativa de imagens funcionais de ressonância magnética da atividade na região do córtex sensóriomotor e na área motora suplementar, durante a realização de uma tarefa motora predeterminada, em um grupo de pacientes com ST e um grupo controle, demonstraram ativação de regiões similares em ambos os grupos, mas com um número e dispersão das áreas de ativação da região do córtex sensório-motor apresentando-se visivelmente maiores em pacientes com ST (Figura 1) (Biswal et al., 1998). Estes resultados sugerem que, em tais pacientes, exista uma ativação anormal no córtex sensório-motor e nas áreas motoras suplementares. A visualização funcional utilizando a ressonância magnética nuclear, na qual foram comparadas imagens adquiridas, tanto em períodos de supressão voluntária de tiques, quanto durante a expressão espontânea, mostrou o efeito da supressão dos tiques na mudança de sinais nas regiões cortical e subcortical do cérebro. Isso indica que a supressão voluntária de tiques envolve a ativação do córtex préfrontal e do núcleo caudado, desativação bilateral do putâmen e do globo pálido (Peterson et al., 1998). As mudanças de atividade cortical e subcortical observadas nesse estudo sugerem, ainda, que a patogênese dos tiques envolve atividade neuronal dentro de circuitos neuronais subcorticais, reforçando, assim, a provável importância do circuito CSTC na fisiologia dos tiques e de seu controle voluntário (Peterson et al., 1998). Os resultados envolvendo imagens de ressonância magnética, obtidas durante a expressão de tiques fônicos, também sugerem que o circuito CSTC contribui, dentre outras coisas, para a inibição comportamental do indivíduo, pela modulação de atividade com o gânglio de base e o tálamo (Singer, 1997; Peterson et al.,1999; Gates et al., 2004). Isso poderia justificar a ocorrência de tiques em pacientes com ST, nos quais a atividade inibitória das projeções GABAérgicas do estriato para o globo pálido estivesse comprometida. No caso do corpo estriato não inibir a ação dos neurônios glutaminérgicos encontrados no tálamo, projeções excitatórias seriam então enviadas do tálamo para o córtex. Pacientes com ST são considerados incapazes de inibir o estímulo secundário ao fenômeno sensório-premonitório, que resulta na ativação do circuito motor e no desenvolvimento dos comportamentos motores e fônicos (Peterson et al., 1999). Anormalidades nos volumes dos gânglios de base no corpo caloso também foram observadas em portadores com ST (Peterson et al., 1993; Singer et al., 1993). A participação de uma alça associativa, contendo dois subcircuitos originários no córtex pré-central, pré-motor, parietal posterior e órbito-frontal lateral, com projeções para a cabeça do núcleo caudado, globo pálido medial e núcleos talâmicos anteriores e dorso medial, tem sido recentemente sugerida. O comprometimento desses circuitos estaria associado, dentre outros sintomas, à falha em responder às convenções sociais, com o uso de gestos e expressões inadequadas, fatos comumente presentes nos transtornos obsessivo-compulsivos (TOC) e na ST (Bar-Gad et al., 2003; Groenewegen, 2003).

Estudos de tomografias de emissão têm revelado hipometabolismo e hipoperfusão em regiões do córtex frontal e temporal, no cíngulo, estriado e tálamo de pacientes com ST (George et al., 1992). Estes estudos de análise do metabolismo de glicose e do fluxo sangüíneo na região córtico-estriatal têm identificado anormalidades, principalmente envolvendo o gânglio de base e áreas corticais destes indivíduos. A observação de tomografia por emissão de pósitrons (PET) depois da injeção de [18F]2-fluoro-2-2desoxiglicose revelaram aumento bilateral simétrico ou diminuição da utilização da glicose dentro do gânglio de base e redução de atividade nos córtex frontal, cíngulo e insular (Baxter et al., 1990; Stoetter et al., 1992; Braun et al., 1995). Conjuntamente, estudos de fluxo sangüíneo cerebral, por tomografia de emissão de fóton (SPECT), têm identificado hipoperfusão do gânglio de base (Hall et al., 1991), sendo observada a redução do fluxo sangüíneo na região lenticular esquerda (Riddle et al., 1992; Moriarty et al., 1995). Estudos polissonográficos em pacientes com ST têm demonstrado, ainda, que estes apresentam distúrbios relacionados ao sono, apesar da tomografia cerebral computadorizada (TCC) geralmente apresentar-se sem anormalidades (Glaze et al., 1983; Robertson, 1989, Cohrs et al., 2001).

Do ponto de vista neuroquímico, diversas hipóteses sugerem o envolvimento do sistema dopaminérgico na patogênese da ST, visto que os neurolépticos, antagonistas da dopamina, são considerados efetivos no tratamento desta doença, por promover grande redução dos tiques (Singer et al., 1982; Golden, 1988; Shapiro et al., 1989; Singer, 1997). Por outro lado, os estimulantes como o metilfenidato, a cocaína, a pemolina e a L-dopa causam exarcebação dos tiques (Arzimanoglou, 1998). Com base nestes dados, a literatura sugere alguns mecanismos pelos quais o sistema dopaminérgico poderia estar envolvido, tais como, anormalidades na liberação de dopamina (Singer et al., 2002), hiperinervação dopaminérgica (Malison et al., 1995; Muller-Vahl et al., 2000) e a presença de receptores dopaminérgicos supersensíveis (Grice et al., 1996; Cruz et al., 1997; Díaz-Anzaldúa et al., 2004a) (Figura 1).

Anormalidades no reflexo de piscar os olhos presentes em pacientes com ST podem sugerir também aumento na atividade central dopaminérgica (Smith e Lees, 1989; Tulen et al., 1999; Raffaele et al., 2004). Além disso, um estudo recente, envolvendo análises pos-mortem de tecidos do córtex frontal e estriato, mostrou densidade elevada do receptor dopaminérgico D2 na região pré-frontal de pacientes com ST, o que reforça a importância do sistema dopaminérgico na patogênese da ST (Minzer et al., 2004).

O papel de outros neurotransmissores, tais como, acetilcolina, Gaba, sistema opióide endógeno, serotonina e norepinefrina (Brett et al., 1995; Comings, 1995; Comings et al., 1999; Hebebrand et al., 1997; Robertson, 2000; Eapen et al., 2001; Pauls, 2001; Eapen et al., 2004) vem sendo estudado, já que não se pode descartar o envolvimento de outros neurotransmissores dentro do circuito CSTC (Pauls, 2001). Devido ao fato de não se ter determinado, ainda, todos os fatores envolvidos no quadro neurológico anormal da ST, não se pode excluir a possibilidade da mesma ser uma síndrome multicausal.

Dentre as patologias associadas à ST, o transtorno de déficit de atenção, acompanhado da hiperatividade e de sintomas obsessivo-compulsivos, são descritos na maioria dos estudos relatados na literatura (21% a 90% e 50%, respectivamente) (Robertson e Yakely, 1996; Mercadante et al., 2004). Muitas das crianças afetadas pela ST e portadoras do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade podem apresentar também deficiências de aprendizagem (Arzimanoglou, 1998).


 Tratamento



Uma vez diagnosticada a ST em um indivíduo, aspectos diretamente relacionados aos sintomas, como a localização, freqüência, intensidade, complexidade e interferência na vida diária dos pacientes, devem ser cuidadosamente avaliados antes de se iniciar qualquer conduta terapêutica. O diagnóstico e tratamento precoces são essenciais, a fim de reduzir ou evitar possíveis conseqüências psicológicas para o paciente. A escolha do tipo de tratamento deve ser apropriada para cada portador da ST, podendo incluir abordagens farmacológica e a psicológica. Esta última, além do tratamento psicoterápico do paciente, orienta pais, familiares e pessoas próximas ao mesmo, sobre as características da doença e o modo de lidar com o indivíduo afetado (Hounie e Petribú, 1999; Mercadante et al., 2004).


A natureza intencional dos tiques permite uma abordagem terapêutica comportamental com o objetivo de reduzir sua freqüência através da interrupção da seqüência estímulo-resposta. A reversão de hábito temse mostrado eficaz para o tratamento dos tiques na ST (Wilhelm et al., 2003; Verdellen et al., 2004). Desse modo, um programa terapêutico multidisciplinar deve ser estabelecido, em colaboração com familiares e o paciente, visando o apoio psicológico e a reintegração social do mesmo (Arzimanoglou, 1998).

O uso de medicamentos ou outras técnicas podem trazer tanto benefícios quanto efeitos colaterais e, portanto, a abordagem farmacológica deve ser considerada somente quando os benefícios da intervenção forem superiores aos efeitos adversos. Além disso, fatores psicológicos e sociais podem influenciar na evolução da resposta terapêutica em pacientes com ST (Sandor, 2003).

Até o momento a ST não tem cura, sendo que o tratamento farmacológico é utilizado para o alívio e controle dos sintomas apresentados. O medicamento é administrado em pequenas doses, com aumentos graduais até que se atinja o máximo de supressão dos sintomas com o mínimo de efeitos colaterais. A posologia dos medicamentos varia para cada paciente, necessitando ser avaliada atentamente pelo médico (Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-compulsivo, 2004).

No grupo dos medicamentos utilizados no tratamento dos portadores de transtornos de tiques, encontram-se os antidepressivos tricíclicos, usados também no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade associados, onde é contra-indicado o uso de psicoestimulantes (Spencer et al., 1994). Estudos mostram que os antagonistas dos receptores dopaminérgicos reduzem a freqüência e a severidade dos tiques em cerca de 70% dos casos (Shapiro e Shapiro, 1998). Essas observações sugerem que o bloqueio dos receptores dopaminérgicos tipo 2 é o ponto central para a eficácia do tratamento (Scahill et al., 2000; Sandor, 2003) e por isso, os antagonistas dos receptores de dopamina são largamente utilizados (Hounie e Petribú, 1999).

O haloperidol, um neuroléptico com ação antagônica sobre os receptores dopaminérgicos, iniciou a era do tratamento farmacológico da ST, há cerca de 40 anos (Caprini, 1961; Seignot, 1961; Sandor, 2003). Este medicamento é utilizado inicialmente em pequenas doses (0,25 a 0,5 mg ao dia) com aumentos de 0,5 mg por semana até o máximo de 2 a 3 mg ao dia. A dose deve ser individualizada para cada paciente, havendo relatos entre 0,5 a 40 mg ao dia. Para o controle dos tiques, este medicamento é requerido em baixas doses na maioria dos pacientes com ST, como indicado por um recente estudo, no qual uma dose equivalente à cerca de 2 mg de haloperidol, por dia, atingia a saturação de cerca de 80% dos receptores dopaminérgicos tipo 2. Este nível de efeito seria essencial para a eficácia do tratamento e a diminuição dos tiques (Fitzgerald et al., 2000). O tratamento, entretanto, apresenta uma série de efeitos adversos, como sintomas extrapiramidais de características parkinsonianas, sedação, disforia, hiperfagia com ganho de peso e, o mais grave, discinesia tardia (Sallee et al., 1997; Hounie e Petribú, 1999).

A pimozida tem sido proposta como alternativa ao haloperidol, devido à eficácia comparável e menor ocorrência de efeitos adversos extrapiramidais. Por outro lado, este medicamento possui efeitos de maior gravidade, envolvendo o sistema cardiovascular, incluindo ainda sedação e disfunção cognitiva (Ross e Moldofsky, 1978; Shapiro et al., 1989). A pimozida vem sendo utilizada largamente para o tratamento de ST em doses que variam de 1 a 20 mg ao dia (Sallee et al., 1997; Hounie e Petribú, 1999). Embora raro em baixas doses, o uso prolongado de pimozida pode causar o prolongamento da onda QT (Fulop et al., 1987), e portanto, recomenda-se realizar o exame eletrocardiográfico (ECG), durante a terapia de manutenção (Scahill et al., 2000).

Na prática clínica, existe uma forte tendência a substituir os chamados antagonistas típicos de receptores dopaminérgicos, tais como, haloperidol e pimozida, pelos antagonistas atípicos (risperidona, olanzapina e, em menor extensão, quetiapina) (Van der Linden et al., 1994; Brunn e Budman, 1996; Sandor, 2003) ou por agonistas dos receptores alfa-2-adrenérgicos como a clonidina e a guanfacina (Gaffney et al., 2002). Os antagonistas atípicos oferecem poucos efeitos adversos e vêm substituindo, gradualmente, o haloperidol e a pimozida, como suporte principal no tratamento dos tiques (Sandor, 2003).

Novas opções de tratamento parecem incluir a risperidona, um neuroléptico atípico com potentes propriedades antagonistas D2 e 5-HT2. A propriedade antagonista 5-HT2 parece conferir proteção contra efeitos colaterais extrapiramidais, talvez diminuindo a incidência de discenesia tardia (Scahill et al., 2000). Os efeitos adversos do uso da risperidona são a sedação, aumento de apetite e elevação dos níveis de prolactina. Embora sintomas extrapiramidais sejam eventualmente observados, esses são muito menos freqüentes do que com o uso de haloperidol ou pimozida. Disforia e depressão podem ocorrer em indivíduos predispostos durante o tratamento com risperidona (Margolese et al., 2002). Alguns estudos indicam efeito terapêutico da quetiapina no tratamento de tiques, sendo requerida em altas doses (200 a 500 mg ao dia), entretanto, pode provocar o aumento de peso corporal do paciente (Chanob et al., 2001).

A olanzapina surge como uma droga eficaz no tratamento da ST. Estudos mais recentes mostram que 50% dos pacientes, em uso de olanzapina por oito semanas, apresentaram redução global dos tiques graves e 75% apresentaram melhora parcial do quadro, bem como, de sintomas agressivos presentes na síndrome, sem efeitos colaterais significativos, se comparados com os apresentados no uso dos neurolépticos típicos (Budman et al., 2001; Stamenkovic et al., 2000; Stephens et al., 2004).

Moléculas que mimetizam agonistas alfa-adrenérgicos, como a clonidina e a guanfacina, também podem ser utilizadas no tratamento da ST, apresentando resultados positivos em estudos controle (Peterson et al., 1999). A clonidina é uma droga não-neuroléptica que tem sido usada no tratamento da ST desde a década de 1970 (Cohen et al., 1979). Ela age como um agonista pré-sináptico dos receptores alfa-2, deprimindo o sistema noradrenérgico e promovendo a redução e a freqüência dos tiques (Scahill et al., 2000; Tourette’s Syndrome Study Group, 2002; Sandor, 2003). Por ser um agente anti-hipertensivo, sua administração deve ser acompanhada de monitoramento da pressão arterial. A suspensão abrupta do medicamento tem sido associada a efeito rebote, nos valores de pressão arterial (Leckman et al., 1986). Um estudo comparativo entre o uso da clonidina e da risperidona em crianças e adolescentes, portadores da ST, mostrou equivalência terapêutica entre as duas substâncias reduzindo, respectivamente em 26% e 36% os tiques e em 33% e 66% os sintomas obsessivocompulsivos (Gaffney et al., 2002).

Outro agonista seletivo para o receptor alfa-2 é a guanfacina que tem sido sugerida como substituta à clonidina no tratamento da ST (Sandor, 2003; Mercadante et al., 2004). Esta troca pode trazer benefícios, principalmente quando o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade fazem parte do quadro apresentado pelo paciente (Chappell et al., 1995; Scahill et al., 2001).

Outras drogas tais como a nicotina, tetrabenazina e benzodiazepina também são atualmente empregadas em tratamentos alternativos da ST, bem como, a injeção de toxina botulínica, que pode ser uma boa opção terapêutica para o tratamento de tiques motores e em alguns casos para tiques vocais (Sweet et al., 1974; Jankovic e Orman, 1988; Marras et al., 2001; Silver et al., 2001; Mercadante et al., 2004).

Finalmente, resultados positivos foram verificados com o uso da tiaprida, da sulpirida e da amisulprida (Fountoulakis et al., 2004), com melhoras substanciais dos sintomas. A primeira mostrou-se eficaz no controle dos tiques em crianças, com a vantagem de não produzir efeitos discinéticos marcantes (Eggers et al., 1988).


 Apoio aos pacientes portadores de ST e a pesquisas na área



A Associação da Síndrome de Tourette é uma entidade norte-americana, fundada na década de 1970, que reúne pacientes com ST e seus familiares. Esta associação desenvolve materiais educacionais destinados a professores e se dedica ao desenvolvimento de pesquisas e divulgação científica sobre ST, financia pesquisas, promove congressos e reúne os maiores pesquisadores mundiais da área. Além disso, mobiliza milhões de dólares por ano para pesquisas e tratamento da ST (Wertheim, 1981; Tourette Syndrome Association , 2004).

Em 1996, foi criada no Brasil a Associação de Pacientes com Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-compulsivo (ASTOC), que tem como objetivos divulgar e informar médicos e pacientes sobre a patologia, arrecadar doações para a formação de um fundo de pesquisa, que atenda às necessidades e interesses dos portadores da síndrome, incluindo a área de socialização dos pacientes, que é amplamente assistida pela associação.

A ASTOC, localizada em São Paulo, já tem núcleos em formação em outros estados do país (Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-compulsivo, 2004).


 Conclusão



Um bom exemplo do quanto a ST atinge os seus portadores é o depoimento de um paciente por ela acometido: “...Ter a Tourette é uma loucura, é como estar bêbado o tempo todo. Estar sob o efeito do haloperidol é monótono, faz a gente ficar sóbrio e quadrado, e nenhum dos dois estados é realmente livre. Vocês, ‘normais’, que têm os transmissores certos nos lugares certos, nas horas certas, em seus cérebros, têm todos os sentimentos, todos os estilos disponíveis o tempo todo – seriedade, leviandade, o que for adequado. Nós que temos a Tourette, não, somos forçados à leviandade pela síndrome e forçados à seriedade quando tomamos o remédio. Vocês são livres, têm um equilíbrio natural: nós temos de nos contentar com um equilíbrio artificial...” O relato deste paciente, enquadrado no terceiro grupo da ST e atualmente assistido pelo neurologista Oliver Sacks, é um exemplo do quanto esta síndrome complexa compromete a vida de seu portador (Sacks, 1985). Este paciente tem sua vida controlada, não só pelo medicamento, mas também pela síndrome, cujo mecanismo e tratamento ainda não estão amplamente conhecidos. Ainda é necessária uma melhor compreensão dos aspectos biológicos, genéticos e comportamentais da ST, incluindo sua vasta divulgação na sociedade em geral, e não somente na comunidade médica, de forma a facilitar o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico de pacientes com ST (Pauls, 2003; Eapen et al., 2004).


 Agradecimentos



Agradecimentos ao Professor Roberto Paes de Carvalho, do Programa de Neuroimunologia da Universidade Federal Fluminense e aos professores Walter Pinheiro Machado e Ana Beatriz Monteiro do Laboratório de Neurofisiologia do Comportamento, pelo auxílio e sugestões; e aos órgãos CNPq, CAPES, FUJB, FAPERJ e UFF pelos apoios financeiros.


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Fonte: http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol32/n4/218.html