quarta-feira, 23 de julho de 2014

GASOMETRIA

GASOMETRIA


A avaliação do estado ácido-básico do sangue é feita na grande maioria dos doentes que são atendidos em UTI, qualquer que seja a doença de base; essa avaliação é fundamental, pois, além dos desvios do equilíbrio ácido-base (EAB) propriamente dito, pode fornecer dados sobre a função respiratória e sobre as condições de perfusão tecidual.
O diagnóstico das alterações do EAB é feito pela análise dos valores obtidos pela gasometria sangüínea.
Definição: A gasometria consiste na leitura do pH e das pressões parciais de O2 e CO2 em uma amostra de sangue. A leitura é obtida pela comparação desses parâmetros na amostra com os padrões internos do gasômetro.
Escolha da amostra: Essa amostra pode ser de sangue arterial ou venoso, porém é importante saber qual a natureza da amostra para uma interpretação correta dos resultados.
  • Para avaliação da performance pulmonar, deve ser sempre obtido sangue arterial, pois esta amostra informará a respeito da hematose e permitirá o cálculo do conteúdo de oxigênio que está sendo oferecido aos tecidos.
  • No entanto, se o objetivo for avaliar apenas a parte metabólica, isso pode ser feito através de uma gasometria venosa.
Como é realizado o exame: O exame é realizado por meio da coleta de uma amostra de sangue de uma artéria ou veia. Utilizando uma agulha pequena, a amostra pode ser coletada da artéria radial no punho, da artéria femoral na virilha ou da artéria braquial no braço.
Artéria Radial
Como se preparar para o exame: Não é necessária nenhuma preparação especial. Se a pessoa que vai se submeter ao exame estiver recebendo oxigênio, a concentração deste deve permanecer constante durante 20 minutos antes da realização do procedimento. Se o exame for realizado sem a administração de oxigênio, este deve ser desligado 20 minutos antes da coleta da amostra a fim de que se possa garantir resultados precisos para o exame.
É realizado a “Prova de Allen”.
  • Objetivo: Verificar a permeabilidade do arco palmar e seu enchimento pela artéria ulnar.
  • Método: Compressão das artérias radial e ulnar junto ao punho, orientando-se o paciente para abrir e fechar a mão cinco vezes, em média, observando-se a mudança de sua coloração, para palidez.
Material: seringa heparinizada 3 a 5 ml; agulha hipodérmica de pequeno calibre (22 a 25g); anti-séptico local.
Técnica:
  • Palpação e localização do pulso radial junto ao punho e próximo ao processo estilóide do radio;
  • Antisepsia do local;
  • Introduzir o bisel voltado para cima, num ângulo de 60 a 90° em relação à artéria radial, aprofundando a agulha até que haja fluxo fácil de sangue na seringa;
  • Compressão do local por 5 a 10minutos.
O que se sente durante o exame: Uma agulha será introduzida na artéria através da pele. Pode haver uma ligeira cãibra ou latejamento no local da punção.
Parâmetros e valores normais
* Gasometria Arterial: retirado do sangue arterial (portanto rico em O2); exame indicado aos portadores de doenças pulmonares e cardiológicas, auxilia no diagnóstico de acidoses e alcaloses metabólicas e sistêmicas, tendo indicação aos pacientes com problemas crônicos e agudos respiratórios, pacientes com problemas crônicos e agudos cardiológicos e também aos pacientes nefropatas (doentes renais).
Parâmetros
Valor de referência
pH
7,35 a 7,45
PaCO2
35 a 45 mmHg
PaO2
80 a 100 mmHg
HCO3
21 a 28 mEq/L
BE
-2 a + 2 mEq/L
SaO2 (saturação de oxigênio)
95 a 100%
  • pH : Alteração sugere desequilíbrio no sistema respiratório ou metabólico.Um pH normal não indica necessariamente a ausência de um distúrbio ácido-básico, dependendo do grau de compensação. O desequilíbrio ácido-básico é atribuído a distúrbios ou do sistema respiratório (PaCO2) ou metabólico.
  • PaO2: Pressão parcial de oxigênio no sangue; exprime a eficácia das trocas de oxigênio entre os alvéolos e os capilares pulmonares.
  • PaCO2: A pressão parcial de CO2 do sangue arterial exprime a eficácia da ventilação alveolar. Se a PaCO2 estiver menor que 35 mmHg, o paciente está hiperventilando, e se o pH estiver maior que 7,45, ele está emAlcalose Respiratória. Se a PCO2 estiver maior que 45 mmHg, o paciente está hipoventilando, e se o pH estiver menor que 7,35, ele está em Acidose Respiratória.
  • HCO3: Quantidade de bicarbonato encontrado no sangue arterial. As alterações na concentração de bicarbonato no plasma podem desencadear desequilíbrios ácido-básicos por distúrbios metabólicos. Se o HCO3 estiver maior que 28 mEq/L com desvio do pH > 7,45, o paciente está em Alcalose Metabólica. Se o HCO3 estiver menor que 22 mEq/L com desvio do pH < 7,35, o paciente está em Acidose Metabólica.
  • BE (Base excess): Sinaliza o excesso ou déficit de bases dissolvidas no plasma sanguíneo.
  • SaO2 (%): Conteúdo de oxigênio / Capacidade de oxigênio; corresponde à relação entre o conteúdo de oxigênio e a capacidade de oxigênio, expressa em percentual.
Alterações gasométricas
Acidose Respiratória
Alcalose Respiratória
Acidose Metabólica
Alcalose Metabólica
Acidose Mista
Alcalose Mista
↓ pH
↑ pH
↓ pH
↑ pH
↓ pH
↑ pH
Retenção de CO2
↓ de CO2
Bicarbonato (HCO3) baixo
Excesso de Bicarbonato
↑ PaCO2
↓ PaCO2
Hipoventilação Pulmonar
Hiperventilação Pulmonar
Reserva de bases diminuída
Reservas de base aumentada
↓ HCO3
↑ HCO3
Estímulo do centro respiratório
Freqüência respiratória elevada
-
-
-
-
Exemplos: obstrução das VA; atelectasia; pneumonia; VM inadequada; SARA; fibrose
Exemplos: dor; hipoxemia; VM inadequada; ansiedade; lesão SNC
Exemplos: administração excessiva de aspirina; insuficiência renal; parada cardio respiratória
Exemplos: administração excessiva de HCO3; perda do ácido clorídrico; uso excessivo de diuréticos
Exemplos: insuficiência respiratória; fadiga muscular; ↑ produção do ácido lático
Exemplos: hiperventilação em VMI; perda do suco gástrico por vômito
Compensação: após 12 a 48 hs ↓ eliminação renal de HCO3
Compensação: ↑ eliminação renal de HCO3
Compensação: hiperventilação
Compensação: depressão respiratória é incomum
-
-
-
-
Regra Prática
  • pH: acidose ↓ 7,35 normal 7,45 ↑ alcalose
  • PaCO2: alcalose ↓ 35 normal 45 ↑ acidose
  • HCO3: acidose ↓ 22 normal 28 ↑ alcalose
* Gasometria venosa: retirado do sangue venoso (portanto pobre em O2); exame indicado aos portadores de doenças renais (nefropatas) útil na identificação de problemas do mecanismo de tampão ácido-básico, presente em doentes renais. Os valores normais do pH e dos gases do sangue referidos no exame dos principais distúrbios do equilíbrio ácido-base, referem-se ao sangue arterial, já oxigenado e modificado nos pulmões ou nos oxigenadores. O sangue venoso, que conduz os restos metabólicos celulares, coletados no sistema capilar, tem valores diferentes, e não menos importantes.
A análise do sangue venoso normal, deve mostrar os seguintes resultados:
Parâmetros
Valor de referência
pH
7,27 a 7,39
PaCO2
40 a 50 mmHg
PaO2
35 a 40 mmHg
HCO3
22 a 26 mEq/l
BE
2,5
SO2 (saturação de oxigênio)
70 a 75
Duas informações práticas podem ser obtidas pela análise da gasometria venosa:
  • A PaO2 venosa quando comparada com a PaO2 arterial dá uma idéia do débito cardíaco (diferença arteriovenosa grande com a PaO2 venosa baixa significa baixo débito, com os tecidos extraindo muito o oxigênio da hemoglobina pelo fluxo lento, sendo esta uma situação ainda favorável para se tentar a reversão de um estado de choque).
  • A diferença arteriovenosa pequena com progressivo aumento da PaO2 venosa indica um "shunt" sistêmico, isto é, um agravamento das trocas teciduais. Portanto, o principal dado fornecido pela gasometria venosa é a PaO2.
As alterações que ocorrem no sangue venoso, durante a perfusão, independem da função do oxigenador. O sangue venoso reflete o estado do paciente. Disso decorre a importância da sua monitorização. As alterações do sangue venoso nos informam sobre a adequácia do fluxo sanguíneo e sobre o estado do consumo de oxigênio pelo paciente. A gasometria venosa reflete a adequácia da perfusão, através do pH, PaCO2, PaO2 e a saturação de oxigênio (SaO2). Devemos lembrar o fenômeno denominado paradoxo arterio-venoso que pode ser bem apreciado no exemplo abaixo, em que às amostras foram coletadas no mesmo momento:
  • Gasometria arterial: pH=7,50 PaCO2=30 mmHg
  • Gasometria venosa: pH=7,30 PaCO2=50 mmHg
O sangue arterial reflete uma alcalose respiratória, enquanto o sangue venoso reflete uma acidose respiratória. Nesse caso do exemplo a saturação do sangue venoso estava satisfatória (< 75%). Este paradoxo ocorre em virtude de inadequada perfusão tissular. O resultado é o somatório de um pequeno aumento da produção de CO2 com a diminuição da remoção do CO2 produzido. Esses dois fatores em conjunto elevam a pressão parcial do CO2 (PaCO2) no sangue venoso. Essa alteração é corrigida pelo aumento do fluxo da perfusão. Se a situação for ignorada (quando não se monitoriza a gasometria venosa) há produção de lactato que acrescenta um componente metabólico à acidose existente. Se a produção de lactato é intensa, pode haver dificuldade para retirar o paciente de perfusão.
Para saber se os tecidos do paciente estão adequadamente oxigenados e perfundidos é feito uma gasometria venosa.
Em um oxigenador, os mecanismos de transporte, difusão e trocas do CO2, são sempre mais simples e rápidos que os do oxigênio, no pulmão e nos oxigenadores. Desse modo, em qualquer oxigenador, a avaliação das trocas gasosas pode ser feita apenas em relação ao oxigênio. Se esta estiver adequada, as trocas de dióxido de carbono, certamente também estarão.
A capacidade de transferir oxigênio de um oxigenador pode ser medida. Esta determinação constitui um importante parâmetro na avaliação do oxigenador. O cálculo é baseado na diferença artério-venosa de oxigênio. A fórmula para o cálculo é:
Transferência de O2 = (SaO2 - SvO2) (1,34 x Hb) x fluxo (l/min)
Esta fórmula consiste na diferença entre a capacidade de oxigênio do sangue arterial e venoso, multiplicada pelo fluxo de sangue.
Como a saturação de oxigênio do sangue arterial normal é 99-100% e a saturação do sangue venoso normal, durante a perfusão é de 70-75%, podemos usar a fórmula acima para calcular o fluxo de sangue necessário para transportar e liberar nos tecidos a quantidade adequada de oxigênio.
* Gasometria mista: excesso de CO2 e bicarbonato.
* Gasometria compensada: pH normal, o rim compensa, dá o seu equilíbrio.
* Cálculo da fração inspirada de oxigênio (FiO2) (para calcular a Fio2 ofertada): L x 4 = + 21%
Exemplo: 2 L x 4 = 8 + 21% = 29
* Cálculo da PaO2 ideal: 109 – (idade x 0,4)
Exemplo: 109 – (85 x 0,4) =
109 – 34 = 75 mm Hg
Normal\; 80 a 100
  • Se estiver com menos: hipoxia (↑ oxigênio).
  • Se estiver com mais: ↓ oxigênio.
Referências Bibliográficas:
  • PRESTO, B. L. V.; PRESTO, L. D. N.. Fisioterapia Respiratória: Uma nova visão. Ed.Bruno Presto – Rio de Janeiro 2003.
  • Alterações do equilíbrio ácido base - Vol I – 323; 324 – Fundamentos da circulação extra corpórea.
  • VIEGAS, C.A.; Gasometria arterial; J Pneumol 28(Supl 3) – outubro de 2002.
  • MOTA, I.L., Distúrbios do equilíbrio ácido básico e gasometria arterial: uma revisão crítica; fev/2010.
  • SILVA, A.C.S.; Interpretação e quando intervir; 25/02/2009.
  • PRB Évora; CL Reis; MA Ferez; DA Conte & LV Garcia; DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO E DO EQUILÍBRIO ACIDOBÁSICO: UMA REVISÃO PRÁTICA; Medicina, Ribeirão Preto, 32: 451-469, out./dez. 1999.
  • Évora PRB, Garcia LV. Equilíbrio ácido-base. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11.
Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAplsAF/gasometria




Nenhum comentário:

Postar um comentário